Capítulo 06 - Tudo sendo resolvido

119 13 3
                                    

Eu estava em choque. Não sabia o que dizer ou fazer. Caio simplesmente escutava tudo que eu dizia ter acontecido quando aquela mulher de maneira inconveniente abordou Thales e eu. Com as emoções em completa confusão, não tinha a mínima ideia de como prosseguir daqui pra frente.

Segundos de espera se passaram com Caio absorvendo todos os detalhes. Por fim, ele fez a pergunta que hora ou outra rondava minha mente:

— Mas você conseguiu ouvir ou ver o que ele falou?

— Não — afirmo com nó na garganta. Eu ansiava querer saber a resposta para essa maldita questão. Como Thales reagiu? — Eu simplesmente fugi...foi isso.

—Então, acho melhor agora a gente ir deitar e ver amanhã o que podemos fazer porque eu acho que ele vem falar com você. E você poderia tentar explicar por mensagem.

— Não vai ser necessário. Ele está me enchendo de mensagens desde de que tudo aconteceu, e eu decidi que amanhã eu vou até a casa dele e conto tudo.

Ele respirou fundo.

— Hora de dormir então.

Caio me ajudou a retirar a maquiagem. Em seguida me troquei, retirando os brincos e o meu colar. Amanhã seria um dia e tanto.

No dia seguinte acordei por volta de 11h, minha vó ainda estava no namorado dela, o que sabíamos que ela poderia ficar lá alguns dias já que ela viajava com ele.

Deixei Caio dormindo e fui me arrumar para ir direto ao ponto máximo do dia: falar com Thales. Estava mais do que na hora de esclarecer tudo. Terminei de me arrumar e só dava uma passada de rímel, logo em seguida ia fechando a porta.

A casa de Thales, era A CASA, localizada no meio do morro, antes era uma pequena casa que ao longo do tempo Thales foi crescendo e junto de seu primo aprimorando e o transformando em um Castelo.
Ouvi uns dos seguranças conversarem entre si e decidi que seria uma boa ideia apresentar os detalhes.

— Então, diz pra ele que é a Alice, ele já deve estar me esperando.

— Beleza, você já é conhecida daqui, falam muito de você. Sobe lá!

É, ser trans é isso, ser conhecida sem nem conhecer ninguém, acostumem.
Entrei na casa dele subindo uma escada que dava na porta de entrada que estava entreaberta. Me dou conta de que havia alguém no sofá da sala. Alguém que eu não queria ver se possível nunca. É aquela garota que me chamou de traveco. Meu sangue ferveu com apenas uma atitude a ser tomada. Eu precisava revidar. Pôr pra fora o que não tive coragem de fazer antes.

— Me chama de traveco agora sua biscate ridícula! Chama! — dei um tapa em seu rosto, aproveitando a situação de desorientação dela para avançar com mais afinco, não querendo deixar espaço pra ela agredir.

— Sai de cima de mimm!

Com a gritaria toda, vejo Thales correndo pra sala e se deparando com aquela cena, dois seguranças dele sobe e ouço Thales dizer:

— Leva a Vanessa daqui! — Ele me olhava com um riso no canto da boca e  após todos saírem do ambiente ele fechou a porta olhando para mim.

—  Nossa, você perdeu a finesse rapidinho. — disse, seu tom de voz contendo uma nota risonha.

Faço uma careta ainda tentando me controlar.

— Ah, ela já não tava me descendo desde de o dia do baile, ele ainda quis fazer aquilo que fez ontem. Que aliás eu vim te dizer... — digo, tentando manter a postura firme e reservada. Aproveito para estudá-lo com atenção, observar seja qual for sua reação.

— Dizer o que? — perguntou.

Pigarreio. Certo, só era falar. Mas por que isso está tão difícil no momento?

— Bem, me explicar, Thales..

— Que você é uma mulher? porque pra mim não existe nenhuma diferença em você ser trans ou não, você é uma mulher, uma linda mulher.

A perca de palavras me devorou. A constatação de aceitação e conforto por parte de alguém que eu gostava me envolveu em cobertores de alívio e felicidade.

— E o que ela estava fazendo aqui? — eu o encaro intensamente.

Ele rolou os ombros em sinal de descaso.

— Veio insistir em voltarmos a ficar, ela não larga do meu pé, mas eu já estava colocando ela pra fora mas aí você chegou antes, e fez isso muito bem por mim. — Observava ele alisar a minha perna e ouvia ele terminar de dizer: — Não sabia que você era tão bravinha, hein.

Ele sorriu pra mim, escondendo a pistola que carregava na cintura e sentando-se ao meu lado

—  Então por que você não veio atrás de mim ontem, quando ela disse aquilo?

—  Por que eu tratei de resolver com ela, disse pra ela te respeitar, e que tomasse conta da vida dela. Eu até pensei em ir até sua casa, mas não quis te assustar, e esperei você vir falar comigo. Porque eu sei você iria vir, e olha... — Thales se aproxima de mim de forma sugestiva, seu perfume alcançando meus sentindos me fazendo entrar numa espécie de torpor.— Eu tô gostando de você Alice, gostando de estar com você, e pra mim, isso de você ser trans ou não, não tem a menor diferença pra mim, e sim o que você está me trazendo de bom e despertando.

Nesse momento ele alisava a minha mão e em seguida ele levantava e ia até a cozinha, trazendo uma caixinha e  me dando.

— Abra.

Fiz o que ele pediu olhando com admiração um colar de corrente grossa e dourado. Eu sorri.

— Nossa, Thales! — ergo os olhos cheio de felicidade para ele. — É tão lindo, mas eu não posso aceitar isso.

— Pode e você vai. Não aceito não como resposta. Porque eu quero te mostrar que eu tô levando a sério isso. E por favor, aceite isso como um pedido de desculpas sobre o que aconteceu entre mim e você hoje.

Tão encantador. Como poderia recusar isso?

— Tudo bem, eu aceito.

— Vire-se. Deixe-me colocar essa preciosidade em você. Ficará perfeito.

Ruborizada, deixo ele colocar com delicadeza o colar. A proximidade trazendo o calor reconfortante do seu corpo.

— Pronto. — ele me gira, olhando-me com atenção. — Você está linda.

— Obrigada.

— Bom... eu vou ter que dar uma saída agora, se quiser me esperar pra gente fazer alguma coisa, você que sabe, já volto! Fique a vontade aqui em casa.

INTENSA COMO A VIDA Onde histórias criam vida. Descubra agora