Se a D/c descobrisse (ela descobre quase sempre, é incrível como ela parece tanto vidente sendo católica) eu ia ficar por tempo indeterminado naquele colégio, ou seja, morando. Mas pela adrenalina do momento nem pensei nisso, era tão bom sentir aquilo de novo depois de tanto tempo.
- É o único jeito. Você quer ou não quer sair logo daqui?
- Eu quero, só me responde uma coisin...
Me enterrompendo como sempre.
- Depois que saírmos daqui você pergunta tudo e mais um pouco, agora anda logo, tem uma janelinha ali olha.
Conseguimos finalmente sair daquele terrível lugar, com muito esforço pra chupar os pneuzinhos da barriga passando por aquela janela minúscula.
- Uma parte já se foi.
- Sim, agora falta entrarmos com isso sem a novata ver, e depois...
- Eu estou falando da minha alma, ela se foi junto com a novata saindo de lá.
Sim, finalmente chegou minha vez de interrompe-la também.
- Óoooo meu Deus.
Disse ela com ironia colocando as mãos sobre a testa fazendo drama.
Entramos sem que a novata percebesse, e até que foi fácil por incrível que pareça, e passamos a noite conversando sobre coisas das quais não tinham nem me passado pela cabeça perguntar para a Caty. Mas é melhor assim, quando as coisas acontecem espontaneamente.
- Por...por quê você está tentando fazer tudo isso se não vai poder sair daqui?
Perguntei meio reciosa, porque isso me fazia sentir um pouco de dó dela.
- Ai Niv, tantas coisas.
Ela disse meio tristinha, o que me fez sentir que não deveria perguntar mais sobre aquele assunto, por mais estranhamente estranho e aleatório que aquilo fosse pra mim, pra ela podia ser algo ruim de se falar.
- O padre Tatyword, e a minha freira mãe...
Não perguntei nada, só esperei ela continuar a frase caso quisesse, não queria pressioná-la.
- O padre daqui é meio... qual a palavra mesmo?
Disse ela perguntando a si mesma, e pra quebrar o gelo eu disse rindo:
- Safado?
Acho que em vez de quebrar o gelo, foi como se eu tivesse o colocado pra congelar de volta. Como sempre eu falando merda.
- É bem isso mesmo.
Ela disse tão desanimada.
- Aconteceu a mesma coisa com você?
- Então aquele dia que ele te chamou na sua sala...
- É...
E foi naquele instante que o segredo deixou de ser segredo...
Sem comentários pra isso.
Aquela noite passou rápido, o nosso plano foi QUASE concluído com sucesso, só faltava algumas coisinhas.
- Hora de acordar bela adormecida.
- Vó você aqui, mas já?
- Meu deus hein, cheia de olheiras, o que andou aprontando?
O frio já estava percorrendo a espinha só de ter acordado com a voz dela, quando ela disse isso então...
- Ué, não posso nem ter insônia em paz?
- Tá bom, finjo que acredito.
Ela disse me olhando com deboche, de sobrancelha levantada.
- Agora anda logo, porquê já te deixei dormindo mais um pouco, como você sabe a gente demora pra chegar lá e mineiro não perde o trem.
- A GENTE VAI DE TREM? Mas nem tem trem aqui.
- É uma expressão pra dizer que eu Catarina, gaúcha como sou, não me atraso. Sua boba.
É, realmente eu era muuuuito lerda.
Quando cheguei lá, morta de cansaço por não ter dormido quase nada, e tensa com aquelas coisas na minha bolsa (que inclusive a D/c desconfiou e perguntou por que eu estava levando coisas pra lá se já tinha em casa), adivinha quem estava me esperando?
Vocês realmente não fazem idéia, quando eu estava chegando e a D/c disse que tinha uma surpresa pra mim, eu imaginei que ela tinha feito minha comida preferida (sufle de couve-flor), ou o Fred estaria me esperando, e pro meu verdadeiro espanto realmente foi uma surpresa na qual eu jamais imaginaria.
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Em busca da verdade
MaceraNiv é uma garota de 16 anos cheia de confusões e questionamentos, vontades e curiosidades, que é enviada para um colégio interno de freiras contra sua própria vontade, durante esse tempo ela tenta aproveitar o máximo sua vida lá dentro e acaba conh...