30 - Confronto

3.8K 482 711
                                    

Sexta-feira

Artemísia

A primeira semana de férias não é muito boa para mim.

Eu fico a maior parte do tempo trancada em casa, terminando de assistir Avatar, estudando para os vestibulares que se aproximam e ajudando minha tia com o que ela precisa.

A maioria dos meus amigos andam ocupados, então mesmo se eu quisesse fazer algo diferente não teria companhia para isso. Melanie e Kylie estão fora da cidade, Yohanna está passando muito tempo com  sua nova ficante e Felipe... Nós conversamos quando ele não está trabalhando, mas estou evitando me encontrar com ele.

É estranho, agora que nós voltamos a nos falar era para eu contar as horas até vê-lo outra vez como costumava acontecer antes, porém, eu não me sinto nem um pouco ansiosa para um próximo encontro.

Solto um suspiro com o pensamento enquanto ensaboo alguns do talheres na pia, o ruído da TV é audível de onde estou, assim como a voz de tia Silvia fazendo alguns comentários para vovó sobre o programa que elas assistem.

Por falar em encontro, não consigo parar de pensar no que tive com Jasmim. Foi rápido e repentino, mas o suficiente para desatar algum nó que esteve preso dentro de mim durante anos; e pensei que depois de chorar tanto aquele dia, parte da mágoa e do rancor que eu vinha carregando por ela diminuiriam, mas nada disso aconteceu.

O encontro com minha irmã me desestabilizou mais do que eu achava possível, se fico muito tempo sem alguma distração logo começo a reviver o ocorrido e lembrar de coisas que não quero relembrar. Saber que minha irmã estava por perto era uma coisa, vê-la é algo completamente diferente; porque isso torna tudo muito mais real.

Desde então meus pensamentos se tornaram mais agitados do que nunca. E os pensamentos sempre vêm acompanhados de palpitações, que me dão a impressão constante de que meu coração vai sair pela boca, e sentimentos de angústia e aflição que me causam uma vontade de chorar como uma criancinha.

Eu me sinto à beira de um abismo o tempo todo e odeio essa sensação. 

Preciso fazer alguma coisa para me livrar disso, penso soltando um suspiro exausto.

Minha tia foi atrás de um psicólogo para mim, mas como não temos condições de pagar nada no momento é provável que demore até que consiga agendar uma consulta gratuita. E não sei se consigo aguentar muito mais tempo sem surtar completamente. 

Meu celular vibra em cima da mesa e fecho a torneira, enxugando as mãos em seguida para poder pegá-lo.

Sorrio ao ver que é uma mensagem de Will. 

Nós temos conversado desde o início das férias e as dele aparentam estar bem melhores do que as minhas pelas coisas que me manda. A mensagem de agora diz que amanhã ele irá fazer trilha com o pai, para eu não estranhar caso ele não me mande nada.

Sinto os cantos da boca se elevando mais ainda em um sorriso largo e meu coração bate forte enquanto digito uma resposta, sentindo borboletas no estômago. 

Logo deixo o celular de lado e volto para a louça, ainda sorrindo sozinha feito boba. 

William faz eu me sentir de um jeito engraçado, é como se todo o peso de tudo que eu carrego dentro de mim desaparecesse quando falo com ele, e sinto como se eu fosse capaz de sair flutuando de tão bem que me sinto. 

Isso não é completamente novidade, Will já estava fazendo eu sentir coisas novas antes mesmo de viajarmos, contudo, naquela época isso me amedrontava e fazia eu me sentir sufocada. Porém, desde que nos acertamos não parece mais algo tão ruim e aterrorizante assim... Claro que ainda me assusta um pouco, mas estou começando a me acostumar com tudo isso.

Quid Pro Quo - Um Favor por Um Favor [REESCREVENDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora