BOLO DE FRUTAS

26 0 0
                                    


— Vai depender... vai depender se a Sofia vai querer...

Sofia estava lá.

— Eu quero!

A mãe do aniversariante parou entre uma palma e outra, o pai estourou um lança-confetes naquele exato momento e, envergonhado por parecer que estava comemorando a situação, largou o objeto na mesa como se dele não fosse. O Padrasto de Sofia pegou a menina pelo pulso para tirá-la dali mas a mãe dela a segurou.

— Ah, que lindo — disse com um sorriso enorme.

Uma tia, dessas que só se vê nos aniversários parabenizou o padrasto de Sofia e estendeu a mão pro pai do aniversariante que apertou a mão ainda sem entender o que estava fazendo. A mãe de Sofia não cabia em si.

— Parabéns, filha. Deus abençoe vocês e lhes dê...

— Não, espera. — A dona da casa levou as mãos a cabeça e então abanou o ar acima de si. — Chega. Silêncio.

O DJ abaixou o volume da música e espichou olhos e ouvidos para a aglomeração dos convidados.

— Não tem parabéns pra ninguém aqui.

O aniversariante chiou.

— Exceto pra você, filho. Mas fora o — ela pontou as sílabas — a.ni.ver.sá.rio — e continuou, ainda no mesmo tom — não tem parabéns nem felicidades para mais nada.

— Negativo. — A mãe de Sofia erguia um dedo acusador. O padrasto se afastou dando de ombros e acendendo um cigarro. — Discordo!

A outra mãe ainda estava com as mãos pro alto e olhos nervosos procuravam o marido, mas só encontravam Sofia e a mulher que a trazia pelas mãos:

— Gente, eu não estou louca, estou?

— Eu não poderia estar mais feliz. — A mãe levou Sofia e a fez dar as mãos ao aniversariante. — Que casal lindo, não é? — Ela limpou uma lágrima, virou-se e deu de ombros pros convidados. — Ela mora aqui agora.

A mãe do garoto separou as mãos dos dois puxando pelos pulsos, talvez com mais violência do que necessária.

— Criança nenhuma 'mora aqui agora'!

O aniversariante chiou.

— Claro que exceto você né, filho.

Os convidados fizeram um "oh" dramático de censura. A mãe do menino virou os olhos e suspirou.

— Gente, pelo amor de Deus, ninguém aqui tá casando, certo? Vamos continuar?

— Se me permite. — Era a mãe de Sofia.

A mãe do aniversariante ameaçou avançar na mulher, mas o marido segurou-a a tempo com um olhar pedindo calma. A outra continuou:

— Vocês convidaram o padre, e ele tá aqui. A proposta veio da sua família, eu vi o primo mais velho ali puxando o coro e o noivo – apontou pro aniversariante que estava jogando um brigadeiro pro alto pra cair na cabeça da irmã – cantou junto, só faltava a Sofia aceitar e ela aceitou. Isso pra mim é um casamento.

Todos olharam pro Padre, ele estava comendo um pastelzinho e se engasgou. Sem noção do que dizer ele ergueu o indicador e pegou a bíblia folheando como quem procura algo, mas sabemos que ele não fazia a menor ideia do que estava procurando.

— Você tá louca. Eles têm 12 anos.

A mãe de Sofia, mais uma vez, a conduziu pelos ombros pra perto do menino.

O a/objeto em questão (e outros diálogos)Onde histórias criam vida. Descubra agora