Capítulo 1- O encontro

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*Jace*

Devo admitir que nunca pensei comportar-me de forma tão mundana como estou agora. Na noite da exposição da Clary, e da nossa troca de olhares(intensa), ela convidou-me para uma visita guiada ao museu e uma descrição detalhada dos seus quadros. A minha vontade de conviver com tantos mundanos era mínima, mas para estar junto da Clary, a ouvi-la falar sem parar sobre o seu processo criativo fazia de tudo.

Custou-me ver os seus quadros, que a própria afirmava serem abstratos, mas eu sabia perfeitamente que não eram. Quem conhecia Alicante sabia reconhecer aquelas paisagens disfarçadas pelos traços de tinta aleatórios. De vez em quando a Clary afastava-se para cumprimentar alguém ou explicar algo e durante esse tempo perguntava o que estava eu, um Shadowhunter, a fazer naquele museu. Mas era mais forte do que eu, precisava de estar com a Clary fosse de que maneira fosse. Claro que não lhe disse a minha verdadeira identidade. Expliquei-lhe que ela me conhecia e sabia o meu nome pois tínhamos andado juntos no secundário. Ela pareceu acreditar, mas continuava a olhar constantemente para a minha runa do pescoço, a dizer que já tinha visto esta "tatuagem" em algum lado. Eu falei que era uma tatuagem bastante comum e ela aceitou rindo-se para mim. Que saudades tinha deste sorriso.

No final da noite, ela insistiu para trocarmos os números de telemóvel e eu claro aceitei. Fiquei um pouco reticente, mas disse para mim "Jace é a única oportunidade que tens para estar próxima da Clary" e este motivo valia por mil.

Nessa noite nem consegui dormir a pensar no próximo encontro, na próxima risada dela ou até mesmo no próximo toque.

Agora estou eu aqui, na cama a pensar se respondo ou não à sua mensagem. Já passou três dias e fico feliz pela Clary querer conhecer-me melhor. Contudo não sei se devo aceitar, somos de mundos diferentes, literalmente. A dúvida dura pouco tempo, pois no meu coração eu sei o quero fazer. Acho que é caso para dizer que as emoções toldaram o meu raciocínio. Visto-me e desço para o pequeno almoço. Encontro a Izzy e o Simon a almoçar numa mesa e espero que me convidem pois não quero ser a vela do casalzinho. A Izzy vê-me e chama-me para comer com eles e eu junto-me então ao casal. É bom ver que os Shadowhunters aceitaram a estadia do Simon bem. Sendo ele um downworlder podiam pôr entraves como aconteceu com o Magnus. Felizmente não aconteceu pois nunca vi a Izzy tão feliz. Esta aliança e aceitação entre shadowhunters e vampiros, feiticeiros, seelies e lobisomens foi a melhor coisa que podia ter acontecido e só gostava que a Clary pudesse ter conhecimento dela.

Depois de um dia a matar demónios tomo um banho e deito-me e penso, coisa que faço muito ultimamente. Dava tudo para lutar com a Clary a meu lado e chegar ao instituto depois de um dia de trabalho e poder abraçá-la, contar como foi o dia, coisas básicas que me fazem falta agora. É então que decido responder à mensagem da Clary. "Olá Clary, desculpa estar a responder agora, mas foram dias ocupados. Claro que podemos ir tomar café amanha à tarde". Ela responde me com um emoji a sorrir e combinamos as horas e o local. Depois da troca de palavras vou ter com a Izzy, que agora é chefe do instituto, a pedir a tarde de folga. Ela estranhou, mas concordou e disse que eu precisava de um tempo para mim. Sorri e dei-lhe um grande abraço, adoro-a e não sei o que seria de mim sem o apoio da minha irmã. Vou dormir, mas sono é algo que me falta. Não consigo não pensar sobre como será o encontro de amanhã e de tudo o que possa advir daí. Finalmente fecho os olhos e acordo com o sol a incidir na cara. Rapidamente passa a manhã e dou por mim à frente do café onde combinamos. Entro e vejo-a sentada a desenhar algo num caderno. Sorrio e recordo o quanto adorava vê-la desenhar. Ela vê-me e acena-me. Eu aceno de volta e desloco-me para a mesa.

-Boa tarde-digo eu

-Boa tarde- responde ela de volta.

Sento-me e ela guarda as suas coisas.

-Estou a ver que aproveitas todo o tempo que tens para desenhar.

-Sim -diz ela - Amo desenhar e é algo que me completa. Queres ver o que estou a desenhar?

-Sim, claro.

Ela abre o caderno e quando vejo o seu esboço o meu sangue gela.

- Sonhei com isto, acreditas? Depois da noite da exposição, sonhei com esta tatuagem e o mais estranho é que era tatuada por ti.

Olho para ela, e um misto de emoções percorre o meu corpo. Ela desenhou a runa da visão noturna, a mesma runa que eu ajudei-a fazer no elevador da esquadra da policia. Não sei o que pensar. Fico contente dela ter se lembrado de um momento nosso ou confuso por o nosso encontro ter desencadeado esta memória?

Ela deve ter-se apercebido da minha cara pois pergunta:

-Está tudo bem? A tua cara, parece que viste um fantasma.

- Está tudo bem, eu é que achei estranha a tatuagem e o facto de no ter sonho ter sido eu a tatuá-la.

-É estranho, não é? Mas pronto, fala-me sobre ti.

Eu começo a inventar, dizendo que trabalho de noite numa fabrica e que moro em Nova Iorque desde sempre e com a minha família. Felizmente ela não me pergunta mais detalhes e eu mudo a conversa para ser ela a falar. A conversa flui e quando o meu telemóvel toca, vejo que já passaram 3 horas e nenhum dos dois deu por nada.

-Desculpa é a minha irmã, dás-me licença?

-Claro está à vontade.

Saio da sua beira e vou para junto da porta e atendo o telemóvel.

-Izzy estou a meio de algo.

-Desculpa Jace é urgente. Um demónio anda a solta e precisamos de toda a ajuda possível.

-Claro vou já para aí.

Despeço-me da Izzy e vou até a mesa onde esta a Clary.

-Está tudo bem? -pergunta ela.

-Desculpa tenho que ir, emergência familiar.

-Claro está à vontade, depois combinamos qualquer coisa. Até breve-diz ela a sorrir.

-Até breve-digo eu a sorrir de volta e a tirar o dinheiro.

-Nem pensar, foi eu que convidei eu e que pago-diz a Clary muito segura de si, uma caraterística que sempre admirei nela.

-Okay, obrigada. -digo eu ao mesmo tempo que visto o casaco.

Saio do café sem olhar para trás, mas com um aperto no peito. É perante situações como esta que eu me pergunto, será que consigo ter um futuro com a Clary sendo esta mundana? Será que é possível uma relação em que uma das pessoas tem conhecimento de tudo e a outra conhecimento de nada? Será que um dia vou ter que optar entre a Clary ou o meu dever de Shadowhunter? Estas perguntas ecoam pela minha cabeça enquanto caminho pela rua.



Caros leitores, espero que gostem deste capítulo e de todos os futuros capítulos. É a primeira vez que escrevemos uma fanfiction e portanto gostávamos de saber o  vosso feedback.

Comentem e deixem a vossa estrelinha.

Iana :)

Shadowhunters: O apósOnde histórias criam vida. Descubra agora