Blackbird - The Beatles

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Número de palavras: 4.276

"Sempre penso o que deve ser
O que o mundo quer de mim?
Eu sigo regras que não criei
E eu não penso assim.
Pareço legal e sei como ser
E se eu mostrar quem eu sou? Talvez você queira ir embora"

Lumos, 2014.

Nymphadora Tonks encarou o seu próprio reflexo através do espelho de sua penteadeira e fixou a sua especial atenção na coroa que adornava o seu belo penteado. Estava cansada daqueles eventos, sempre tão burocráticos, sempre iguais, ela estava simplesmente exausta de ser a pessoa que era naquele instante. Tonks seria uma hipócrita se dissesse que odiava a vida de princesa, havia sim inúmeras partes boas regadas de privilégios dos quais pouquíssimos possuíam a chance de usufruir, mas, ao mesmo tempo, sentia-se deprimida com a vida que tinha.

Ela nasceu com o título e, como uma maldição, vivia condicionada a ele. Preparava-se para ser uma monarca desde as primeiras palavras, estudou sozinha matérias extremamente complexas focadas na administração do reino, passou grande parte da sua adolescência cumprimentando embaixadores e tomando chás com duquesas tão fúteis quanto a coroa em sua cabeça. Ela nunca teve uma escolha, nunca teve amigos dos quais confiasse cegamente, nunca teve autonomia até mesmo para escolher as próprias roupas, tinha dinheiro, isso era inegável, mas nenhuma riqueza, coroa ou poder poderia trazer a tal da felicidade que ela tanto lia nos livros da biblioteca real.

Por conta do assédio da mídia, Tonks cresceu praticamente trancafiada no castelo, suas aparições públicas eram resumidas a eventos de filantropia, algumas viagens diplomáticas e eventos da alta sociedade burguesa. Presa em seu mundo perfeito, Tonks constantemente reavaliava sua vida e concluía com rancor que, se morresse naquele momento, não se orgulharia dos seus feitos, como se orgulharia? Ela não tinha nenhuma conquista pessoal, tudo foi dado a ela com muita facilidade. Tonks sentia uma terrível lacuna em seu peito, ela tinha 22 anos e não conseguia se orgulhar de nada em sua vida.

A morena encarou as joias postas a sua escolha na penteadeira e apenas via brilhos frios de diamantes que, subjetivamente, não valiam absolutamente nada, ela era isso? Uma joia que decorava um sistema? O que ela era e quem ela queria ser? Eram perguntas que rondavam a sua mente e, sem perceber, roubavam todas as suas alegrias. Ela estava perdida, todos a diziam o que fazer, comer, vestir, até mesmo o corte de seu cabelo não era uma escolha e, aos poucos,  Tonks se perdeu de si mesma. No meio de tantos mandamentos, normas, protocolos, o que ela era afinal? Ela era só a princesa de Lumos? Só um título sem graça? Sua vida era tão ridícula assim?

— Que cara é essa? — Marlene questionou enquanto brincava com os brilhos do seu vestido.

— Nada, eu só estava pensando — sorriu socialmente como sempre fazia quando não queira entrar em detalhes.

De certa forma, Tonks estava envergonhada, sentia-se um fracasso como herdeira e seu lado mais pessimista a dizia que ela seria uma péssima rainha para o seu povo. Lumos não merecia uma princesa como ela, merecia alguém que realmente quisesse reinar e soubesse exatamente como suprir as necessidades do país. Ela possuía apenas uma única missão e até nisso ela conseguiu fracassar.

Tonks mirou a loira pensando em dizer algumas palavras que aliviassem aquele peso, mas se restringiu a um breve suspiro cansado. Marlene e Tonks não eram bem amigas, a loira morava na região agrícola do país e quase nunca frequentava os centros urbanos da capital, viam-se com pouquíssima frequência, mas sempre eram encontros agradáveis e divertidos da maneira que o protocolo exigia.

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