Joaquim
Era um grande alívio ter finalmente sido capaz de sorrir, pois indicava que não havia nada errado com essa minha função, como acreditei mais cedo.
— Aliás, Joaquim ... — Abel falou. — Ariel é meu irmãozinho.
Olhei de um para o outro, notando poucas semelhanças. Abel era esguio, tinha a pele oliva e um ar simpático; já Ariel tinha músculos mais definidos, pele pálida e me parecia um pouco sério.
Abelardo parou ao nosso lado e me olhou com descontentamento.
— Ei, por que pediu para o Ariel cuidar de você? Eu disse que eu cuidaria.
Ele fez um bico com os lábios e eu me preocupei que ele estivesse bravo comigo, mas a risada rouca de Ariel me fez entender que não era nada com o que se preocupar.
— Está com ciúmes, Bebel? — perguntou, divertindo-se com a situação, diferente de Abel, que ainda estava emburrado.
— Bebel? — perguntei, estranhando que ele chamasse meu criador por um nome que não era o dele.
— É um apelido, assim como "Abel" — Ariel me explicou, pacientemente. — Você sabe o que é isso?
Balancei a cabeça positivamente. Eu sabia que um apelido era um jeito diferente de chamar alguém, mas ainda não compreendia como funcionavam. Para mim, "Abel" era só uma abreviação, um jeito mais fácil de falar, apesar de entender que apelidos tinham outras utilidades.
— Eu chamo as pessoas que eu gosto por apelidos, porque me sinto mais próximo delas fazendo isso — continuou Ariel.
— Eu tenho um apelido? — perguntei para Abel.
— Ainda não... Mas nós vamos pensar em um legal pra você. Vai ser fácil.
Abel bagunçou meus cabelos novamente, mas parou quando um barulho diferente ecoou pela cozinha. Os dois me olharam como se eu fosse o culpado por aquele barulho, mas eu estava quieto, tinha certeza de que não havia emitido nenhum som.
— O estômago dele está roncando — observou Ariel, os olhos negros e profundos me analisando atentamente, então eu entendi que o barulho realmente veio de mim, mesmo que involuntariamente. — Ele ainda não comeu?
Senti minhas bochechas arderem e levei as mãos até minha barriga, segurando-a, supondo que talvez isso impedisse o som de sair novamente.
— E agora? A janta ainda não está pronta — Abel parecia realmente preocupado, mesmo que eu nem tivesse notado que estava com fome, até meu estômago roncar e me fazer perceber que havia uma sensação incômoda ali.
— Deixa que eu termino — Ariel se ofereceu, mas Abel já estava de volta ao fogão administrando as panelas e negando firmemente com a cabeça.
— Eu vou preparar a primeira refeição do Joaquim. Mas você pode ajudar ele a escolher algo pra comer, só pra enganar o estômago, enquanto isso aqui não fica pronto.
Ariel não insistiu mais, foi até uma das portas do armário, abriu e me chamou com a mão.
Parei ao seu lado e observei as várias embalagens coloridas que haviam dentro do armário.
— Essa aqui é a parte mais divertida, as outras só tem umas coisas saudáveis, integrais e... Essas coisas "não-gostosas" — ele sussurrou pra mim e fez uma careta engraçada.
Minha atenção prendeu-se nele e pude reparar mais em seus detalhes devido à proximidade. Ele tinha cabelos negros desgrenhados, usava uma jaqueta preta, uma calça jeans azul clara rasgada nos joelhos e uma camiseta com uma figura masculina estampada; embaixo os dizeres "Blue Neighbourhood". Era uma imagem bem bonita e a estampa colorida contrastava com os desenhos pretos tatuados em sua pele.
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Vênus não é estrela
Romance[ DEGUSTAÇÃO ] Quando Joaquim abriu os olhos pela primeira vez, tinha muitas expectativas sobre o mundo, sobre sua vida e todas as experiências que viveria dali em diante. Ele era um robô recém fabricado, ainda em fase de testes, e apesar de sua mé...