— O que tá fazendo? — questionei, assim que o vi despejar a pasta nas cerdas da escova.
Ele a levou à boca e, com a voz engasgada graças ao objeto, respondeu:
— Armando uma bomba nuclear.
Rolei os olhos, decidida a apagar todos os pensamentos minimamente bonitinhos que tivera sobre ele no último minuto, conforme cruzava os braços em frente ao corpo.
— Tá parecendo um mico-leão-dourado com raiva. — afirmei, referindo-me ao líquido esbranquiçado que ameaçava escorrer pela lateral dos seus lábios.
— Você parece um filhote de musaranho, e nem por isso eu fico falando.
— Tá me chamando de minúscula? — Indignação refugiou-se nas sílabas.
Ele cuspiu na pia e ligou o fluxo de água, levando a mão em concha inundada do líquido à boca.
— Tudo depende do referencial. Por exemplo, com relação ao meu dedo, você é pequena. Mas com relação à um átomo, talvez seja um pouco maior.
Estreitei as sobrancelhas em evidente ultraje, mirando a expressão pretensamente cínica em seu rosto assim que se virou para mim.
— A sua testa, Jader! Qualquer coisa é pequena pra uma pessoa que dá um tapa na lua se levantar o braço!
— Que exagero! — Falsa seriedade inundou a afirmação. — Só aconteceu uma vez.
Não consegui reprimir o riso.
— Primeiro, vomita em cima de mim, depois me chama de filhote do menor mamífero do Brasil... — Ergui dois dedos, contando.
— Já falei que aquilo foi um acidente. E já coloquei sua blusa pra lavar. — justificou, o rosto adquirindo um suave tom róseo. — E foi você que me chamou de mico-leão-dourado primeiro! Eu pensei que era lindo, com olhos que parecem balinhas de caramelo...
Minhas bochechas se abrasaram de forma muito semelhante à atmosfera de Vênus diante da menção ao que eu dissera após a queda na praça. Mas antes que pudesse responder qualquer coisa minimamente geniosa, um estrondo ecoou, tão pungente que era como se mil nuvens tivessem trovejado aos pés dos nossos ouvidos.
O susto disparou minha pulsação e me fez entrar no banheiro, acomodando-me ao lado de Jader com os olhos arregalados em um pânico quase palpável, enquanto mirava o corredor na expectativa de ver o que poderia ter causado o ruído.
O garoto tinha as mãos pressionadas contra o mármore da pia, tão forte que os nós dos dedos se tornavam vertiginosamente ainda mais esbranquiçados, e as feições assustadas em seu rosto replicavam as minhas.
— Que caralho foi isso? — questionei, fitando-o.
— Eu não sei, e também não sei se quero ir olhar. — Seu tom foi baixo, carregado de receio.
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Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Estou Fazendo Aqui
Teen FictionCarmelita Silveira se meteu em uma confusão de níveis estratosféricos. Portadora de uma boca indomável e uma delicadeza cavalar, a garota tem certeza de que sua solteirice aguda é genética, graças a uma estranha maldição que parece cercar as mulher...