Harry arfou. Abaixou a espada, colocando-a na baia ao lado do corpo e deixando a guarda baixar por um breve momento. O ombro latejava, a dor se alastrava pelo corpo e franziu o cenho, chamando a atenção de Sophie.
— Vamos. — O homem a soltou, caminhando em direção ao púlpito.
— Alteza...? — Balbuciou, tentando processar.
De má vontade, o príncipe praticamente se arrastou até o outro lado, movendo um pilar falso para o lado — com a ajuda da Serva — e adentrando o pequeno corredor.
Sophie não questionou, mas puxou o pilar com força para o local que antes estava, seguindo o corredor estreito em busca do príncipe.
Talvez não conhecesse aquele local da maneira que pensava.
Harry jogou a espada no chão, sentando-se com a cabeça apoiada na parede e gemendo baixo, o golpe em seu ombro ardia como o inferno. Raiva percorria suas veias, mataria qualquer um que ousasse tocar em seu povo.
Mas ir à luta daquela forma era atestar a morte.
A garota cuidadosamente acendeu uma lamparina que encontrara no cômodo escondido, deixando-a perto do príncipe e caminhando até ele com cuidado.
— Alteza, estás ferido... — murmurou.
— Se os médicos estivessem aqui, seria mais fácil. — Foi sarcástico, revirando os olhos. — Agradeço-lhe por dizer o óbvio.
Se dar um tapa naquele rosto fosse o motivo de sua morte, fechar os olhos para sempre não parecia tão ruim assim. Sophie bufou, percebendo que estavam no cômodo dos médicos Reais, onde as substâncias eram guardadas. O local mais próximo que Harry lembrou de se proteger, o último que imaginou dividir com Sophie.
Mas estava com dor demais para ligar para isso. Revirou os olhos novamente, levando as mãos repletas de sangue até o ombro e respirou fundo. Num olhar mais atento, Sophie percebeu que ele estava repleto de sangue.
Questionava se era só dele.
— Não deveria lhe ajudar, você tentou me matar da última vez. — As palavras escaparam de forma tão espontânea que, quando percebeu, enrijeceu, mas não se desculpou.
— Ainda estou pensando se vou realmente poupar sua vida. — Harry deu uma risada sarcástica, apertando os olhos quando a dor se tornou mais forte.
Ele não conseguiria fazer nada naquele estado.
Não só seu ombro estava ferido — apesar de ser o pior —, mas tinha ferimentos nas pernas e tronco. Sophie engoliu seco, minuciosamente correndo os olhos por cada canto do cômodo. Talas não eram sua especialidade, mas não o ajudar poderia ser pior.
Harry grunhiu de dor, sequer notou quando ela caminhou até o lado direito, procurando dentre os diversos frascos de ervas e produtos medicinais algo que pudesse o ajudar. Havia lido livros sobre isso, colocar em prática seria bom, não?
— Onde diabos está isto... — murmurou sozinha, as mãos ainda trêmulas por conta da adrenalina.
O pequeno pote com esfagno passara despercebido três vezes, mas não na quarta. Sophie apanhou uma porção de tecidos brancos — que julgou ser as talas —, caminhando em direção ao Príncipe sem manter contato visual. Sentiu o estômago retrair quando ajoelhou ao lado dele, jamais tivera tão próxima de um homem.
— Permita-me, Alteza... — Sophie murmurou, puxando um pedaço grande da tala e levando-a em direção ao ombro ferido.
— Sabes o que estás a fazer? — Indagou carrasco.
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The Last Letter [H.S/PT-BR]
FanficNuma época onde apenas os nobres tinham acesso a educação, Sophie certamente seria decapitada se descobrissem que roubava livros e sabia tanto ler quanto escrever. Vinha de uma família de pobres camponeses e fora vendida para o castelo para ser uma...