2° Capítulo

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Quando a D/c (Dona Catarina) estacionou o carro, eu já conseguia sentir o gostinho de exorcismo misturado com suicídio, já logo pedi demissão do cargo de neta para ela.
Concerteza as freiras (ou até mesmo o padre) iriam acabar exorcizando a bruxa puta e má (eu, na visão deles), ou eu iria acabar me matando, e olha que nem é exagero (apesar de ter herdado um pouco da vó Catarina).
Sempre ouvi dizer que existia um cemitério ao lado dos conventos onde eram enterrados os bebês que as freiras tinham dos padres.
E caraca, aquele lugar era gigante, era mesmo de se duvidar que não tinha um cemitério escondido ali, mas em compensação era um lugar bem lindo, parecia uma cidade, na verdade isso era normal em algumas regiões da França mesmo, mas aquele era um dos lugares mais lindos que já havia visto por lá (e olha que já viajei bastante com a D/c).
- Oii, você que é a famosa Niv? Posso te chamar assim né? Meu nome é Catryna, prazer em conhecê-la.
- É... Oi, pode sim.
Respondi com certo receio segundos antes de ela cortar o que eu dizia pra me abraçar.
Eu odiava abraços, nem o Fred ficava assim comigo, vaila-me Deus, quanto grude, quanta melosisse.
-Ela não curte muito abraços.
D/c disse com uma convicção de quem me conhecia desde a maternidade.
- Ah... me desculpe, hábitos de família brasileira, eu amo abraços mas aqui eles me fazem ser exagerada diferente do Brasil, lá a gente abraça com uma frequência bem maior que aqui.
E eu falo bastante, o que não é costume do pessoal aqui de Paris.
Ah...Sério que ela fala bastante? nem tinha percebido.
Eu nunca tinha falado com alguém tão emocionada igual essa garota, mas pra início até que não era tanta tortura, sem contar que ela era tão linda mesmo com aquela roupa, e também me trouxe uma certa segurança de que me ajudaria bastante a espantar a tensão daquele lugar.
É... não estava tão ruim como pensei logo de ínicio (essa é a parte boa pra quem é pessimista como eu era).
- Eu vou ter que vestir essa roupa?
Perguntei para freira que ficou responsável por me explicar como as coisas funcionariam ali, na esperança de que as novatas não precisassem usar, logo em seguida da D/c ir embora sem mais delongas e despedidas.
- Claro, mas como a Catarina me contou que você é...
Ela disse gaguejando como se o que fosse falar seria pecado.
- Puta?
Perguntei rindo.
Ela disse rápido por estar constrangida:
- Você vai começar a vestir só amanhã, e não é igual a das freiras, as novatas são diferentes. Ah... e seu quarto a mocinha do seu lado irá lhe mostrar.
Ela quis dizer... "as putas são diferentes?" ou eu que sou usada de mais? saiu até orando uma Ave Maria, desculpa Deus mas eu não me contive e ri, na verdade eu gargalhei.
As freiras não podiam contar seu nome, o que não era o meu caso, a D/c tinha me posto lá só para ver se eu virava uma "moça direita".
Subi pro quarto meu e da Caty (apelidei-a assim; e que quarto maravilhoso) enquanto ela não parava de saltitar dizendo o que a gente ia fazer rindo como uma criança que ansiava pra ganhar doce:
- Faz anos que estou aqui, e anos que ninguém divide o quarto comigo... então já que estou habituada as regras e horários, daqui exatamente (conferiu o relógio) 03h 47 min e 55s é o almoço, e hoje não temos aulas pela manhã porque quem fica aqui nos finais de semana passa o dia rezando, então segunda é uma folguinha matinal.
O que a gente vai fazer primeiro? Bets? Roubar hóstia? se arrumar? dançar na sacristia?
-Nadinha de nada.
Respondi morta de cansaço só de ouvi-la falar tanto e me deitando na cama, senti uma pontada de dó da solidão da qual aparentemente ela não gostava.
Eu era puta, mas uma puta sensata.
- Você nam...
Antes que ela pudesse terminar bateram na porta, a adrenalina entrando pelo meu corpo, o coração quase saindo pela boca, a garganta como se estivesse algo trancando-a, a barriga como se fosse explodir, dor da fome e refluxo ao mesmo tempo, eca. Isso tudo por medo de alguém ouvir e contar para D/c o que a morena tinha dito segundos antes, medo de ficar sem falar com o Fred, não amava ele mas era meu único amigo (e refúgio vamos se dizer assim).



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