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Noah Urrea.

O dia começou com o céu de um escuro ameaçador, mas Noah não mudou de planos.

No dia anterior, ele e Maria haviam passado meia hora conversando sobre seus lugares favoritos em Nova York, enquanto Brutus e Valentine se esbaldavam juntos na grama.

É verdade que Maria ainda não havia dito sim a seus convites para jantar, mas Noah sentia que isso logo aconteceria.
Encontrar um horário ainda era um desafio. Aquela mulher podia até não ter muitos encontros,
mas definitivamente não estava reclusa em casa.

Sofya lhe entregou Brutus.

— Não se atrase hoje. Alguém vai vir conhecê-lo. Não passe com ele por nenhuma poça. Preciso dele bonitão.

— Você está com uma agência de namoros para cachorros?

— Ele está para adoção, Noah. Resolvi cuidar dele pois o abrigo estava cheio, mas nosso objetivo final é sempre encontrar um lar para os cães abandonados. A Poppy conseguiu um na
semana passada.

— Quem é Poppy?

— A labrador dourada que você conheceu no mês passado.

Não passara pela sua cabeça que Brutus não fosse ficar permanentemente com suas irmãs.

Noah olhou para o cachorro que lhe fizera companhia nas últimas semanas. Brutus balançou o
rabo e colocou o nariz junto à coxa de Noah, ansioso para iniciar a caminhada.

— Pensei que ele ficaria com vocês.

— Com todos os animais que cuido, não tem espaço para mais um habitante permanente.

Noah se perguntou se o cachorro sabia que estava prestes a morar com um monte de
estranhos.

— Ele é um cão muito inteligente. Você não pode deixá-lo com qualquer um.

— Ele não vai ficar com qualquer um. O abrigo faz uma pesquisa extensa sobre todo mundo
que quer adotar. Eles levam a coisa a sério.

— Como podem levá-lo sem terem passado algum tempo com ele? Não se trata apenas de ele
se adaptar ao novo ambiente… Ele tem que se adaptar à pessoa. Precisa de alguém que entenda
sua real condição como cachorro. Não vai ficar feliz com alguém que amarre lacinhos rosas no
pescoço dele e o chame de Xarope.

Sofya olhou para Brutus.

— O que você acha? Você consegue se imaginar de lacinho rosa, Xarope?

O cachorro abanou o rabo.
Noah ficou irritado com a irmã.

— É por causa do tom que você está usando. Ele acha que você está oferecendo um ossinho.

— Ele gosta de ouvir o nome dele.

— Garanto que o bicho está muito mais feliz agora do que quando era chamado de Xarope. Eu o salvei de uma séria crise de identidade.

Sofya olhou cuidadosamente para o irmão.

— Por que você se importa tanto? Não está se apegando, né?

— Não estou me apegando a ele. — Ou estava? — Esse cão já teve uma experiência ruim. Não
seria bom passar por isso de novo.

— Ninguém quer que um cão resgatado passe por outra experiência ruim. O abrigo faz uma boa pesquisa sobre os novos donos, não se preocupe. Você vai conseguir usá-lo para seu
“encontro canino” por mais um tempinho. É por isso que está preocupado?

— Provavelmente. — Parou de encarar os olhos confiantes de Brutus. — Que tipo de pesquisa
eles fazem? Como sabem se a pessoa não está atuando na hora de adotar e que, uma vez com o
cão, vá agir de outra maneira?

— Os membros da equipe têm experiência. São bons em desmascarar os impostores.
Costumam recrutar pessoas que já tiveram cães. — Sofya estudou o irmão. — Você se apaixonou, não foi?

— O quê? — Essa simples ideia fez Noah arrepiar de pânico. — Não. Ele é um cachorro!

— Cachorros são fáceis de amar.

— Eu não o amo, mas admito que ele é bastante útil. E tem personalidade. Não gostaria de vê-lo com alguém que não o entendesse.

O brilho nos olhos de Sofya fez Noah pensar se não havia dito algo engraçado.

— Ele com certeza já conhece você. Começa a latir quando ouve você chegando. E, olha só,
ele está abanando o rabo.

— Poderia ser por qualquer um.— Nem em um milhão de anos Noah confessaria estar
gostando das caminhadas matinais com o cachorro. Brutus o cutucou com o focinho, ao que
Noah abaixou a mão e fez carinho na cabeça dele. — Está pronto, meninão? Vamos lá ver o que o parque nos reserva na manhã de hoje?

— A mulher ainda aparece todas as manhãs? Você deveria convidá-la para sair,Noah. Antes
que Brutus arranje outro lar e você não tenha mais desculpas para caminhar no parque.

— Se isso acontecer, vou pegar outro cão. — Ele viu Brutus virar a cabeça. — Para de olhar
para mim desse jeito. Está me deixando culpado. Você tem que ser meu camarada.

— Cão-marada. — Sofya deu uma risadinha. — Você não pode aparecer com outro cão. Seria
estranho. A não ser que tenha dito que o cão não é seu.

— Não disse. — E sabia que cometera um erro. Noah estava começando a ficar incomodado
por não tê-lo feito. Quanto mais tempo passava com Maria, mais gostava dela. Não que tivesse
dito que Brutus era dele. Não com todas as letras, mas sabia que ela provavelmente concluíra isso. Noah fazia questão de nunca deixar sua vida se complicar, mas eis que, repentinamente,ela havia se complicado. Estava na hora de dizer a verdade. — Pensei que fosse conseguir falar para ela na primeira caminhada com Brutus. Que ela aceitaria sair na segunda vez que nos encontramos. Não imaginei que a coisa fosse se prolongar. Talvez Joalin tenha razão e ela não esteja interessada.

— Ela está interessada. Não falta lugar para passear com cachorro em Nova York, Noah. Se ela quisesse evitar você, poderia fazê-lo facilmente.

— Então por que não aceitou meu convite para jantar?

— Porque dizer sim a um cara que você conheceu no parque é um grande passo. Você poderia
ser um tarado bizarro.

Joalin passou por eles com uma torrada queimada em uma mão e um café na outra.

— Ele pegou um cachorro emprestado para conversar com uma garota. Ele é um tarado
bizarro.

Sofya a ignorou.

— Dar um passeio é fácil. Você não tem que decidir nada, só vai e faz. Jantar é… — Ela
hesitou para pensar — Jantar é um comprometimento.

— Jantar não é um comprometimento quando o convite vem de mim. Eu a estou convidando para comer comigo, só isso. Dividir comida, não a vida.

— Ainda assim, é um passo.

— Um passo?

— Sim. Sua namorada deve estar nervosa.

O tom melancólico na voz de Sofya sugeriu a Noah que se tratava de um passo que ela
mesma gostaria de dar.

— Ela não é minha namorada.

— Bem, é melhor você chegar ao ponto com ela logo, antes que Brutus abandone você nas
caminhadas.

Simplesmente Nova York | 𝘕𝘰𝘢𝘳𝘵 𝘈𝘥𝘢𝘱𝘵𝘢𝘵𝘪𝘰𝘯Onde histórias criam vida. Descubra agora