Capítulo - Dois

78 7 0
                                    

We might be broken by design

I can't help how I'm feeling

Scared of my own reasons

Say - Ruel

Janeiro, de 2021

É incrível como a simples menção do nome do Júnior ontem no café da manhã desencadeou uma noite longa de sonhos com ele. Lembranças do passado de quando a gente ainda estudava. Momentos iam e vinham a madrugada toda, me fazendo acordar em diversos momentos.

Desço pra cozinha e encontro todos reunidos na mesa. Uma das tradições da minha família é essa: café da manhã com todos reunidos — sempre que pode.

— Dormiu bem, filho? — Minha mãe perguntou.

Puxo uma das cadeiras pra sentar e logo pego uma xícara e encho de café.

Eu gosto de café, mas sou péssimo fazendo. Sempre recorro a cafeteria e mesmo assim não fica tão bom quanto o da minha mãe. Já pedi pra ela me ensinar, mas ela só fala basta colocar água pra ferver e depois colocar o pó de café no coador, fácil.

— Pela cara, não. — Clara disse me olhando

— Tive uns sonhos estranhos, nada demais. Depois de fazer as coisas do serviço eu durmo mais um pouco. — Bebo meu café.

— Então você vai dormir depois de voltar da rua. Hoje você vai lá comprar algumas coisas que faltam. — Minha mãe colocou o pano de prato no ombro e se levantou — Vai logo na rua comprar as coisas antes que os lugares fiquem mais cheios. Ir no meio da semana é bom que tá mais vazio.

Eu estava sem animo pra ir na rua, ainda mais no centro, pra procurar coisas de festa. Eu tinha certeza que não acharia tudo da lista em uma única loja. Eu preciso estar com disposição, e tudo que eu não tenho nesse momento é disposição.

— Eu vou amanhã, prometo. Hoje eu estou cansado. — Começo a preparar um pão pra mim.

— Tá bem, filho — ela passa a mão no meu cabelo — Mas amanhã você não me escapa.

Quando termino de tomar meu café, eu ajudo minha mãe a organizar a cozinha. Meu pai foi pra loja dele. Quando eu estava subindo pra começar meu serviço, escuto Clara me chamar na sala.

— Me conta. O que aconteceu? Sua cara não está das melhores desde ontem quando a mamãe falou da vinda do Júnior. — Clara tem um dom absurdo de saber quando as pessoas não estão bem. Ela é observadora desde pequena, o que é irritante.

Eu não estava certo se deveria falar sobre isso com ela, mas essa volta repentina do Júnior estava me dando até dor de cabeça.

— Eu estou... sei lá. Sonhei a noite toda com o Júnior. Mal consegui dormir. Esse lance dele vir pra festa dos nossos pais depois de anos sem aparecer aqui é, no mínimo, estranho. — Digo a ela, rápido, como um tiro, pra não perder a coragem.

— Até hoje eu não sei o que aconteceu entre vocês. Eu lembro de vocês serem tão amigos, unidos. Eu sonhava com uma amizade igual a de vocês. Aí do nada tudo mudou e ele sumiu por cinco anos e você nunca mais falou dele. — Ela se ajeita no sofá abrindo espaço pra mim. Eu sento ao lado dela.

— É complicado, Clara.

— Com os anos de amizade que vocês tinham e do nada vocês se afastarem assim, é porque a coisa foi muito feia mesmo. E eu não vou insistir nisso. É particular de vocês dois. — Ela se aproximou de mim e colocou a mão no meu ombro esquerdo. — Mas saiba que, se precisar conversar eu estou aqui, a qualquer hora. Eu odeio te ver assim. — Eu confirmo com a cabeça.

Sempre Foi Você Onde histórias criam vida. Descubra agora