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• vida real •

— Em minha defesa era isso ou o Bin tinha fugido.

— Não é fugir, é evitar.

Nós três estávamos em cantos diferentes do vestiário; Eu no chão, Soobin em um dos bancos de madeira no outro extremo da sala, e Mingyu encostado na parede, todos arrumando os uniformes — que, aliás, cheiravam a suor passado.

— Ninguém tem celular não? O meu 'tá sem crédito — O Kim se pronuncia, ainda indignado — Eu tenho um encontro às 4 horas, não posso perder a chance.

— Até porque a chance é rara — Soobin murmura baixo, mas eu o escuto e dou uma risadinha, juntamente com o mesmo. Era bom ouvir sua risada — Meu celular 'tá no meu armário.

— O meu 'tá com o Beomgyu. Mas porque você não coloca crédito no celular?

— Eu não ligo pra ninguém e a internet eu roubo da escola, e eu não estudo nessa escola — O moreno reclama e bufa, desanimado — Vou tentar arrombar a porta, continuem aí.

Ele diz e se desencosta da parede, passando pelos armários e sumindo da nossa visão. Encaro o Soobin do outro lado da sala, esquecendo até mesmo de organizar os uniformes. Ele ergue a cabeça e me encara de volta, mas em questões de segundos desvia o olhar e suas orelhas tomam um tom avermelhado.

Sem pensar muito, me levanto do chão e sento do lado dele, empurrando as roupas no chão com os pés. Fico em silêncio, já que, por mais que eu queira conversar com ele, não sei o que dizer.

— Desculpa... — Sua voz sai baixa, mas mesmo com o barulho dos empurrões e chutes que Mingyu estava dando na porta eu consigo o escutar.

— Eu que tenho que me desculpar — Respondo na mesma altura — Eu só te magoei, e olha que foi sem querer...

Nosso silêncio se faz no local, deixando apenas os pedidos de socorro do outro garoto presentes por alguns segundos — que mais parecem horas.

— Sabe... — Ele começa a falar, ainda baixo, e solta a camiseta que estava na mão, a jogando no chão — Você é sempre tão incrível, bonito, inteligente, tão... perfeito, foi inevitável eu gostar de você. E mesmo que a gente não tenha uma amizade concreta, ficar perto de você é como uma recarga diária, admirar seu sorrisinho de raposa cura até onde não dói — A cada frase a velocidade das suas falas aumentam e suas bochechas coram, o que era confuso, porém adorável — Eu sei que não é o local ideal pra eu falar que te amo já que tem um monte de roupa suja e um maluco gritando no fundo, mas eu acho que não existe hora certa pra demonstrar isso e-

Não espero ele terminar de falar — se é que iria —, apenas seguro seu queixo, impacientemente, e grudo nossos lábios. Ele congela no lugar, mas é necessário apenas alguns segundos para o mesmo relaxar e levar sua mão até minha nuca, acariciando meu pescoço. Um simples selar se transforma em um beijo calmo e quente, com nossas línguas dançando uma na outra em um encaixe perfeito, uma dança lenta e sincronizada.

Mesmo com os barulhos do Mingyu chutando e esmurrando a porta, eu só consigo focar nos estalinhos que nossas bocas faziam a cada movimento e nos arfares que dávamos entre um beijo e outro. Esses com certeza são meus sons favoritos, o som do nosso beijo.

Por mais que o ambiente não seja dos mais românticos, a sensação de ter os lábios macios dele nos meus meus é uma sensação única. Ou era.

Um estrondo é ecoado por toda o local, me assustando e causando o mesmo efeito em Soobin, que se afasta em um pulo, ofegante. Os gritos de comemoração de Mingyu já entregam toda a situação.

— AE, GENTE, A PORTA CAIU!

Text Me ☏ YeonbinOnde histórias criam vida. Descubra agora