II

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Se a boca de Eijiro não fosse grudada na cabeça, ela teria caído no chão. Então ele ele ficou desacordado por quatro meses? 4 meses de sua vida foram perdidos sem mais nem menos? E ninguém o avisou? 

— Não... não, não pode.. isso não pode ter.. - Ele começou a murmurar, Bakugou se levantou e ficou parado na sua frente. 

— Ei ei, não precisa surtar, ok? Eu to aqui, e o importante é que tu conseguiu acordar. 

Eijiro queria tanto chorar, nunca se sabe o quanto se precisa de algo até você o perder, mas agora ele entendia essa sensação. E, por Deus, como ele preferia ter que viver na ignorância a ter descoberto a maldita sensação. 

— Kirishima?

— Agora eu entendi o seu motivo para me visitar, você é muito desesperado, Bakugou. 

— Ah vai a merda! 

Bakugou riu, enquanto Kirishima apenas sorriu. Ele não culpava seu amigo por se preocupar com ele, se fosse ao contrário ele também não aguentaria quatro meses sem nenhuma notícia. 

— O que falaram sobre mim lá na escola? - Kirishima perguntou, mas não ouviu nada em resposta. Ele tateou a cama e balançou uma das mãos. 

— Huh?

— O que falaram de mim? Sabe, lá na escola. 

— Ah, nada demais. No começo falaram que tu tava em coma, e todos os dias.. sério, todos os dias, aquele pikachu e aquela alien perguntavam sobre você pro Aizawa. Eles ficaram preocupados pra caralho, se eles souberem que eu te vi primeiro eles vão me matar. - Bakugou deu um sorriso - Mas eu duvido que consigam me vencer. 

— Vai ser uma boa luta, não quero perder isso! 

— Vou trazer eles quando esses malditos deixarem a gente entrar na porra do teu quarto, fala sério! Você tá bem, qual a porra do problema? - Ele disse, Kirishima mordeu o lábio inferior... ele sabia muito bem qual era o problema. 

— Sobre isso... meio que eu sei o motivo. 

— Ah é? E qual é? 

— Eu que pedi para não receber visita, Bakugou... 

O loiro faz uma cara de confusão, não estava esperando por essa resposta e não conseguia entender o motivo para justo Kirishima não querer receber visitas. Já Eijiro parecia estar prestes a chorar de novo, falar tudo isso para Bakugou, ouvir a voz de Bakugou, sentir a presença de Bakugou... tudo isso estava mexendo nos nervos dele, e quanto mais eles conversavam mais perto ficavam de Eijiro revelar a verdade. 

— Como assim? 

— Eu... que pedi

—  Não, porra! Isso eu entendi, mas como assim você não quer ver a gente?

Está se aproximando.... 

— Não é como se eu tivesse escolha, ok? você não acha que no fundo, bem no fundo, eu também não quero ver vocês? 

— Então por quê?! - Bakugou elevou o tom de voz. —  Me diz, caralho! Por quê? 

—  Por que eu estou com medo, tá bom? - Agora era Kirishima quem estava gritando, ele não fazia noção da hora, mas a esse ponto não se importava em ter a conversa interrompida por algum enfermeiro. - Eu to morrendo de medo!

— Medo. Do. Quê ? 

Era agora. Não tinha mais como evitar. 

—  Bakugou, você não notou? Só pode estar zoando comigo, né? Por favor... diga que está... 

— Cabelo de merda, de que caralhos você está falando? Tenho cara de gênio da lâmpada? 

Kirishima não aguenta mais... ele simplesmente não aguenta mais. 

—  Eu não sei... eu não sei... porra! Eu não faço ideia! - Ele bota as mãos na cabeça, como se estivesse prestes a surtar. Bakugou se levanta e pega nas mãos dele, Kirishima leva um pequeno susto ao sentir o toque —  São suas mãos, não são? 

—  Kirish- 

—  Bakugou, eu fiquei cego. Completamente cego. Não consigo te ver... eu.. eu não consigo.. te.. v-ver... 

Bakugou fica paralisado, em choque. As mãos trêmulas de Kirishima ficam apertando as suas, ele faz esforço pra chorar, e realmente age como se estivesse chorando, mas não sai uma gota de lágrimas sequer. Quando se fica cego, as lágrimas secam? De que isso importava agora? De quê? 

Ele nunca tinha visto Kirishima tão desesperado e se continuasse assim ele iria chamar a atenção de alguém e Bakugou seria expulso do quarto e punido por invasão. Fazer o ruivo se acalmar era seu objetivo agora, estava mais do que claro que aquela situação era desesperadora e assustadora para ele.

E o pior... Bakugou sabia exatamente como era aquela sensação. 

Ele poderia ser a pior pessoa para confortar e acalmar alguém, mas teria que fazer um esforço por ele, por Kirishima. Segurou suas mãos e se aproximou mais, Kirishima, ainda meio desesperado, se afastou um pouco na maca e deu espaço para Bakugou subir ali e ficar ao seu lado. Assim, Katsuki o envolveu em seus braços, deixou seus corpos bem colados e deitou um pouco a cabeça de Eijiro em seu ombro, com a mão direita ele apertava as mãos de Kirishima, com a mão esquerda envolvida em seu ombro ele tentava acariciar seus cabelos. 

Ambos ficaram assim por alguns minutos, sem dizer uma palavra. Kirishima continuava na sua tentativa de chorar, só gritos e pequenos gemidos eram ouvidos, Bakugou estava tão fora de si que nem se importou, se fosse em outro momento ele com certeza tiraria sarro do outro. Em outra época... fazia tanto tempo... 

Kirishima estava nervoso demais para sequer explicar algo, e ficou muito grato por Bakugou continuar em silêncio, mas sinceramente ele estava preocupado com isso, será que Bakugou não quer mais ser amigo dele por causa de um acidente? Mas se ele não quisesse, então teria ido logo embora ao invés de o abraçá-lo, certo?

Be my eyes, Katsuki | KiribakuOnde histórias criam vida. Descubra agora