Alguns dias depois….
— Foi isso que aconteceu. - Kirishima disse, sentindo-se completamente fracassado. Não era a primeira vez que ele contava o que tinha acontecido na noite do dia 17, ele já havia contado para seus professores, para o diretor e para seus pais. Agora, era a polícia que o interrogava.
— Certo. Bom, acho que acabamos por aqui, sinto muito por ter que fazê-lo contar esta história de novo, sr. Eijiro, mas temos que seguir nosso protocolo e ouvir a versão das vítimas.
— Tudo bem, eu entendo.
— Tudo o que podemos fazer para confortá-lo é dizer que os vilões já foram presos, mas acredito que já devem ter passado essa informação.
— Já sim.
— Bom, vou indo então. Tenha um bom recuperamento, sr. Eijiro. Nós e as pessoas que você salvou naquele dia estão em eterna gratidão contigo.
O policial sorriu para o estudante, que estava deitado em uma maca. Kirishima ouviu algumas vozes, provavelmente o policial estava conversando com um dos enfermeiros que acompanha a recuperação dele.
A porta é fechada, o enfermeiro se aproxima da maca.
— Eijiro, vou entregar o relatório de hoje para o Doutor Yamada. Por hoje é só, mas você quer que eu volte e fique te fazendo compania? - Ele pergunta, sua voz era calma e reconfortante, o seu sorriso no rosto ajudava a manter essa sensação.
— Não, obrigado. Sem querer ofender, mas eu quero ficar sozinho… pelo menos por mais alguns dias.
— Certo, devo lhe avisar que seus amigos vieram te ver, mas como o senhor pediu eu não os deixei entrar no quarto.
— Obrigado. Não sei se estou pronto para me encontrar com eles.. não quero sentir o peso do fracasso aumentar ainda mais nas minhas costas.
— Eijiro.. não foi sua c-
— Posso ficar sozinho agora? Por favor
Um suspiro foi ouvido.
— Claro, como desejar.
A porta foi fechada segundos depois. Kirishima começou a chorar novamente… bom.. ele tentou chorar, mesmo sabendo que era inútil.
Isso era o que ele era: um completo inútil.
Ele sempre soube disso, sempre se achou inferior, sempre odiou como agia e como mantinha esse sentimento guardado para si, mas o quê ele poderia fazer? De que adiantava?
O fracasso sempre esteve ali, ele só o disfarçava com sorrisos e falsos pensamentos positivos. Achou que as coisas mudariam ao entrar no ensino médio, mas não… nunca mudaram. Em seu primeiro ano na UA ele fez bons amigos, se reencontrou com Ashido Mina e até conseguiu evoluir como pessoa e estudante, mas o medo do fracasso esteve sempre ali, o acompanhando em cada mísero movimento que fazia.
Agora estava ali, na metade do seu segundo ano, um completo inútil que fracassou no estágio e que agora estava deitado em uma maca.
Se fosse Midoriya em seu lugar, ou Bakugou, Todoroki, Iida, qualquer um! Qualquer um teria lidado aquele ataque com calma e maestria, teriam tido sucesso e continuado a vida como qualquer pessoa normal. Mas não Eijiro, ele era um fracassado e sempre vai ser.
Sempre vai falhar.
O barulho da porta se abrindo é ouvido, pelo visto quem quer que seja tentou ao máximo não fazer barulho, mas surpreendentemente Kirishima ouviu, virando sua cabeça para a direção do som.
— Kenya, eu falei que queria-
— Cabelo de merda.
—… ficar sozinho…
Era Bakugou. Por quê ele estava aqui? Ele não devia estar aqui, nem em um milhão de anos, Kirishima tinha deixado claro que não quer receber visitas, especialmente de seus colegas de classe. Então por quê?
— Você não deveria estar aqui. - Eijiro diz curto e grosso, nunca falou assim com Bakugou, mas àquela altura nada mais importava.
— Cacete hein? Eu tive o maior trabalho do mundo para entrar aqui sem ser pego e essa é a primeira coisa que tu me diz? - Ele fala, dava para notar seu tom sarcástico. Típico de Bakugou.
— Por favor… vai embora - O ruivo fala, quase como um sussurro. Bakugou o ignora.
— Depois de tanto tempo, não acredito que não deixaram a gente te visitar! Porra tu tá bem demais, só tem esse braço quebrado ai… - Ele aponta para o braço esquerdo de Kirishima que estava com um gesso branquinho, se ele tivesse ido à escola aquilo já estaria completamente riscado.
— Bakugou… por favor
— Huh? Pra que sussurrar? Seu quarto é o último do corredor, ninguém vai nos ouvir.
— Sai daqui
— Como é que-
— KATSUKI! ME ESCUTA PELO MENOS UMA VEZ NA VIDA! - Kirishima gritou, não aguentando mais.
Bakugou entrou em completo silêncio, Kirishima não era um cara de se descontrolar assim,muito menos usava “Katsuki”, ele tinha dito algo que não devia?
Passos lentos foram ouvidos, um barulho de estofado também, era Bakugou sentando numa poltrona de couro que tinha ao lado da maca de Eijiro. Kirishima se endireitou na maca com certa dificuldade, ele ficou sentado encostado na parede, com a cabeça inclinada para o lado, pretendendo olhar para seu amigo.
— Falei merda?
— Não… é só que… eu não estou pronto para te ver, não tô pronto pra ver ninguém.
— Algum dia você vai estar? Eu cansei de esperar, então vim por conta própria, achei que tu fosse gostar da surpresa.
—Ah qual é, foi só uma semana… - Kirishima esboçou um sorriso fraco, fazia dias que ele não sorria, mas era preciso fazer um esforço pelo seu amigo, né?
— Uma semana? Kirishima, o que caralhos contaram pra ti? - A voz de Bakugou soou com espanto, ele arqueou as sobrancelhas e olhou o amigo de cima a baixo.
— C-como assim? Eu estou aqui há apenas… uma semana
Bakugou não podia acreditar, ele suspirou e decidiu ser sincero, Kirishima merecia saber da verdade.
— Olha, não sei quem foi o tapado que te contou isso, e talvez seja um choque de realidade, mas hoje é dia 23 de novembro, cara. Passaram quatro meses desde o dia do ataque que tu sofreu. Uma semana atrás, você acordou.
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Be my eyes, Katsuki | Kiribaku
Hayran KurguUm acidente ocorreu no local onde Eijiro fazia estágio. Os estragos foram severos com o estudante, e tudo que ele queria era ficar longe dos seus amigos. Mas esse simples pedido não iria impedir Katsuki Bakugou. ~~~~~ inspirada em "Shadow - SEMell...