14: Bolachas do Mar e Ornitorrincos

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— Jader

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— Jader. — entoei, inclinando a cabeça para trás enquanto o ar escapava dos meus pulmões.

— Como soube que era eu? — indagou, confusão preenchendo as sílabas.

Pendi a cabeça para o lado e caí na órbita do seu olhar, minhas bochechas roçando na maciez do estofado.

Seus cachos de concha desaguavam pela testa em um ligeiro descompasso de fios, modelando os traços das suas feições cintilantes parcialmente iluminadas pelas luzes que pulsavam em pura fluorescência ao nosso redor; um brilho errante, tão bagunçado e bonito quanto Jader.

— Você tem um cheiro muito característico.

Ele estreitou os olhos, pendendo o rosto na direção do ombro para inspirar o ar à procura da confirmação para a minha frase, e uma ruga de dúvida se formou por entre as sobrancelhas logo depois.

— Eu cheiro mal?

Um riso escapou da minha garganta.

— Não é isso. Você cheira a algo tipo sal, baunilha e alguma outra coisa que eu ainda não decifrei, mas que nunca senti em ninguém. É um negócio só seu, e não é ruim.

— Ah! — exclamou, genuíno alívio contido na palavra. — Espera, sal tem cheiro?

— Tem. — Soei óbvia. — Tipo aquele cheiro de maresia que a gente sente quando vai pra praia. Quer dizer, aqui a gente sente cheiro de peixe podre também, mas tira essa parte e deixa só o negócio da maresia.

Ele soprou uma risada, suas íris derramando estrelas de uma constelação em espiral nas minhas.

— Reparou tanto assim no meu cheiro?

Rolei os olhos.

— Jader, eu passei a semana praticamente toda na sua companhia. Foi inevitável.

Ele curvou os lábios em uma careta engraçada, e seus dedos alcançaram um dos fiapos que escorriam do rasgo da calça no meu joelho, pondo-se a torcer o pequeno pedaço do jeans por entre as digitais.

— Eu não consigo sentir o cheiro dos outros assim. Sei lá, tenho que estar muito perto, tipo com o nariz na pessoa, e eu não vou chegar metendo o nariz nos outros, obviamente. É coisa de tarado.

Dei risada.

— Tenho que concordar. É que eu meio que gosto de ficar captando detalhes das coisas, pra tentar descrever depois, de um jeito meio... eu. — expliquei, e, notando seus cílios apertados em confusão para mim, percebi que provavelmente precisava de um exemplo. — Tipo, eu digo que salgadinho tem gosto de câncer.

— Ah, eu sei como é esse gosto! — Seu tom foi empolgado. — É aquela coisa que derrete na sua língua de um jeito tão foda, mas seu cérebro fica dizendo tipo “Para de comer isso, seu idiota, você vai morrer, olha o tanto de sódio que tem nessa porcaria”. Mas você continua comendo, porque é bom pra caramba.

Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Estou Fazendo AquiOnde histórias criam vida. Descubra agora