Milena, a Winchester de Improviso

16 3 0
                                    


UMA SEMANA DEPOIS

Stephen ergueu o Malleus Maleficarum.

- Peguei a menina lendo isso. Fora da biblioteca.

Wong deu de ombros.

- Ela pediu e eu dei permissão. Não é comum conhecer garotas que se interessem pela caça às bruxas fora do Kamar-Taj, ainda mais uma cujos pais cristãos lhe ensinaram sobre os perigos do fanatismo  e que foi uma chacina generalizada contra pessoas inocentes, principalmente contra curandeiras e mulheres independentes.

- Ninguém tem permissão para remover os livros da biblioteca, foi o que você disse. Ela ficou aborrecida e me mandou perguntar a você.

- E aqui estamos nós. Pode devolver o livro para a garota.

- Engraçado – Stephen encarou Wong – você é bastante razoável com a garota...

- É uma jovenzinha amável, simpática e modesta – Wong deu de ombros. – você mesmo falou sobre os chacras dela, sobre o Sahashara. Ela tem algo que inspira confiança. Não desobedeceu nenhuma regra imposta, e ainda por cima não é nada preguiçosa ou mimada, tendo uma disposição para o trabalho que em muito falta às meninas desse tempo louco. Você, em compensação, tem sido bastante inflexível com ela nos últimos dias depois de ter sido definido que ela ficaria sob nossa proteção. Sabe que ela não pediu por isso.

- Muito menos eu! – exclamou Stephen se controlando para não jogar o livro na mesa com sua impaciência.

- Ah, deixe de fazer tanto drama! – Wong acenou com a mão. – Age como se ela fosse uma desses adolescentes insuportáveis que estão a um fio de se tornarem piriguetes desmioladas e enfadonhas, sendo que a menina nem faz nada demais para você agir como um velho resmungão e ignorante...

- Ignorante?! Eu!? – exclamou Stephen, no auge de sua indignação. – olhe só quem está me mandando deixar de agir como um resmungão ignorante... e depois, ela fez sim muitas coisas para me deixar ainda mais estressado...

Wong revirou os olhos mais uma vez e conjurou o chá, para aguentar as queixas de Strange sobre a garota.

Não havia muito tempo, ele a havia pego abrindo a porta que dava para a adega; ele lhe deu uma bronca, ao que ela deu de ombros e disse que ele deveria ter trancado como as demais portas dos aposentos onde ela não deveria ir. Quando Wong argumentou que ela estava certa, afinal, Stephen enfatizou que ele tinha certeza absoluta de que a havia trancado ainda na primeira noite da estadia de Milena.

Outra vez, enquanto cortava o filé de frango por dentro para recheá-lo com queijo, Milena estava a cantarolar Fear of the Dark. Sua voz trinava como um passarinho. Ao reparar a cara que Stephen fazia – ao se dar conta de que ele estava ali – Milena parou de cantar e perguntou:

- Que foi, não curte Iron Maiden?

- Não muito... mas me surpreende que uma...

- Brasileira curta Iron Maiden? – Milena perguntou, cética. – olhe quem está vindo com estereótipos agora; um milhão de brasileiros curte Heavy Metal, Ópera, Rock, Kpop... E eu moro em uma cidade como qualquer outra...

- Pelas suas roupas, pensei que tivesse sobrevivido a uma aventura na Amazônia – Strange olhou-a de cima para baixo. Ela usava um casaco listrado de preto e vermelho desbotado, estampado com caveiras aladas e ossos, as mangas dos bíceps ligadas aos do resto da manga do antebraço por correntes, deixando os cotovelos e o meio deles descobertos. A calça era de um falso jeans preto também toda esfarrapada, com correntes, fitas e logos brancas de bandas. Milena cravou a faca na tábua de madeira em que estava cortando a carne, marchou pesadamente com suas botas-coturno de cano curto em direção a geladeira e, com a mão no trinco, se virou rapidamente para conferir se Strange estava olhando-a e abriu a geladeira.

Doutor Estranho: A AprendizaOnde histórias criam vida. Descubra agora