Como uma fênix

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Eu estava sentada com Jake em minha cama. Estávamos rindo e ele ia me mostrar algo. Algo bom, disse ele. De repente aparecia um monstro e quebrava seu pescoço. Meu quarto virava um mar de sangue e minha garganta se abria. Eu via tudo ficar escuro, só podia ouvir meu soluço e me perdia no esquecimento.

Aquele pesadelo não parava de se repetir. As pessoas dizem que quando você está morrendo toda uma vida passa diante seus olhos. Os momentos mais felizes, eles dizem. Aqueles não eram meus momentos mais felizes. A todo momento meu coração se partia, eu sentia meu corpo queimar e me sentia afundando na escuridão. Em minha cabeça ecoavam vozes que diziam que estava tudo acabado, minha alma estava perdida e não tinha por que viver. Meu coração doía e eu podia ouvi-lo bater durante minutos até que ele parava e tudo ficava em silêncio. Aquilo tudo já durava uma eternidade, quem sabe mais. Quem sabe minha alma foi parar no inferno. Não me lembro de ter sido tão ruim em minha vida para não merecer o céu. Será que Jake estava no céu? Será que meus pais estavam no céu?

Bom, se esse era o inferno ao menos eu sabia que eles estavam em um lugar melhor. Eu espero.

Abri meus olhos.

Num desespero meus pulmões buscavam oxigênio e meu corpo queimava. Minha boca estava seca e eu sentia dor como se cada osso do meu corpo tivesse sido quebrado e esmagado. Eu gritava de dor e dessa vez podia escutar. Meus olhos vagavam a procura de algo, alguém, qualquer coisa. Meu corpo tremia e tinha espasmos o tempo todo. Minha garganta parecia cortar a cada rajada de ar. Minha garganta. Passei a mão em meu pescoço. Nada. Nem um arranhão. Minha perna também, estava intacta e inteira novamente. "Eu estou morta, eu estou morta...", não parava de repetir em minha cabeça. Olhei ao redor. Eu estava deitada em uma cama, minhas roupas estavam manchadas de sangue e um pouco rasgadas. Era um quarto razoável, aparentemente um quarto de algum hotel. Minha cabeça queria explodir e meu corpo parecia estar em migalhas. Não consegui me mover muito bem. Mais uma vez minha garganta doía, mas agora era diferente. Sede. Muita sede. Umedeci os lábios, mas a sede era constante e voraz. Havia um copo de água no criado-mudo ao lado da cama, bebi rapidamente, mas não resolveu. Minha cabeça não parava de doer e eu começava a sentir que meu corpo estava preparado para destruir tudo. Uma energia corria em minhas veias, mas ao mesmo tempo eu podia sentir a fraqueza em meus ossos. Eu só podia estar no inferno e esse era meu apartamento no hotel do diabo.


Duas vozes brigavam na porta do quarto. Um homem e uma mulher. Não, dois homens. Eles pareciam se aproximar para entrar. Peguei o copo e quebrei no criado mudo. Se eu fosse lutar já estava preparada. Desci da cama e fiquei próxima à porta posicionada para atacar qualquer um que entrasse. Os dois homens abriram a porta e ficaram me encarando com uma expressão de riso e dúvida.


— Sua bela adormecida está armada, Jason. — riu o homem com voz aguda. Ele tinha cabelos escuros quase que azulados, seu topete se armava em um corte degradê. Talvez medisse um metro e sessenta, mas isso não tirava a intimidação que seus músculos transmitiam.

Era forte, mal-encarado e baixinho.

— Cuidado com isso, mocinha. — disse seu parceiro indo em minha direção e me desarmando sem que eu pudesse perceber.

Ele se movimentou rápido demais para que meus olhos pudessem acompanhar e parou sentado na cama brincando com o caco de vidro. Esse era diferente. Sua voz não era aguda e sim firme. Magro e com alguns músculos nos braços. Vestia uma camisa com mangas rasgadas que deixava à mostra os poucos músculos dos braços. Era alto, muito mais alto que o baixinho, seu cabelo se prendia em um coque no alto da cabeça e seus olhos eram maliciosos. Seus olhos. O direito era verde, o esquerdo era azul. Achei aquilo curioso e interessante.

PrisonersWhere stories live. Discover now