CAPÍTULO 15

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Cidade de Cancún, 22 de agosto de 2021. O último dia no acampamento amanhecia com um céu limpo e o calor típico da região. Ninguém queria ir embora. Tudo ali parecia perfeito: a paisagem deslumbrante, o clima agradável e a sensação de liberdade que só aquele lugar proporcionava. Para aproveitar ao máximo as últimas horas, decidiram fazer uma escalada até um monte alto e imponente que ficava ali perto. A vista de lá prometia ser inesquecível, mas o trajeto não seria fácil. Ainda assim, estavam animados. Antes de partirem, reuniram-se na cantina para tomar café e se preparar. O cheiro de café fresco e pão quente tornava o ambiente mais acolhedor. Entre ajustes nas mochilas e conversas animadas, tentavam ignorar o fato de que, em poucas horas, teriam que dizer adeus àquele lugar.

— Vamos lá, pessoal, porque a gente tem que escalar uma montanha hoje! — Ambry levantava a xícara de café, animada, enquanto sua voz ecoava pela cantina. — É nosso último dia aqui, e eu não quero ouvir ninguém reclamando de cansaço. Temos que aproveitar cada segundo desse lugar maravilhoso, porque depois só vai restar saudade! Então, tratem de encher os estômagos e se prepararem, porque essa escalada não vai ser fácil.

— Engraçado como vocês conseguem se empolgar para subir uma montanha, mas não parecem nem um pouco preocupados com o fato de que alguém tacou fogo na cabana ontem à noite. — Alec cruzava os braços, olhando para todos com um semblante sério. — Eu não sei vocês, mas eu ainda acho bem preocupante que a gente esteja convivendo com um possível lunático. Um piromaníaco, talvez. Como é que vocês conseguem simplesmente ignorar isso? Como se fosse só mais uma coisa qualquer?

— Não estamos ignorando, Alec. — Emma suspirava, apoiando a xícara na mesa antes de encará-lo. — Só não tem muito o que possamos fazer neste momento. Claro que podemos abrir um boletim de ocorrência, ainda mais depois do que aconteceu. Mas sejamos realistas, a polícia é a única que pode resolver isso agora. Se a gente ficar só se preocupando sem agir de fato, não vai adiantar nada.

— Pelo menos essa conta não postou mais nada sobre vocês duas, né? — Aurora tentava quebrar um pouco a tensão, recostando-se na cadeira e olhando para Sofya e Emma. — Porque, sinceramente, a essa altura, eu já nem sei o que é pior. Se a pessoa por trás dessa conta continuar postando aquelas coisas horríveis sobre vocês ou se decidir tentar matar de vez. Eu acho que eu preferia quando ela só postava. — Ela riu, mas seu tom carregava um misto de ironia e inquietação.

— E é exatamente isso que me incomoda! — Ster inclinava-se sobre a mesa, olhando para as duas com uma expressão confusa. — Eu ainda quero muito entender o que essa pessoa tem contra vocês. Porque não faz sentido nenhum esse ódio todo. A internet está cheia de gente que fala mal dos outros, mas isso? Isso já passou de qualquer limite aceitável. O que essa pessoa quer? O que ela ganha com isso?

— Eu também queria saber. — Sofya cruzava os braços, seu olhar perdido por um instante. — Porque, sinceramente, eu não me lembro de ter feito inimigos, e muito menos a Emma. É claro que, no nosso meio, sempre vai ter gente que não gosta de você por qualquer motivo idiota, mas isso? Isso é pessoal demais. E se for vingança… vingança pelo quê? Nós nunca fizemos mal a ninguém.

— Talvez não tenha nada a ver com o que vocês fizeram. — Thomas finalmente se pronunciava, sua voz soando mais baixa e reflexiva. — Pode não ser sobre algo que vocês fizeram de errado, mas sobre o que vocês representam. Vocês duas sempre tiveram uma amizade linda, sempre foram próximas. Isso com certeza incomodou muita gente. Pode ser só inveja. Inveja é um veneno, e algumas pessoas deixam isso consumir tanto que passam a agir de maneira irracional.

A inveja e a vingança têm o poder de destruir vidas. Elas rompem laços, arruínam amizades, desestruturam famílias e criam feridas que talvez nunca cicatrizem. Quem queria se vingar de Emma e Sofya não era a única pessoa consumida por esse desejo. A sensação de que algo maior estava acontecendo pairava no ar. Enquanto limpava a casa, Vitória não esperava encontrar nada de incomum. Mas, ao entrar no quarto de Lígia, algo chamou sua atenção. Um detalhe fora do lugar, um objeto que não deveria estar ali. Seu coração acelerou. Aproximando-se devagar, percebeu o que era e sentiu um arrepio percorrer seu corpo. Ela tentou organizar os pensamentos, mas o choque e a inquietação eram mais fortes. Seu instinto gritava que aquilo era sério, que precisava agir. Com as mãos trêmulas, pegou o telefone e ligou primeiro para a polícia, depois para suas amigas. Sua voz saiu tensa, carregada de urgência.

Amizades imperfeitas Onde histórias criam vida. Descubra agora