O quarto do pesadelo

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Numa afastada mesa do cômodo ligeiramente escuro, meus cabelos castanhos escondiam o meu rosto melancólico enquanto eu tratava de ignorar as risadas que adentravam as minhas orelhas para alarmar o meu espírito. Já era a quinta vez que eu observava o copo borbulhante posto à minha frente pelo barman, mas ainda que ingerisse outra e outra, a cerveja nunca era o suficiente para me satisfazer.


"Se você não sabe, não sou eu que vou dizer. Morra descobrindo!"


Eu não deveria ter dito isso pra ele.


Apoiei o copo na boca e girei, tomando um grande gole da bebida. A minha garganta ardeu pelo líquido que queimava em meu interior, me distraindo temporariamente das benditas memórias do que aconteceu na empresa. Esperava que esse veneno me tirasse toda aquela raiva e destroçasse a dor, mas aparentemente a cerveja era um outro vagabundo que me ofereceram. 

Nada tirava Hiragi da minha cabeça. As palavras que me deixei levar apenas tinha o jogado ainda mais para aquele fedelho. Por que ele continuava se importando com um pirralho que já tinha saído da vida dele? Eu odiava isso. Odiava aquela cara de sonso. Aquele sorriso. Odiava saber que mais uma vez não tive a sorte de ser o escolhido para ficar ao seu lado.


— Droga. — Coloquei o copo na mesa. — Sou um idiota.

— Talvez seja.


Olhei em direção a irritante voz, mas rapidamente a minha mão foi levada à cabeça, tentando amenizar a dor agoniante que brotara. A cerveja estava começando a fazer efeito, mas na hora errada, tal como andava a minha vida.


— Se você diz que é um idiota, quem sou eu pra negar, certo?


Mordi a língua ao sentir a dor piorar, impedindo-me de dizer boas verdades para aquele idiota.


— Bebeu demais.

— Oh, não me diga.

— Se sabia que iria terminar assim, por que bebeu?

— Cala a boca.


Apoiei as costas na cadeira, massageando as têmporas eufóricas. Meus olhos castanhos vagavam pelo terreno, assistindo as pessoas gargalharem a cada gole enquanto compartilhavam sua desastrosa vida com um sorriso. Eu queria essa felicidade. Onde estava os risos da minha vida enterrada no lodo? Eu precisava ter mais daquele remédio que levava embora os meus males. Necessitava.


— Eu quero... mais.

— Mais um? Certo. Duas por favor.


As minhas pálpebras se fecharam um pouco, avistando o ser inconveniente se sentar na cadeira vaga da mesa. Ainda que me esforçasse para ver o rosto do abusado, o pescoço enrijecido me impedia, aumentando o meu desejo de me aconchegar na mesa gelada.


— Não quero beber sozinho — Falou o estranho. — Eu pago.

— Eu não... pedi...


A visão foi tapada pelas pálpebras exaustas, abraçando o meu corpo em um quente sentimento, relaxando os ossos tensos que lentamente me deixava vagar pelas profundezas da minha mente, acalentando-me na paz silenciosa que tanto precisava.

O Ouro SecretoOnde histórias criam vida. Descubra agora