14. Luto

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Já havia amanhecido e eu ainda não tinha dormido, não sei porque estava tão preocupado, não era um problema meu.

Passei no quarto para ver como ela estava e a vi dormindo. Tive que dar um calmante pra ela na noite passada.

Eu tenho uma cabana em uma montanha, é próxima de um rio e poucas pessoas sobem pra cá, achei que seria o melhor lugar para trazê-la, ninguém a procurará aqui.

Quando chegamos aqui ela ainda chorava, estava em estado de pânico, não sabia o que fazer, afinal o que se deve fazer numa situação dessas?

Depois que ela dormiu liguei pros meninos e contei o que aconteceu, disse que ficaria ausente caso ela precisasse, o Felipe foi até o carro dela pra mim e pegou sua bolsa e coisas do tipo, ele disse que encontrou a chave da casa dela lá e iria buscar algumas coisas.

Pedro já por outro lado foi investigar isso, disse a ele que mais coisas viriam por aí, o Marcos trabalhava com a gente, então provavelmente ele tem um plano que nos incluem.

Não sei o que fazer no momento, não sei se existe algo que eu possa fazer que a vá fazer se sentir melhor ou que vá resolver isso, talvez seja melhor só dar espaço pra ela e esperar.

***********

Já era de tarde e ela ainda não havia levantado, não sei se era por causa dos remédios ou por conta do que estava sentindo, mas já estava preocupado, queria ir lá mas não acho que deveria, ela não quis chamar ninguém pra ficar com ela, duvido que iria me querer lá com ela.

Estava terminando o almoço, de manhã fiz café da manhã pra ela, mas ela não veio. Não sei se ela vai levantar pra almoçar mas mesmo assim vou fazer algo pra ela.

**********

A noite chegou e até agora estou a espera de Cecília, ela também não veio almoçar. Não sei o que está acontecendo naquele quarto, mas ela não deve estar nada bem. Vez ou outra passo por lá pensando se deveria entrar ou não, no final e apenas volto pra sala e fico por lá esperando um sinal de vida, quando eu na verdade queria ir lá conforta-la.

Recebo uma mensagem do Felipe, ele está vindo me encontrar perto de um posto de gasolina, pego o carro e saio.

O caminho levava uns 40min, o posto era antigo e ficava no meio de uma estrada. Assim que cheguei já o avistei, estava encostado em seu carro fumando.

- O que aconteceu? – Ele só fuma quando está nervoso.

- Tem alguma coisa muito errada, o Pedro falou com algumas pessoas do meio. Já sabem que a Cecília está fora, os boatos da morte do Jonathan já estão por aí. As pessoas não sabem o que fazer, não sabem o que aconteceu. – Ele apaga o cigarro e me olha. – Vamos ser sinceros, o pai dela estava acabado, pelo que descobrimos, se não tivesse sido ela ninguém teria feito mais negócios com eles. – Concordo com ele. - Ela tinha muitos contatos, as pessoas confiavam nela e faziam os negócios diretamente com ela, ela sabe de muita coisa, estão com medo do que vai acontecer com ela fora. E pelo que parece já estão levantando boatos de que ela que se virou contra o pai.

- Eu não sei o que ela vai fazer, passou o dia todo trancada no quarto, não comeu nada. Não acho que ela está com cabeça pra algo. – Falo me aproximando mais dele. – Não sei o que fazer, pelo que você disse a situação vai apenas piorar.

- Primeiro que já é difícil entender por que você se importa a ponto de ajudar. – Ele faz uma pausa me encarando, mas eu não falo nada. – Eu trouxe algumas coisas dela, encontrei com a Márcia e ela disse que o pai dela apareceu na empresa hoje dizendo que estava de volta e que agora todos tinham que se reportar a ele e quem souber onde a Cecília está e dizer vai ser muito bem recompensado. – O olho sem acreditar, ele tira duas malas do carro. – Fui com a Márcia na casa da Cecília, ela fez as malas dela e disse que quando ela estiver pronta só chamar, estão todos esperando por ela.

- Vamos ver no que isso vai dar, obrigado. – Volto ao meu carro e faço o meu percurso de volta.

Ele tem razão, nem eu sei porque quero ajudar, acho que ultimamente minha vida anda tão sem graça que qualquer novidade já faz a diferença. Eu não sei como me deixei ser arrastado pra isso tudo.

Fiquei tão inerte nos meus pensamentos que  nem percebi que já estava chegando. Levei as malas pra dentro e escutei um barulho vindo da cozinha, fui até lá e encontrei uma Cecília com uma taça de vinho e uma garrafa, ela parecia ter acabado de sair do banho, estava com o cabelo molhado e havia colocado minhas roupas, estava usando uma calça de moletom e um blusão.

- Você deveria comer algo antes de começar a beber, não acha? – Ela apenas me olha, dava pra ver que ela havia chorado o dia todo, os olhos estavam inchados e vermelhos.

- Onde você foi? – Ela muda de assunto.

- Buscar suas coisas. – Falo e ela me encara parecendo confusa. – O Felipe e a Márcia foram na sua casa, ela está esperando uma ligação sua.

- Não estou com cabeça pra isso. – Ela fala indo até o meu armário de vinhos e pegando outra garrafa.

- Não acha que já bebeu de mais?

- Ou você cala a boca e me deixa em paz ou vem beber comigo. – Ela fala abrindo a garrafa. – Não estou afim de conversar.

Não falei mais nada, apenas peguei outra taça e me juntei a ela. Não consigo imaginar o que ela está sentindo ou o que se passa na cabeça dela, provavelmente se fosse comigo eu iria querer beber até não conseguir lembrar meu nome então não a julgo. Me levanto e vou até a sala, aqui faz muito frio então resolvi ligar a lareira.

- Eu vou fazer algo pra comer, você quer? – Cecília aparece na porta perguntando.

Apenas faço que sim com a cabeça e vou atrás dela.

- Tem lasanha na geladeira, eu fiz pro almoço mas sobrou. – Falo indo pegar. – Só colocar no forno.

Eu coloco no forno e vejo ela procurando por algo no armário. Volto para a sala e me sento no sofá. Eu estava cansado, ainda não havia dormido nada, mas queria poder fazer mais alguma coisa.

- Eu queria te pedir uma coisa. – Cecília começa a falar entrando na sala.

- Só falar. – Digo esperando ela prosseguir.

- Eu tenho um dinheiro escondido da empresa, mas vou precisar de mais. Preciso que você me empreste. – Ela fala e me olha.

- Olha... – Respiro fundo. – Essa é a oportunidade perfeita que você tem de sair de tudo isso, porque simplesmente não pega esse dinheiro e constrói uma vida nova longe disso tudo?

- Mas eu não quero, você não entende? – Ela olha bem no fundo dos meus olhos. – Eu não tenho motivos pra viver que não seja vingança, eu não tenho porque continuar aqui. Sem o meu irmão eu não sou nada, eu fiz tudo isso por ele, agora que eu não tenho mais ele, só me resta me vingar de quem o tirou de mim. – Ela faz uma pausa. – Olha, não me entenda mal, eu vou fazer isso de qualquer jeito, com ou sem a sua ajuda. Só seria mais fácil com a sua ajuda.

Ela se levanta e sai ao não obter a resposta que queria, eu não acho que ela deveria ir atrás disso, se eu tivesse a oportunidade eu iria embora sem nem pensar.

Ela volta com dois pratos e me entrega um, se senta ao meu lado e comemos em silêncio.

- Eu te ajudo. – Falo quando termino de comer. – Mas quero fazer parte.

- Porque? – Ela pergunta se virando pra me olhar.

- Porque o Marcos está no meio e ele me enganou, preciso resolver isso. – Não era mentira isso, mas não era toda a verdade.

Após isso apenas vejo ela bebendo mais até que pega no sono no sofá mesmo, levo ela pra cama e arrumo a bagunça do jantar.

Paro pra pensar, eu quero é ajudá-la, não estou apaixonado nem nada assim, mas me sinto na obrigação de estar ao lado dela nisso, mesmo não concordando completamente eu quero ajudá-la, só não tenho um porque, apenas quero estar ao lado dela.

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⏰ Última atualização: Jul 25, 2021 ⏰

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