Bless

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Gerhard chegou ao castelo muito jovem.

Pouco mais novo que o Rei, a amizade se estabeleceu ainda quando crianças, quando títulos eram bobagem e a inocência transbordava. Ele assistiu o mero príncipe Robin se tornar Rei novo, quando mal sabia seus gostos e pouco sobre a vida.

Gerhard assistiu à coroação de Robin. Ele o abraçou quando o pai do amigo faleceu de forma súbita, velou seu corpo e prometeu a Robin que estaria com ele até o fim, onde o cargo de Mensageiro Real foi lhe proposto. Mas não, aquela relação não era mera submissão.

Robin o viu como amigo, era a pessoa a quem recorria quando os problemas apareciam e o coração era tomado de sensações ruins. Eles dividiram garrafas de vinho nos abismos e travaram lutas juntos, ele segurou cada uma das crianças do Rei. Foi contra pessoas, o defendeu mesmo quando teve um filho bastardo.

Mas a ira contra Robin era algo antigo. Desde muito novo.

Eles tinham praticamente a mesma idade, mas por que ele tinha tudo? Por que suas roupas eram tão bonitas e a comida farta? Por que ele também não dormia em camas de palha como Gerhard e sua mãe? Filho de uma das servas do castelo, cuja mãe teve uma gravidez indesejada, compareceram ao caso como exceção. Ele sequer deveria ter vivido.

Mas viveu. E se comparou imensamente a Robin e sua vida, suas oportunidades, e por que não podia ser como ele?

Não. Ele queria o lugar dele.

E por conhecer toda sua vida, já sabia o que fazer.

O plano fora posto em prático há tempos.

O homem rezou todos os dias para que o Rei morresse. Da forma mais dolorosa, oh, sim, não podia ser rápido. Ele ansiava por vê-lo agoniar e definhar até o coração parar de bater.

Sonhara tantas vezes com aquele dia que, quando chegou, o coração palpitava de tal forma, euforia talvez que nunca sentira na vida. Aquela aberração estava morta, completamente morta.

E nada lhe impedia de seguir.

Gerhard anunciou em todos os cantos sobre a morte do Rei e o próximo herdeiro. O clima mórbido parecia até ter contaminado o céu, onde o sol se escondia por trás das nuvens num tom fúnebre, mas para o homem de cabelos grisalhos, a cada vez que anunciava, a felicidade o inundava, e era difícil esconder o sorriso.

Mas fez o seu melhor para esconder o sorriso com lágrimas falsas. Lágrimas essas que rondaram todo o vilarejo, onde o povo sofria com a partida do homem que endeusavam, o escolhido de Deus para reger seu povo.

Já no castelo, a família Real estava reunida na sala do trono: Felícite mal respirava, o choro silencioso podia ser comparado a de Niall, que estava do outro lado com uma expressão indecifrável. Harry e Louis se mantiveram ao lado da mãe, que controlava o choro embargado.

Anne não podia sofrer agora, não, não agora.

Tinham de tomar os próximos passos, Zayn, o mais velho, tinha de casar o mais breve possível.

O Rei tinha de ser velado. O próximo Rei, coroado.

Não há espaços para choro. Anne respirou profundamente antes de pronunciar palavras tão dolorosas, essas que jamais imaginou dizer:

— Optamos por avisar a todos. O Rei estava em condições críticas. Seu corpo será velado como de costume. — Tomou um segundo para recuperar-se, o tom de voz embargado. — Zayn, como todos sabem, assumirá o trono.

— Temo que não...

— Você não tem que querer nada! — Grita. — É o que precisa ser feito! És o mais velho! Teu pai queria isto!

The Last Letter [H.S/PT-BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora