G

294 50 29
                                    

Encho a banheira de gelo. Água fria sempre pareceu mais limpa do que a água quente.

Queria que ela congelasse meu cérebro, para que eu parasse de pensar tanto, mas principalmente que congelasse meu coração, para que ele parasse de sentir tanto.

Eu não queria ser assim. Eu queria poder apenas brincar igual todos vocês. Eu queria poder apenas ficar feliz com a amizade. Queria poder fazer a expressão de vergonha e desgosto que o Jisung faz quando o Chenle o chama de criança. Queria poder revidar em olhares e palavras de desprezo como o Mark faz quando Haechan lhe chama de fofo. Queria não sentir todo o meu corpo reagindo quando ganho qualquer elogio.

Queria não sentir o orgulho que sobe em meu peito quando Doyoung diz que eu sou o dongsaeng que mais obedece e, por isso, seu favorito. Queria não sorrir quando Donghyuck fala comigo com uma voz de criança, me menosprezando - mesmo que seja de brincadeira. Queria não querer fechar os olhos e suspirar quando você passa a mão na minha cabeça num carinho, Jaemin.

Porque eu queria que, pelo menos, minha obsessão fosse apenas contigo.

É estranho, aceitar qualquer 'parabéns'. Mas imagino que combina comigo, não é? Cachorrinhos costumam adorar qualquer visita que lhes demonstrem carinho, que falem com eles usando aquela voz estúpida de quem acha algo fofo - e burro, burro burro. Cachorrinhos se jogam aos pés de qualquer um, até daqueles que mal lhes lançam um olhar - carente, carente, carente. Cachorrinhos não saem mais de perto de quem lhes dá comida e água - amigo, amigo, amigo. Cachorrinhos voltam correndo para uma pessoa no fim do dia, aquelas que eles sabem que tem sua total lealdade - dono, dono, dono.

Mas Jaemin, por que então eu tinha esperanças de sentir tudo isso só por você? De deitar de barriga para cima, exposto, vulnerável, submisso só para você? Por que foi com você que isso começou? E por que não foi em você que isso parou?

Me afundo na água que parece cortar minha pele como mil agulhas que encontram as terminações nervosas até que meu cérebro esteja berrando perigo perigo perigo e meus braços e pernas tremam de vontade de obedecer meus instintos e levantar, ir embora. Silencio tudo e me afundo mais, o peso de meus problemas servindo de âncora e me levando para baixo.

Queria que a água limpasse essa minha mente doente. Queria que ela levasse a culpa de ser quem sou. Porque não quero que as pessoas me ganhem com um elogio. Não quero estar bem em ser considerado manipulável. Quero canalizar tudo para você. Porque confio em você. Só você devia ter o poder de fazer isso comigo, Jaemin.

Porque só você parece me ver de verdade.

Quero te dar minha guia. Quero seu nome e seu contato na minha coleira. Quero ter certeza que, se eu me perder, vou ser levado de volta para você.

Porque servir a deuses que não conhecemos é perigoso.

Por favor, me deixe servir só a você, então. Prometo que vou ser bonzinho. Preciso de um lar para voltar, mesmo que eu durma no quintal.

Minhas lágrimas parecem quentes descendo pelo meu rosto, um contraste sujo com a água fria que eu tento, tento e tento fazer ser limpa.

Não faço barulho. Ninguém gosta de ouvir latidos, eles incomodam a vizinhança e todos culpam o dono por não saber educar o seu animal. Mas não é sua culpa, Jaemin. E não quero nunca fazer parecer que é.

Você não tem culpa de eu seguir atrás de você, nem tem culpa de ter pena de meus olhinhos brilhantes que imploram atenção. Sinceramente, acho que você não tem culpa sequer de me dar esperanças - por mais que eu sei que devia ter alguma culpa. Você não devia me cativar se não vai ficar comigo.

MAD DOGOnde histórias criam vida. Descubra agora