Filhos da Criação

55 8 11
                                    

Mesmo tendo visto todo o universo, você nunca teria reconhecido ou entendido tamanho ser. Além da compressão da existência, Esferos existia antes que este universo fosse real. Era algo, deveria ser, pois tudo para nós precisa ser alguma coisa, mas ele também era o nada. Esferos apenas existia, mas não existia, pois a existência ainda nem era real.

De acordo com os contos antigos, Esferos era formado por Archés, micro-seres espirituais que permaneciam em estática, colados uns nos outros. Era dito que, quanto mais esses micro-seres se uniam, mais intensos ficavam, e deixavam Esferos mais inchado. Chegaria o momento que os Archés começariam uma expansão espontânea coletiva, e assim o universo seria criado. Cada um dos Archés se expandiu e começou a percorrer o universo traçando gigantescas linhas, enquanto tornavam-se menores à medida que percorriam longas distâncias. Eles foram diminuindo de tamanho, tornando-se pequenos e logo invisíveis, virando apenas moléculas que formariam toda a existência.

Esferos perdeu sua estrutura corporal, mas sua existência havia atingido a realidade, e logo o universo estava finalmente vivo. O celestial ser iniciou o seu processo de criação e assim gerou Cosmos, seu primeiro e grandioso filho. Cosmos seria a expansão de tudo, e seria a base para a existência. Seu pai gerou mais quatro filhos usando partes de Cosmos: Lucidus, que seria o responsável pela realidade e existência de todas as coisas; Cronus, ser do tempo, grandioso e conhecedor do antes e depois de todos os cantos de Cosmos; Espectrus, aquele que mantém a existência das coisas através do espectro que existe dentro de tudo; e Tânatus, o último filho, que seria responsável pelo final através da morte daquilo que é vivo e o fim daquilo que existe através de seus mortyus, anjos da morte espalhados por todo o universo. Todos os irmãos deveriam trabalhar entre si, mantendo o equilíbrio no funcionamento. Se um parasse de funcionar, todos os outros permaneceriam descompensados e Cosmos poderia ficar paralisado.

O silêncio novamente era o universo. Cosmos agora estava estático com seus irmãos e precisavam que a realidade começasse a ganhar cores e vida. Cosmos então tomou a iniciativa de criar as ferramentas vivas para a criação. Ele gerou então os Cósmicos, seus filhos que trariam a criação a todo o universo. Foram vinte e um filhos que nasceram de suas nebulosas. Nascidos consecutivamente como gêmeos, cada um recebeu um padrinho dentre os Filhos de Esferos. O objetivo deles era criar planetas e seres divinos, denominados Deuses, que teriam a missão de gerar a vida material dentro de cada mundo desenvolvido. A aparência dos Deuses dependia daqueles que o observavam, e por isso representavam ainda mais a diversidade do universo. Uma auréola sobrevoava as cabeças dos Cósmicos, e cada uma possuía uma cor específica. Portavam armaduras celestiais e metálicas da mesma cor da aréola, mostrando a sua nobreza e grandiosidade. Dentro de si continham os espectros, equivalentes ao conceito de personalidade, que eram extremamente importantes para suas atuações em todos os cantos do universo. Seres únicos e cintilantes. Poucos podem dizer que enxergaram estas criaturas celestiais. Os Cósmicos eram como procurar estrelas perante o Sol do meio dia terrestre.

Zandur era o mais velho entre eles. Um ser forte e determinado, possuía um temperamento firme em suas atitudes. Assumiu o trono maior da Ordem Cósmica para criar cada estrutura do Universo. Ao seu lado estava Éfen, sua principal aliada, que equilibrava suas decisões e apresentava uma postura mais amistosa e caridosa. Porém existia um contraponto: um irmão que desprezava a postura dos Cósmicos perante ao pai Cosmos.

Érebo deveria ser a representação da confiança, ambição e coragem. Ele deveria ser, e era, mas de uma forma tenebrosa que mantinha sua consciência trabalhando e planejando uma revolução sobre seu pai e tios. Havia tentado por muitas vezes convencer seu irmão Zandur de que poderiam se tornar os indivíduos supremos do universo e tomar o lugar de Cosmos. Eram tentativas do décimo nono filho de penetrar a mente de Zandur, prometendo transformá-lo em um ser supremo. O mais velho, convicto de suas funções e satisfeito com seu lugar, reprimia o irmão com grande clareza e impetuosidade. Entretanto, havia chegado o dia em que Érebo estava confiante o suficiente para ir contra seus irmãos e superiores. Com tamanha ousadia, planejava roubar os olhos de Hell, o vigésimo primeiro filho e o mais novo da linhagem, para assim poder enxergar além de Cosmos e roubar a energia das trevas.

O irmão traidor poderia parecer solitário, mas tinha uma relação com Soniuns, o nono da linhagem. Soniuns era organizado, articulador e sabia criar as coisas da forma mais bela possível, porém não compactuava com as ideias de Érebo e, portanto, procurava sempre demonstrar sua insatisfação ao Cósmico. Mesmo que o amor fosse forte, não era o suficiente para impedi-lo. E então, em uma noite, ele levantou-se e deixou Soniuns sozinho para ir até Hell. Adormecido, Hell tinha em seu rosto a graciosidade de um homem jovem e sereno: não suspeitava de nada, não temia o ego e a audácia de Érebo. Seus olhos iam sendo retirados um por um sem que sentisse nada, e ele só notaria o ocorrido quando tentasse abri-los depois do sono profundo.

Um berro foi o suficiente para acordar Soniuns. Dirigiu-se, inquieto e astuto, até o quarto de seu irmão mais novo. Quando finalmente olhou para a porta cristalina do quarto de Hell, já podia ver Éfen com as mãos no lugar dos olhos do irmão para conter seu sangue azulado brilhante. Os outros estavam envolta consolando o mais novo, menos Érebo, que não se encontrava ali. Sem prestar socorro ou qualquer demonstração de solidariedade momentânea, correu o mais rápido possível em direção aos confins de Cosmos. Lá estava seu amor, segurando os dois olhos de Hell, paralisado, esperando Soniuns chegar.

— Eu disse a você que isso era insustentável...

— Pois vai ser agora que provará seu amor a mim. — Érebo disse calmo.

— Da mesma forma que não provou seu amor me escutando, eu demonstro a minha fidelidade a esta família.

— Então era tudo mentira sua. Cada uma de suas palavras era puro teatro.

— Érebo, eu realmente me apaixonei por você... Porém suas ideias não correspondem com aquilo no que acredito. Você está se perdendo na sua própria vaidade. Não precisamos disso... — o Cósmico vingativo escutava quieto, sem olhar nos olhos do amado.

— Não. Eu não preciso de você... de nenhum de vocês. — Logo lançou com força e rapidez sua foice em direção ao pescoço de Soniuns.

Não teria como correr, não haveria tempo. Havia deixado sua espada em seu quarto para tentar alcançar Érebo o mais rápido possível. Ali poderia ser declarado como o fim se não fosse Zandur que, com seu escudo, bloqueou o arremesso do inimigo.

O grande mais velho dos irmãos ordenou que Soniuns fosse avisar os demais, mas ele insistiu em permanecer ao seu lado. Aquela atitude enfureceu ainda mais Érebo, pois sabia que não poderia vencer a força de Zandur somada à estratégia de Soniuns. Então colocou os olhos de seu irmão no lugar dos seus e rapidamente encontrou as profundezas de Cosmos, deixando-os em uma escapada covarde da batalha.

A declaração de total apoio a Zandur foi a primeira ação de Soniuns para mostrar sua gratidão. Mesmo que o mais velho não estivesse satisfeito com a escapada de Érebo, recebeu os agradecimentos com honra e respeito.

No quarto de Hell, Éfen já havia recuperado a visão do caçula, mas ele não poderia mais enxergar além do Cosmos, e sua tristeza podia ser sentida em seu olhar vazio. Não seria o mesmo Hell de sempre, digno do presente que seu pai havia dado, roubado pelo inveja de seu próprio irmão.

Origem CósmicaOnde histórias criam vida. Descubra agora