Anjo Azul

Capítulo 14

09 de Junho, Edimburgo - 10:30 AM.

Existem aproximadamente três meios de ir de Edimburgo até Fort William, todos eles demoram mais ou menos cinco horas para atingirem o objetivo, mas para a nossa surpresa, havia apenas um que levava-nos direto para Mallaig, segundo a emissora de passagens na estação, uma nova empresa tinha acabado de entrar no mercado, a ideia era trazer os trens com vagões maiores (parecidos com pequenos aposentos onde os passageiros podem descansar e aproveitar uma viagem mais relaxante e com menos paradas) de volta.

É claro que, nesta via, eles passavam por mais um ponto além de Fort William, entre eles está os picos íngremes em Scamodale, descer pelos morros de Acharacle e só então pegar uma via Lochailort. Eu pessoalmente achei desnecessário fazer uma viagem que levaríamos um dia para concluir, sendo que, com as outras vias que faziam paradas, tomaria apenas 7 horas no máximo e ainda poderíamos visitar Fort William se quiséssemos, no entanto, a chefe não queria que fosse assim, a vontade de Anne era dar mais tempo para que Billy e Jane conseguissem chegar na Europa, além disso, ela queria buscar mais informações sobre Wes.

Eu lhe disse que isso poderia ser um erro, Ruby Gillis sabe qual tipo de informações temos, se demorarmos demais para ir ao encontro desse sujeito, ele pode muito bem ser redimensionado para outro estado ou até mesmo país. Se é que isso ainda não aconteceu, demoramos vinte horas para chegar até aqui, é uma janela muito grande de tempo. No entanto, a ruiva parecia muito inclinada a não me ouvir.

Aliás, a megera estava se abstendo tanto da minha opinião que sequer me ouviu quando eu me recusei a participar do seu plano de enganar a emissora de passagens na estação de trem para conseguir uma cabine de luxo, ela comprou um anel meia-tigela em uma loja de bugigangas que havia no piso superior e quando nós dois estávamos comprando as passagens, ela começou a ficar melosa do meu lado.

- Sabe - Ela abraçou o meu braço e eu abri um sorriso forçado - Nós dois estamos na nossa lua de mel! - A ruiva anuncia e eu quase engasgo com a própria saliva.

Adrienne, o nome da (também ruiva) mulher do outro lado do vidro, abriu um sorriso gigantesco para nós dois.

- Pois é, a escolha foi dela vir até a Escócia, seu sonho! - Eu digo com a voz um pouco pesada demais para ser chamada de animação, ela me belisca e eu estreito um olhar furioso, Anne sorriu inocentemente para mim.

- Oh! A senhorita é daqui? - Adrienne pergunta com um sotaque tão forte que eu tenho dificuldades em entender.

- Meus pais eram - Ela concorda.

Não faço ideia se ela está mentindo agora ou não.

- Ah! Então você está querendo conhecer o país onde seus pais se conheceram! Isso é tão lindo - A moça pronúncia sorridente e então diz algo que eu acho ser gaélico, olho de relance para Anne e pela sua cara de paisagem ela não faz nem ideia do que a mulher falou.

Não, ela não é nenhum pouco escocesa, senhora. Aliás, é uma mentirosa terrível pelo jeito também, os pais teriam vergonha.

- Isso mesmo. Nós queremos tanto aproveitar essa viagem, sabe? Gastar para conhecer os lugares, vivenciar novas experiências e experimentar novas comidas - Ela alisa o meu braço e sobe a mão com o seu anel falso até o meu rosto, depositando dois tapinhas.

Ah! Que vontade de quebrar cada dedinho que ela tem nessa mão.

- É isso mesmo, amorzinho - Eu respondo entredentes e ela pressiona os lábios para não rir.

- Oh! Oh! Deixe-me ver o que posso fazer por vocês - Adrienne diz, caindo na ladainha da mulher ao meu lado, ela abaixa a mão e abre um sorriso maravilhoso, eu apenas respiro fundo. Ela seria terrível no setor de marketing, os clientes provavelmente devorariam ela viva - Vejamos, eu tenho uma suíte de casal, não é luxuosa, pois esta já está alugada, mas é o melhor que eu posso fazer, mais sofisticada que um aposento normal - Ela lança uma piscadela para nós dois.