Capítulo 8

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02 de Junho, 06:40pm.

Eu passei o dia inteiro dentro do quarto no hotel esperando Cuthbert dar algum sinal de vida. Meu celular continuava a tocar desesperadamente e um anúncio sobre o meu desaparecimento foi divulgado por toda a Dakota do Sul.

Isso causou um alvoroço enorme, Jerry passou a ligar para mim também, mandou mensagens querendo saber no que eu tinha me metido, Carly enviou diversos sms dizendo que se eu tivesse me envolvido em algo além da minha alçada, ela poderia me ajudar.

Prissy passou a ligar para mais vezes também e a deixar mensagens de voz, como, por exemplo:

"Oi amor, estou com saudades. Me perdoa ter sido tão insensível perante a sua situação, nós nunca... Brigamos. O que é estranho para um casal... Nós normalmente discutimos sobre algo e resolvemos. Estou desacostumada a pensar nas férias como algo possível, então eu surtei, me perdoa, tá? Volta para casa."

"Boa noite Gil, a cama está bem mais estranha sem você. Eu mal durmo nela, passei a levar seu travesseiro para o sofá e dormir com ele, ver se o seu cheiro me ajuda a idealizar a sua presença. Amo você. Volta pra mim."

"Oi, meu amor. Eu pedi alguns dias na firma, eles entenderam a situação, sua mãe e seu pai estão dormindo aqui, seus avós ligam todo dia, Bash aumentou os dias de folga dele, agora trabalha dia sim e dia não, Kyle recusou o cargo de vice presidente em seu nome e Cole alugou um apartamento aqui perto... Estamos com saudades, volta pra gente."

Tentei não chorar enquanto ouvia sua voz tão deprimida e solitária no outro lado do telefone, nunca ouvi Andrews desse jeito, como se ela estivesse desesperada e melancólica ao mesmo tempo, pelo timbre de sua voz, eu conseguia ver a culpa consumindo o seu ser e isso me quebrou inteiro.

Eu devia avisar onde eu estou e porque. Eu devia dar algum tipo de explicação, principalmente para Prissy que, acima de todos, é a pessoa mais importante na minha vida desde a infância, nós vamos casar, eu sempre imaginei passar a minha vida inteira com ela. Estar tão longe de Andrews é quase doloroso para mim, há anos eu durmo ao seu lado, não ter o calor do seu corpo próximo do meu deixava a cama incômoda em um nível ridículo de suportar, me causando uma insônia terrível.

Ela, além da minha família, merece pelo menos a cortesia de uma explicação razoável. Sempre fomos unidos. Sempre resolvemos as coisas juntos, não importa quão difícil seja a situação. O lema da minha família é que não existe problema grande demais no qual não podemos se resolver se estivermos juntos.

No entanto, por mais que eu deseje muito informar aonde estou, me encontro completamente esgotado, não consigo mais descrever para as pessoas a mesma história e elas nunca acreditarem em mim. Se eu comunicar Prissy do real motivo por trás da minha fuga, ela vai querer me internar em um hospício, além disso, minha vida vai continuar neste infinito ciclo de vivo-morto enquanto eu não der um jeito na situação. 

A única opção viável é - de alguma forma -, ajudar Anne Shirley Cuthbert, e isto, com certeza a minha mulher não vai entender.

Estas mensagens fofas? Vão rapidamente se tornar em algo bem mais agressivo.

Sendo assim, eu resolvi apenas apagar as mensagens a fim de não me torturar com elas e joguei o celular longe, preciso me concentrar cem por cento no meu novo objetivo agora, meu emprego está a salvo enquanto eu ainda estiver "de férias", o restante, eu lido na hora apropriada.

Olhei no relógio e reparo que faltavam vinte minutos para às sete da noite, suspirei pesadamente e peguei meu pijamas, não que eu realmente fosse conseguir dormir, mas, pelo menos, ficaria o mais confortável possível para conseguir ver outro filme. 

Anjo AzulOnde histórias criam vida. Descubra agora