Dificilmente paro em casa, fico tempo suficiente, para me sentir enjoado e solitário. Aqui dentro há lugares que, desde mudei para essa residência, não explorei muito bem. Alguns exemplos são: o porão e o sótão. O isolamento social, fez com que as pessoas criassem um vínculo maior com seu lar e se afastassem da curtição, e alguns como eu precisou deixar o trabalho de lado, e foi aí quando percebi que tinha algo me incomodando, algo que acabou passando batido, podendo ser comparado ao tique-taque do relógio de parede, tarde da noite, ficando alto suficiente para ser irritante.
Barulhos intrigantes, ruídos no piso em alguns cômodos da mesma forma, que ecoam quando caminho. Tudo isso, até então, nunca me incomodou, mas desde que fiz uma limpeza geral e coloquei vários objetos na garagem e pendurei uma placa dizendo: "Leve o que quiser, caso esteja interessado". As coisas começaram a ficar estranhas na minha casa. Não necessariamente, por me livrar de porcarias dos antigos moradores, mas por dar mais atenção a coisas que ignorava.
Peguei ela como qualquer outra coisa empoeirada, amontoada em vários destroços: uma boneca de porcelana, com a pele um pouco escura por conta da sujeira, o vestido desgastado, mofado e os seus olhos que ainda brilhavam, igualmente vivo, como o verde das águas no oceano cristalino.
Tenho certeza, que uma criança a levou ou estou enganado, recordo muito bem da pirralha puxando a camisa da sua mãe e dizendo que era a coisa mais bonita que já viu. Sua genitora, por outro lado, olhou com um olhar de descrença e um pouco assustada em razão do brilho vivo nos olhos daquela boneca. Isso é algo que incomodava de uma forma, que não sei explicar, certamente outras pessoas sentiriam o mesmo. Estava bebendo um pouco de chocolate quente na janela da cozinha, quando percebi uma aglomeração pequena de pessoas, olhando os objetos que almejavam levar.
Então, foi na última noite quando despertei, como de costume do meu sono pesado, para ir à cozinha fazer uma boquinha, que percebi que existia uma sombra se movendo no corredor. Tinha certeza, que era uma criança, por causa do tamanho e minha consciência estava muito além da sonolência. Se moveu de forma estranha, algo que você pode comparar a um stop-motion lento e sem pausas. A sensação era a mesma, conheço esse tipo de movimento das sessões de clássicos em preto e branco, como se estivesse assistindo um filme antigo, ao vivo.
Não fiquei assustado, muito menos pensei em oscilar na minha aproximação. Uma aura misteriosa cercava esse momento.
Dei um tapa, ainda com minha atenção grudada naquela coisa no escuro, com a palma da mão no interruptor. Imediatamente, aquele objeto caiu no chão, como se tivesse perdido suas forças. Comecei a coçar o meu traseiro com os pés descalços no assoalho frio, e encontrei a boneca com cabelos ondulados claros e grandes olhos. Ainda gritei, berrando em todas as direções, que se algum garoto estivesse dentro da minha casa, era melhor sair antes que chamasse a polícia.
Essa não é melhor ideia para assustar um possível invasor, sucinto porque minha autoridade foi a mesma, quando falo com um cachorro bagunceiro. Despreocupado e sem sinal de nenhum indivíduo, dentro da minha moradia, isso foi o suficiente para me jogar na minha cama novamente e fingir que nada aconteceu. Antes de apagar de vez, imaginei que seria uma boa ideia, deixar a boneca onde ela estava, porque não teria nada de valor e quase não tenho mobílias. Seja lá, o que aquela pessoa queria com aquele objeto, é melhor que levasse e não aparecesse mais.
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Desconhecido
Mystery / ThrillerAs histórias mais arrepiantes que você vai ler em toda sua vida. 🤫