Najla por Najla

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Depois da difícil conversa que teve com Gate, Najla volta para seu quarto e se permite chorar.

Ela nunca havia sido dessas sentimentalidades e sempre se orgulhou disso. Ela sempre foi racional, inteligente, perspicaz.

Não era de chorar, mas quando não conseguia evitar, se resguardava em um lugar reservado e fazia sozinha. Com o passar dos anos, aprendeu que não poderia mostrar suas fraquezas para ninguém.

E agora estava lá, sozinha em seu quarto chorando. Tantas recordações pairavam sobre seus pensamentos. Era como se ela tivesse voltado no tempo e sentido tudo novamente.

Até que ouviu uma rápida batida na porta e antes de perguntar de quem se tratava, escuta a porta se abrir rapidamente. Quando olhou pelo espelho, viu que se tratava de Gate.

Najla: Está ficando louco? Alguém pode ter te visto entrar.

Gate: Eu tomei cuidado, não se preocupe. Eu vim até aqui porque preciso falar com você. (Ela se aproxima dele)

Najla: Não temos mais nada para conversar. Até porque, uma das servas deve estar a sua espera.

Gate: Já lhe disse que não deitarei com nenhuma outra.

Najla: Abimeleque vai querer saber a razão por não ter escolhido nenhuma nulher.

Gate: Pouco me importo com ele. Me importo com você. Najla, você mexeu comigo como nenhuma outra fez. Com você tudo é diferente. Eu faço planos, tenhos sonhos, penso até em casar e olha que eu nunca tinha pensado nisso. (Ela sorri timidamente) Eu queria que tudo fosse diferente...

Najla: Talvez o amor não seja para mim.

Gate: Não diga isso. (Se aproxima dela, que recua) O amor é um dos sentimentos mais lindos que existe. Todos nós merecemos amar e ser amado.

Najla: Mas eu não. Eu nunca pude me dar esse luxo.

Gate: Como assim? Do que está falando?

Najla: Da Najla real. Da Najla por trás desses vestidos finos e desses luxos. A Najla por trás da coroa. (Senta-se na cama) As pessoas sabem ao mesmo respeito o que eu permito que elas saibam. O que eu quero que elas vejam. E nem é tão difícil assim, afinal ninguém nunca se preocupou comigo de verdade. Nem Abimeleque me conhece de fato. Mas as vezes é sufocante. As vezes me agonia tudo o que guardo comigo.

Gate: Então divide comigo. Você não precisa carregar esse peso sozinha. (Senta na cama de frente para ela)

Najla: Eu não sou filha de nobres, nem de sacerdotes, ou algo do tipo. Sou apenas filha de meros camponeses pobres de Gerar. Minha mãe morreu no momento que me deu a luz. Ela sim me amou de verdade. Minha tia dizia que minha mãe sempre sonhou com uma filha nos braços, mas que tinha problemas para engravidar. Depois de tantos anos tentando, por fim conseguiu realizar o sonho dela. E por mais que meu pai desejasse um menino, minha mãe sempre soube que gerava a menininha de seus sonhos. Não foi uma gravidez fácil. Ela acabou ficando doente e nada a curava. Mas aguentou forte para meu nascimento. Ela lutou muito para me trazer ao mundo. E eu nasci. Forte, cheia de saúde e com os olhos iguais aos dela. Reuniu suas forças para me pegar no colo e me ver pela primeira e última vez. Mas antes de partir, disse que meu nome seria Najla, que significa mulher de olhos grandes e expressivos. E partiu momentos depois. (Seus olhos estavam marejados)

Gate: Eu sinto muito, meu amor... (Fala baixinho)

Najla: Se minha mãe me amava desde o primeiro momento, meu pai me odiava. Primeiro, por eu não ser o filho homem que ele sonhava e depois, por ter sido a razão pela morte da minha mãe.

Gate: Mas você não teve culpa. Ela tinha ficado doente antes mesmo de você nascer.

Najla: Ele pouco se importava para isso. Cresci ouvindo o quanto ele me detestava e o quanto eu trazia desgraças. Ele me batia, me gritava, me dizia coisas horríveis... Até que... que.... que aquilo aconteceu. (Ela se levanta rapidamente e fica de costas para ele)

Gate: O que aconteceu?

Najla: Meu pai vivia bebendo pelas tabernas e tinha vezes que chegava em casa já com o dia amanhecendo. Até que um dia ele não voltou. Passaram-se três dias e nada dele. Resolvi sair a sua procura, mas antes de achá-lo... (Tenta se amparar em uma pequena mesinha) Era noite, estava escuro, eu já estava voltando para casa quando um homem me agarrou. Eu gritei. Gritei. Gritei. GRITEI! (Derruba um vaso de flores) MAS NINGUÉM ME OUVIU. Quando eu mais precisei ser ouvida, eu fui silenciada.

Gate: QUEM FOI O DESGRAÇADO QUE FEZ ISSO? ME DIZ EU VOU ATRÁS DELE E EU TE JURO QUE EU MATO. MATO COM MINHAS PRÓPRIAS MÃOS. (Sentia a raiva percorrer por todo seu corpo)

Najla: Não tem mais importância. Ele morreu luas depois. Só os deuses sabem o quanto fiquei feliz com essa notícia. Menos um desgraçado no mundo e mais meninas salvas. Depois de tudo o que ele fez, ainda teve coragem de contar para meu pai, que passou a me odiar ainda mais. Me culpava. Dizia que eu tinha permitido. Que eu não evitei. Que agora eu estava usada e que não faria um bom casamento. Eu me isolei, mal saía do meu quarto e ele dizia que eu era uma imprestável. Até que neses depois, na festa da Deusa Ísis, conheci Abimeleque, na época príncipe. Ele logo ficou encatado por minha beleza e quis me levar para o harém. Eu vi naquela oportunidade uma maneira de me livrar de toda dor e sofrimento que eu sofria. Eu estaria no harém e tinha o herdeiro do trono apaixonado por mim. O que mais eu poderia querer? Meu pai logo se aproveitou da situação e fez de tudo para agilizar meu casamento com Abimeleque. Mas para isso tive de esconder meu parentesco e Abimeleque arrumou um jeito para o rei acreditar que eu era nobre. Acredite, quando quer, Abimeleque consegue ser muito esperto. Casamos. No começo foi tudo ótimo. Eu não o amava, mas amava tudo o que ele poderia me oferecer. Eu tinha tudo do bom e do melhor. Nada me faltava e ainda por cima estava livre do meu passado sofrido. Mas meses depois do casamento, veio a segunda esposa. Depois a terceira, quarta... Hoje eu já até perdi as contas de quantas são. Mas não me importava. Eu era a primeira. Fui eu que me tornei rainha. Mas são tantas humilhações e tantas traições.... (Tinha seu olhar fixo em um ponto qualquer) Ele faz questão de falar o quanto é prazeroso ter outras mulheres, enquanto eu estou ficando velha. O quanto as outras o satisfaz. Enquanto eu, preciso ouvir tudo e fingir que não me atinge. Afinal, eu sou a rainha e vivo no luxo. O que mais posso querer, não é? Mas eu quero. Eu quero ser amada. Pelo menos mais uma vez. Eu quero ser a Najla mulher e não rainha. A minha maior ambição se transformou na minha maior infelicidade. E é por isso que você mexeu tanto comigo. Porque você enxergou a mulher que nem eu sabia que existia ainda. Você me enxergou além do palácio e da coroa. Você enxergou a verdadeira Najla. Najla por Najla. (Sorri entre lágrimas) E eu sou grata ao nosso amor, por me mostrar o quanto é bom a gente amar e ser amado.

Gate: Deixa eu te mostrar o quanto é bom termos um amor calmo, sereno, verdadeiro e recíproco. Não um amor livre de problemas, porque nada é perfeito, mas deixa eu ser seu apoio. Deixa eu estar ao seu lado, porque eu sinto que juntos, nós vamos enfrentar tudo e todos. Deixa eu te mostrar o quanto é bom amar e ser amado. Não é assim que você disse? (Eles sorriem)

Ele chega próximo a Najla e lhe abraça apertado. Eles necessitavam da paz que um transmitia para o outro.
Ficaram assim por alguns minutos, até que ela olha profundamente para ele, faz um carinho entre os cabelos dele e encosta sua testa na dele.

Najla: Eu quero fugir com você. (Diz de olhos fechados)

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⏰ Última atualização: Jul 24, 2021 ⏰

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