A minha visão ficou turva enquanto tentava identificar onde encontro-me. Uma sensação de enjoo logo saltou sobre o desconforto, e percebi que havia alguma coisa enfiada pela goela abaixo, na minha garganta. Agoniado, tentei gritar por socorro, mas aquilo impedia-me de reproduzir algum tipo de voz, além do grunhido como se fosse um animal espremido. Comecei a puxar aquele tubo até jogar para longe da cama onde estou deitado. Tento me sentar e examinar o lugar, não há nenhum tipo de iluminação, além de um fraco feixe de luz vindo de trás da porta. Tento me levantar e percebo que há outras coisas presas no meu corpo: materiais hospitalares, fios, entre outras coisas. Começo a remover tudo e sinto uma pontada de dor na mesma proporção em que retiro aquelas "coisas" de mim.
No mesmo instante em que coloco as minhas pernas no chão e posiciono o meu corpo ereto, percebo o quanto estou fraco. Aparentemente, já estou deitado há muito tempo aqui. As lembranças são como fumaças na minha cabeça latejante. Tento chamar por auxílio, no meio de uma multidão silenciosa, tomada apenas pelo nada, não há ninguém dentro do hospital por alguma razão. Me perco nestes labirintos ocos e silenciosos, nada além dos meus passos são ouvidos enquanto faço o meu percurso. A única coisa que reconheço é o aroma podre vindo de todas as partes.
Durante o meu percurso de exploração, esmago dezenas de cacos de vidros e percebo que, por alguma razão, todas as lâmpadas foram danificadas.
Depois de muito caminhar atordoado, vejo em uma direção onde há uma fonte de luz, que parece ficar mais intensa ao final de um longo corredor. Percebo duas portas enormes de vidro, mostrando o lado de fora com a radiação do Sol brilhando forte e ofuscante no céu. Finalmente aliviado por sair desta caixa morta, aperto os meus passos, colocando as mãos contra os olhos, sentindo-me contente porque, finalmente, irei encontrar alguém, uma pessoa que irá explicar o que está acontecendo e como vim parar aqui.
A poucos metros da saída, percebo um formigamento no meu corpo se espalhando por todas as partes, como milhares de agulhas, na mesma proporção em que aproximo-me do meu objetivo. Minha audição fica estranha, como se existisse algo impedindo-me de ouvir. Então, um detalhe realmente apavora-me mais uma vez: pelas grandes portas de vidro, percebo carros abertos, coisas espalhadas no chão e o silêncio mortal de fora é tão grande quanto o que existe aqui dentro. Sendo guiado automaticamente, desorientado e apertando os meus olhos para enxergar o máximo que consigo do mundo exterior, dessa vez andando mais lento, algo se joga em minha direção, agarrando minha roupa hospitalar e me arremessando distante com tanta força que o meu corpo fraco, por ter acordado como se tivesse dormido por milhares de anos, não resiste à inesperada investida.
"Está querendo se matar, seu merda?!" - vejo um homem com roupa hospitalar e um nome na sua camisa: "Marqueiro", mostrando que é um algum funcionário do local. O primeiro contato humano não foi da forma que eu desejava.
"Por favor... o que está acontecendo?" - questiono enquanto o homem está com os olhos apavorados fitando a porta vazia, como se existissem dezenas de cães raivosos prontos para nos atacar. Eu não vejo nenhum sinal de vida além do nosso. Do outro lado, simplesmente, o vazio prevalece. Logo, uma pontada de pânico dominou o meu corpo, achando que ele se tratava apenas de um maluco, assimilando a ideia de que encontro-me em apuros. Na condição que estou, não tenho meios favoráveis para lutar.
Uma mulher grita atrás da parede, ordenando ao sujeito que me levasse até ela. Deixando a delicadeza de lado, ele me arrasta pelo braço como se eu fosse um brinquedo, e me joga contra a parede mais uma vez perguntando se eu estou louco. Confuso e sem entender nada, apenas fico olhando para aqueles dois rostos desconhecidos me enxergando com indiferença, os dois compartilhando o mesmo olhar, como se eu simplesmente tivesse perdido o juízo por ter tentado sair de dentro do hospital. Eles carregam a mesma atenção para o longe, para a porta, como se existisse um monstro ali, algo que a qualquer momento irá nos agarrar, sinto uma conspiração evidente pairar no ar. Eu não vejo nada, apenas a saída, carros do outro lado, coisas espalhadas que não consigo distinguir e nada além disso. O que merda está acontecendo, penso comigo mesmo.
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Desconhecido
Mystère / ThrillerAs histórias mais arrepiantes que você vai ler em toda sua vida. 🤫