Sina Maria.
Prezada Aggie, se há tantos peixes no mar, por que minha rede está sempre vazia?
Sina entrou no apartamento, jogou as chaves no pote perto da porta e foi direto para o chuveiro.
Dez minutos depois, estava de volta ao computador. Valentine se encolheu em sua pequena cama embaixo da mesa e apoiou a cabeça nas patas.
A luz do sol fluía janelas adentro, ressaltando o chão de carvalho polido e iluminando o tapete artesanal que comprara em um ateliê de design que Maria tinha descoberto na Union Square.
Em um dos cantos do quarto, havia uma grande girafa de madeira que seu pai enviara de uma das viagens que fizera para a África. Ninguém que passasse os olhos por suas estantes de livros conseguiria dizer muito sobre sua personalidade.
Biografias e clássicos aninhavam-se entre suspenses e romances.
Em uma das prateleiras, aliás, estavam algumas das cópias remanescentesde seu primeiro livro, Parceiro para a vida: ferramentas para encontrar o companheiro perfeito.
Faça o que eu digo, não faça o que eu faço, pensou.
Maria dedicara o livro a seu pai, mas provavelmente devia tê-lo feito a Rich.
Para Rich, pois sem ele este livro jamais teria sido escrito.
Mas isso implicaria o risco de se expor, e ela não tinha intenções de deixar quem quer que
fosse descobrir a verdadeira identidade por trás da "Doutora Aggie".Não. Seu pai era a opção mais segura. Assim, garantiria que tudo que construíra ficasse de pé e poderia mandar todo o episódio com Rich, como dizia seu pai, para uma caixinha mental com a etiqueta "Experiência de vida".
Quando se mudou para Nova York, dividiu um quarto em um prédio sujo, sem elevador, nos confins do Brooklyn, com outras três moças, que só queriam saber de beber e sair. Depois de seis meses subindo 192 degraus - ela contou - e tendo que ir a Manhattan de metrô, Maria gastara suas últimas economias em uma quitinete no segundo andar de um prédio a várias quadras do Central Park.
Apaixonou-se de primeira pelo apartamento e pelo prédio, com suas alegres portas verdes e corrimãos de ferro.
Apaixonou-se também pela vizinhança.
No térreo morava um jovem casal com um bebê.
No andar de cima deles vivia a sra. Winchester, uma viúva que morava no mesmo apartamento haviasessenta anos. Ela tinha o hábito de perder suas chaves, então agora Maria mantinha uma cópia de emergência.
Logo acima de Maria moravam Krystian e Tom. Tom trabalhava com publicidade e Krystian era ilustrador de livros infantis.
Ela os conhecera em sua primeira noite no apartamento, quando tentava consertar sua
fechadura. Tom resolveu o problema e Krystian fez um jantar. Eles se tornaram amigos.Novos amigos, descobriu Maria, às vezes são mais confiáveis do que aqueles de longa data.
Quando sua vida ruiu, seus amigos de infância a abandonaram de uma vez só, com medo de serem tragados pela areia movediça mortal de sua humilhação. No começo, Sina recebera algumas ligações solidárias, mas a situação piorou, e o apoio e as amizades secaram até virar nada. Eles se comportaram como se a vergonha de Maria fosse contagiosa. Como se ficar ao seu
lado pudesse contaminá-los.De certa forma, ela não os culpava. Ela sabia do inferno que era ter jornalistas acampados no lado de fora de sua casa e ver sua reputação sendo destruída na internet. Quem precisava
daquilo?
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Simplesmente Nova York | 𝘕𝘰𝘢𝘳𝘵 𝘈𝘥𝘢𝘱𝘵𝘢𝘵𝘪𝘰𝘯
RomanceÀs vezes, a melhor maneira de encontrar o amor é parando de procurar... Sina Maria (ou Aggie, nas redes sociais) é a colunista de relacionamentos mais famosa de Nova York, e seu livro sobre como encontrar a pessoa certa vendeu milhões de exemplares...