H097

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Joaquim

Se você perguntar a qualquer um o que viu no momento em que nasceu ou como foi o seu primeiro dia de vida, provavelmente não vai obter uma resposta.

No entanto, eu não sou uma pessoa normal. Na verdade, sequer sou realmente uma "pessoa". Eu já sabia disso desde o momento em que me dei conta de que estava vivo.

Me lembro nitidamente do que vi quando abri os meus olhos pela primeira vez: um bule branco de porcelana, com quatro xícaras de mesmo material dispostas em volta dele, todos em cima de uma mesa de madeira.

Não era uma vista empolgante, mas era a primeira vez que eu enxergava algo, então meus olhos focaram naqueles objetos e os analisaram atentamente, com curiosidade.

Um pouco de fumaça saía do interior do bule, então eu deduzi que o que continha ali dentro era quente.

Quente.

Uma sensação térmica. Eu sabia denominá-la, mas não a conhecia realmente. Não sabia como era a sensação de tocar algo que transmitisse calor.

Percebi que eu não tinha conhecimento de nada sobre o mundo além das breves informações que meu criador colocou na minha cabeça antes mesmo de me ligar. Tudo o que eu conhecia era apenas teórico, com descrições breves, sem experiência prática alguma.

Eu sabia um pouco sobre quase tudo e, ao mesmo tempo, não sabia nada. Não era como um recém nascido, mas também não era como um adulto que tinha realmente vivido. Eu não me encaixava em qualquer definição humana.

— Olá? — assustei-me com a voz que me tirou repentinamente da análise que eu ainda fazia dos objetos à minha frente; meus olhos acompanharam a direção do som, então vi um homem de cabelos vermelho vivo, sentado em uma poltrona bege, logo atrás da mesa.

Os seus cabelos atraíam o meu olhar. Era bom de ver, chamativo. Me lembravam algo... Cerveja...? Não, era outro nome... Ah, sim, cereja! Me lembrava cereja.

Saber o nome das coisas ainda me parecia confuso e de difícil associação.

Ele me olhava atentamente, como se sua vida dependesse da minha resposta.

— O-olá... — movi meus lábios e minha voz saiu em um sussurro incerto, mas foi o bastante para que o homem abrisse um grande sorriso.

— Isso é bom! — exclamou, olhando para alguém ao seu lado; acompanhei seu olhar e vi que haviam mais dois homens ali, examinando-me com atenção. — Você sabe quem eu sou?

Perguntou, me olhando novamente, antes que eu pudesse analisar melhor as duas pessoas paradas ali.

Pensei um pouco. Eu com certeza nunca tinha visto esse homem ou qualquer outra pessoa na minha breve vida, mas, mesmo assim, ele me parecia familiar.

— Você... É... Meu criador? — arrisquei, pigarreando quando minha voz falhou ao pronunciar a última palavra.

Falar ainda parecia estranho, apesar de eu saber como fazê-lo.

— Isso mesmo! — ele bateu palmas suavemente, parecendo... Feliz. Acho que era assim que a felicidade deveria ser, pois era "um estado de contentamento e satisfação", segundo minhas informações, então associei seu sorriso à isso. — E você? Você sabe quem você é?

Parei para analisar meu próprio corpo, mas isso não me deu muitas informações. Era um corpo de adulto, vestido com roupas comuns e aparentemente não havia nada além disso, mas após uma inspeção minuciosa, notei que havia algo diferente no meu pulso esquerdo; uma marca gravada ali, com um código: "H097".

Vênus não é estrelaOnde histórias criam vida. Descubra agora