Capítulo 7

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Mayara
- então me deixe tocá-la - ele falou no meu ouvido.

resisti ao arrepio evitando que ele notasse a sensação que tinha me causado.

- você tenta mandar em mim, faz tudo errado, mesmo quando eu peço que faça o certo - eu falei baixo

- não sou perfeito e ainda vou errar muito tentando aprender - ele disse levando os lábios até meu pescoço.

- Eric - chamei seu nome reprimindo um gemido - saia

- é o que quer? - ele perguntou quase num sussurro

- não, mas é o que deve ser feito - eu respondi e me desvencilhei de seus braços - vá

ele deu uma última olhada no meu rosto e desceu pelo meu corpo, deu de costas e saiu do banheiro me deixando sozinha.

ouvi a porta que separava os dois quartos bater e soube que ele tinha saído.

soltei um suspiro e entrei debaixo da água gelada.

ele não sabe como é difícil ficar longe de tudo, não sabe como é doloroso saber que estou presa, mesmo que meu interesse por ele oscile toda vez.

um sentimento de culpa subiu pelo meu peito, mas não deixei me abalar por isso, terminei o banho e me enrolei na toalha. quando sai do banheiro duas malas estavam posicionadas ao lado da porta que ligava nossos quartos, peguei uma e a coloquei em cima da cama, abri e cacei um baby doll ou até uma camisola, olhei a hora no relógio ao lado da cama e vi que já estava anoitecendo, mesmo com o fuso horário diferente do Brasil, as janelas já entregavam tudo, o céu em tons laranja, rosa e azul escuro.

optei por não vestir uma camisola, mas estava pronta em minutos, cada roupa linda ali dentro que eu ficava perdida.

batidas soaram na minha porta e eu murmurei um "entra" antes de Eric aparecer ali.

- quer jantar? - ele pergunta

- sim - respondi

- vista um casaco, está frio - ele avisou e me observou colocar o casaco e a bota.

sai do quarto vendo ele fechar a porta atrás de nós, ele se aproximou e quase não me olhou nos olhos.

- está tudo bem? - perguntei.

- sim - ele respondeu, breve.

ele caminhou ao meu lado, entramos no elevador e descemos até o térreo.

- vamos jantar em um restaurante aqui perto, da para ir andando, se quiser conhecer a cidade, a hora é agora - ele falou

- podemos passear? - perguntei

- podemos, só não demorar muito - ele respondeu e eu concordei

- tudo bem, mas estou com fome - eu falei

- nós vamos jantar em breve, venha - ele me guiou pelas ruas e teve que segurar minha mão pra eu não me perder.

depois de ler o nome das ruas, soube que nosso hotel ficava na Gran Vía, a avenida principal de Madrid.

paramos em um restaurante aconchegante com decorações coloridas e uma música era cantada baixo por uma banda pequena em cima de um palco improvisado, pegamos uma mesa distante da entrada, com uma janela que fazia com que as luzes do lado de fora parecessem estrelas nos iluminando.

uma atendente nos entregou dois cardápios, um pra cada, eu não sabia ler metade daquilo, não a parte em espanhol, entendia pouco, eu era mais do inglês.

- escolheu? - ele perguntou fechando o cardápio e o apoiando na mesa.

- sim, quero essa Tortilla com filé, fiquei com água na boca - eu respondi namorando a foto do prato no cardápio.

- pediremos a mesma coisa - ele falou e chamou a atendente até nós.

seu espanhol era impecável e me perguntei como - ou com quem - ele tinha aprendido.

ela sorriu ao anotar e saiu. Eric me encarou, mas eu não queria encarar ele de volta, sabia que tínhamos que conversar.

- pode parar de me encarar? - pedi e ele balançou a cabeça como se tivesse saindo de um transe.

- desculpe, podemos conversar? - ele perguntou

soltei um suspiro baixo desviando meu olhar do dele.

- claro, sobre o que? - perguntei.

- hoje mais cedo, você acha mesmo que eu só faço errado? - ele perguntou

- é o que você mostra fazer toda vez - eu respondi

- não sou bom com isso - ele falou abaixando o olhar - nunca tive alguém.

meu queixo foi ao chão, mas me recuperei rápido antes que ele reparasse.

- nunca? - a pergunta tinha saído mais pra ele do que pra mim.

- nunca, minhas prioridades eram outras - ele respondeu voltando a me olhar - nunca passaram de uma noite e eu nunca quis mais que isso, não até você chegar

- o que me fez ser diferente? - perguntei

- todas abaixaram a cabeça pra mim, você me bateu - ele falou e eu reprimi os lábios resistindo a gargalhada que queria sair

- me desculpa - falei assim que a vontade de rir sumiu

- foi bom, me fez perceber que nem sempre vou estar no controle, não quando você estiver perto - Eric falou

- me fale sobre você, converse comigo - eu falei e vi que aquilo tinha tocado em uma parte que ele escondia de tudo e todos.

- não - foi a única coisa que ele falou

- então, como vai confiar em mim? - perguntei vendo o olhar dele se tornar indecifrável.

- nunca falo sobre isso - ele respondeu

- então, eu começo - falei e vi ele se ajeitar na cadeira para escutar com atenção cada palavra que ia sair da minha boca - minha mãe foi embora quando eu era pequena, não sei se está viva ou morta, fui criada pelo meu pai até ele se jogar nas bebidas e nas drogas.

dei uma pausa respirando fundo e soltando devagar.

- cursei administração, meus melhores amigos se chamam Helena e Júlio. - terminei de falar e ele ainda me olhava - sua vez

- tudo bem, mas não espere que eu conte muito - ele falou

- certo, comece - pedi

- desde que me entendo por gente fui ensinado a matar, administrar, comandar - ele falou - não tive muita oportunidade de conhecer minha mãe, na maioria das vezes ela era ausente, mas meu pai sempre bancava tudo dela, ele morreu e me deixou tudo o que ele construiu, sem reclamações, ou era eu ou era eu.

- nunca pensou em outra coisa além disso? - eu perguntei

- não, não tinha como com o meu pai me pressionando o tempo inteiro - ele respondeu

- sinto muito pelos seus pais - eu falei

- sinto muito pelo seus também - ele falou.

- ele mereceu a morte que teve, não era flor que se cheire e me fez sofrer muito - eu falei encarando outra coisa sem ser seus olhos.

se passaram minutos e nós ficamos calados, mas não era um silêncio constrangedor, só não tínhamos mais assuntos.

nossos pratos chegaram e nós comemos sem muito alarde, assim que terminamos, ele pagou a conta e nós decidimos ir embora, caminhamos pela Gran Vía novamente e eu observei todas as cores, cheiros, pessoas, crianças e até os cachorros, ele me contou que aquela rua - que não importava a hora - sempre estava cheia, era tipo uma Time Square.

chegamos ao hotel e ele disse que no dia seguinte, Henri me passaria a agenda do que faríamos - do que Ele faria.

nos despedimos com um aceno breve e entramos no quarto, um absorvendo a história do outro, um entendendo que a dor que tínhamos sentido, era parecida.

Vendida para a máfia [concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora