Olá, pequeno gafanhoto!
Seja bem vindo a mais uma dica.Antes que você se assuste com o título deste capítulo, vou logo avisando que o assunto de hoje é mais simples do que você imagina. Vamos lá ver?
Sem enrolação, lanço as perguntas: você já ouviu falar sobre foco narrativo? O que você pensa quando ouve essas palavras? Que esse é mais um conceito gramatical difícil de entender? Que é um mais um trambolho inútil na língua portuguesa? Ou que foi o próprio Satanás quem criou? Mesmo que nunca tenha tido contato com o conceito desse mecanismo de escrita, você já o utiliza em seus textos. Todos nós!
Em termos descomplicados, o foco narrativo descreve sob qual ponto de vista a sua história será contada. Viu só? Simples, né? Dos focos narrativos, os mais utilizados são:
Primeira pessoa: quando o próprio personagem (o protagonista) narra os acontecimentos
Terceira pessoa: quando um narrador à parte conta para o leitor o que está acontecendo
Mas calma lá. Eu sei que você gritou internamente aí "dessa eu já sabia!", mas essas não são as únicas funções dos focos de narração. Senta a bunda no sofá e presta atenção (rimou). Dentro desses estilos de escrita, existem diversos subgrupos e é sobre eles que iremos discutir. Mas pode ficar tranquilo que vai ser molezinha!
NARRAÇÃO EM PRIMEIRA PESSOA
Com certeza você, vagando pelo Wattpad, encontrou diversas histórias as quais haviam mais de um foco narrativo. Isso é chamado de múltipla narração/foco narrativo, ou seja, quando mais de um personagem descreve os fatos do seu próprio ponto de vista (no caso da primeira pessoa) ou quando vários personagens estão sob o ponto de vista do narrador (no caso da terceira pessoa).
Ficou confuso? Calma que eu explico com um exemplo simples. Imagine que há dois personagens numa sala e um deles diz para o amigo: "Eu ganhei um presente!". Identificamos que essa fala está em primeira pessoa e em um tempo verbal passado, certo? Agora imagine que o autor da história quer narrar esse mesmo acontecimento só que do ponto de vista do outro personagem presente na cena. Seria algo como: "Nunca o vi tão excitado para abrir uma caixa de papelão. Seu sorriso de orelha a orelha deixava claro que não ganhara tantos presentes em sua vida". Você notou a diferença? Percebe que o primeiro personagem diz apenas que ganhou um presente, enquanto o outro descreve, sob seu ponto de vista limitado, o que o ele vê o amigo provavelmente sentir? E é esse o maior diferencial dessa técnica de narração. O personagem que ganhou o presente poderia ter descrito o que estava sentindo, mas mesmo que o fizesse, o ponto de vista do amigo poderia ser diferente do dele. Por isso destaquei o "provavelmente" acima: o outro personagem presente na cena não sabe o real sentimento que seu amigo presenteado está sentindo, por isso ele tem que supor apenas através do que vê. Isso é a perspectiva limitada.
A técnica de troca de pontos de vista geralmente descreve partes que o personagem não percebe ou não conta na história. Por exemplo, se numa narrativa o personagem está escrevendo uma dura carta de despedida para seus pais, seu semblante pode estar perfeitamente sereno, mas a descrição da situação sob o ponto de vista do personagem redator da carta mostra a sua real comoção. Ou seja, ele não demonstrará através do corpo o peso do que está escrevendo. Se essa mesma cena fosse descrita por outro ponto de vista (com perspectiva limitada), é possível que esse novo foco narrativo não perceba a emoção.
Entendeu agora? Viu que não é nem um pouco complicado?
NARRAÇÃO EM TERCEIRA PESSOA
Agora falaremos sobre o narrador, aquele ser invisível na história que nos revela até o mais íntimo sentimento dos personagens, que sabe de tudo, vê tudo, pode tudo e... pera... mas como isso é possível? Esse cidadão invisível aí também não deveria ter uma perspectiva limitada, já que não faz parte da história? Então... aqui na terceira pessoa a coisa muda um pouco de figura. Mas tenha calma... prometo que vou simplificar tudinho pra você agora mesmo!
Nesse foco narrativo da terceira pessoa temos dois subtipos de narradores. Vejamos quais são eles:
Narrador Observador: esse cara aqui apenas narra o que vê. Ele não tem conhecimento dos pensamentos e emoções que os personagens sentem. A concepção dele é limitada apenas ao que acontece externamente.
Narrador Onisciente: já esse mano aqui sabe de tudo o que acontece dentro e fora da narrativa. A palavra "onisciente" significa "sabe de tudo". Esse é unanimidade entre os amantes da escrita em terceira pessoa.
Você pode usar dois narradores da primeira pessoa em uma só história com perspectivas diferentes, começar um capítulo com um e, depois, passar pro outro, etc. O importante é que você marque uma ação semelhante nas duas perspectivas para o leitor não se sentir confuso com as trocas. Não entendeu? Se liga no exemplo:
PENSEM numa cena em primeira pessoa de uma menina passando ao lado de um garoto na rua. Vamos ver como isso ficaria da perspectiva dos dois?
perspectiva da menina: "Eu caminhava meio perdida pela calçada do meu bairro. Olhava a grama sendo regada, o canto dos pássaros, o balançar das árvores, as pessoas apressadas indo para o trabalho; eu, entretanto, mantive meus pensamentos apenas num momento infeliz que acabara de viver em casa. Uma sensação ruim que insistia em me perturbar. Papai e mamãe haviam brigado feio e descontado sua ira em mim. Decidi não confrontá-los. Apenas saí sem dizer uma palavra. Mas, como em um passe de mágica, todo o mau sentimento dentro de mim evaporou como água quando ele passou. Parecia que meu mundo finalmente voltara a brilhar de novo. A troca de olhares foi inevitável. Mesmo sem saber seu nome, era como se eu o conhecesse há anos. Eu não podia acreditar: 'essa merda de amor à primeira vista existe mesmo ou sou só eu sendo trouxa por causa de um padrãozinho de touca?', penso."
perspectiva do menino: "Eu havia acabado de sair para o trabalho. Era meio período, por conta dos estudos na parte da tarde. Com meus fones de ouvido, playlist MPB e uma touca na cabeça, andei pela rua como se nenhuma problema do mundo pudesse me atingir. Já basta ter de aturar minha família e seus dizeres irritantes a semana inteira. Mas finalmente era sexta, o último dia de trabalho antes do recesso para o carnaval. Após alguns minutos de caminhada, percebo olhares. Era uma menina. Ela estava me olhando estranho. Queria perguntar se ela havia perdido algo comigo, mas me mantive sério. Pensei internamente: 'mana, se liga. Da fruta que você gosta eu como até o caroço!".
Viu? É legal, né? Peço que não me zoem pelo exemplo tosco, mas é possível ver aqui que os dois personagens pensam algo totalmente diferente. Isso significa uma quebra de expectativa, mas que nesse contexto, é ótima, pois mostra a individualidade e a personalidade própria de cada um.
e aí? gostou? eu te ajudei em alguma coisa? se sim, já sabe o que fazer!
Tem sugestões de assuntos?
manda pra mim por mensagem. Obrigado!
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