Tive dificuldade em níveis estratosféricos para prestar atenção no que se desenrolava na enorme tela à minha frente, pois, a todo momento, minhas orbes escorregavam para o assento encostado na parede, duas fileiras além do meu, onde Jader estava.
Nunca desejei tanto o ataque dos ratos devoradores de pipoca como naquele momento, porque, se acontecesse, certamente teríamos que evacuar a sala de cinema. Talvez uma ou duas pessoas saíssem mordidas e possivelmente com leptospirose, mas, ainda assim, eu teria alguma chance de fugir e me livrar daquela maldita gravidade que emanava do ruivo.
Poderes telecinéticos também me faziam muita falta, já que, com eles, poderia explodir a tela imensa há alguns metros de mim e todos teriam que ir para as suas respectivas casas.
Entretanto, ao mesmo tempo que eu queria desesperadamente correr, também estava inegavelmente curiosa.
O que ele fazia ali? Digo, obviamente eu sabia a resposta para essa pergunta, mas a questão era: Ele sabia que eu estaria no cinema? Paulo o contara? Ou queria simplesmente ver um filme e, por um acidente estranho do destino, tínhamos nos encontrado puramente por acaso?
Em dado momento, pude vê-lo se levantar e passar pelas pessoas acomodadas na sua fileira, até tomar o corredor embebido no tapete vermelho em direção à porta de entrada do lugar.
Diante da oportunidade, levantei-me em um ímpeto, recebendo as íris reluzentes de Antônio no meu rosto sob a escuridão parcial que nos banhava.
— Vai sair agora? Tá na melhor parte... — comentou, ligeiro desapontamento percorrendo seu tom.
— Preciso ir no banheiro. É rápido. — respondi, e me pus a passar pelos pares de pernas que se estendiam ao nosso lado.
Assim que fechei a porta atrás de mim, o breu dando lugar às luzes cegantes que se estendiam pela sala da compra de ingressos e comidas nos balcões, olhei para todos os lados e, não vislumbrando o ruivo, deslizei para o corredor que dava para os banheiros a tempo de vê-lo caminhando rumo ao masculino.
— Jader. — Minha voz ecoou.
Ele estacionou no lugar, mergulhando as mãos nos bolsos da calça jeans que lhe abraçava as pernas e, no instante seguinte, olhou por sobre o ombro, o queixo roçando no tecido preto da camisa.
Foi estranho vê-lo tão monocromático.
— Oi, Carmelita.
Engoli o seco, que desceu arranhando minha garganta.
— O que você tá fazendo aqui?
Sua sobrancelha se ergueu.
— Tô esperando o filme acabar pra tocar um banjo nos créditos finais.
A ironia me fez rolar os olhos, apesar de saber que fazer perguntas potencialmente óbvias para Jader implicava em respostas desse tipo.
— Você é um idiota.
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Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Estou Fazendo Aqui
Teen FictionCarmelita Silveira se meteu em uma confusão de níveis estratosféricos. Portadora de uma boca indomável e uma delicadeza cavalar, a garota tem certeza de que sua solteirice aguda é genética, graças a uma estranha maldição que parece cercar as mulher...