MAD DOG

O

Eu pego na sua mão ao vivo.

Metade do fandom vai sonhar com histórias de amor com um de nós, e a outra metade vai escrever histórias que provavelmente vão acabar em pornografia.

Ah, se fosse tão fácil fazer você pensar assim também. Qualquer uma das duas opções.

Mas você hesita em me deixar ser o coadjuvante que anseio em ser. Me diz que eu sou o príncipe, quando claramente quero ser só o escudeiro. Pode se esconder atrás de mim se quiser, Nana, desde que realmente queira estar ali. Eu vou adorar te proteger quando você precisar. 

É viciante me sentir necessário. E é necessário me sentir útil.

É só com você, eu juro.

É à você que direciono toda a minha dedicação, como uma pessoa com problemas para controlar a raiva é incentivada a direcionar sua energia a alguma coisa mais produtiva para aliviar o estresse. 

A internet chama essa fixação de doença. E por isso tento, tento de verdade, seguir os conselhos dos especialistas.

Mas não aguento mais, Jaemin. Nada funciona.

Andar de bicicleta? Eu pedalei por quatro horas seguidas e, mesmo assim, quando voltei tudo que eu queria era que você perguntasse onde eu estive e me desse alguma tarefa. Qualquer tarefa.

Academia? Levantei pesos até o estagiário vir me perguntar se eu já não tinha feito o bastante, porque aparentemente duas horas de treino sem pausas era muito. E, mesmo assim, quando voltei tudo que eu queria era saber se podia tirar algum peso das suas costas. Qualquer peso.

Dança? Eu treinei tanto que tive cãibras em minhas pernas e pés. E, mesmo assim, quando voltei tudo o que eu queria era saber se podia te fazer uma massagem para te tirar alguma dor. Qualquer dor.

Você diz "não precisa, Nono. Vem descansar" com um sorriso quase materno, quando percebe meu rosto exausto. 

E encarar você sob a luz suave da televisão me faz querer ajoelhar e implorar por misericórdia. Nem sei o que estou confessando, mas o modo que seu cabelo adorna seu lindo rosto como uma coroa me faz querer te olhar, meu pequeno príncipe, e me oferecer para estar à seu serviço

A visão é tão linda que meu amor se expande e multiplica dentro da minha caixa torácica. O problema é que meu coração é como a gaiola de um pequeno pássaro, prendendo as emoções até que elas machuquem ao forçar para sair.

Sinto meu coração em todo lugar. Em meus ouvidos, meu pescoço exposto e no peito, me causando uma dor de tão intenso que bate. Quem diria que sentimentos podem ser agulhas que causam dor física, mesmo sendo completamente emocional?

Então volta a questão: qual o sentido de pedalar tanto? De malhar tanto? De dançar tanto? Se nada disso trás a satisfação de ver um sorriso seu?

A inutilidade dos meus esforços me corrói. As voltas que dou me frustram, porque acabam sendo exatamente isso: voltas. E eu acabo voltando para ti, mesmo depois de tanto correr. Eu fico irritado, bravo, como se alguém tivesse roubado o Natal. Mas quem foi que disse que deus nasceu em dezembro? Eu acho que enquanto cantamos parabéns pra você, todos sabemos que foi no minuto que você decidiu cair do céu e vir para esse mundo sujo que não te merece. Dizem que o diabo já foi um anjo. Os céus cortaram suas asas, mas não puderam fazer nada para estragar seu rosto.

E nada em teu rosto decepciona, Jaemin. Quando você me chama para sentar ao seu lado, a curva que seus olhos fazem é amorosa. O pequeno levantar do seu nariz mostra afeição. O relaxamento de suas sobrancelhas, logo em seguida, é compreensivo. E seus lábios são a promessa de que tudo vai ficar bem.

Sento e suspiro, cansado. Estou cansado de ser assim. Estou cansado de me sentir tão vivo quando você abre as pernas e me pede para sentar na beira do sofá, entre elas. Estou cansado de amar suas mentiras. "Eu aprendi uma nova massagem e preciso de uma cobaia". Estou cansado de você saber que isso vai ser tão melhor do que um "quem precisa da massagem é você". Porque estou cansado de te dar trabalho. 

Estou cansado de não me sentir o suficiente. Estou cansado de te ouvir me elogiar com uma lista sem fim, como se estivesse tentando me convencer de que estou errado em me menosprezar. Estou cansado de ser errado, Jaemin.

Você não me toca com delicadeza. Ao invés disso, aperta bem meus ombros, como que me garantindo que está me segurando, que tenho apoio, que não vou me perder. 

Você não me diz palavras de conforto. Ao invés disso, fala sobre bobeiras, me distrai, leva a conversas por rumos estranhos, sabendo que eu vou acompanhar de qualquer jeito.

Você não me faz ter arrependimentos. Ao invés disso, me conta sobre seus problemas para dormir e as enxaquecas que vem pela redução do café, me mostrando que todos temos problemas, menores ou maiores.

Você não me cobra uma melhora. Ao invés disso, me faz prometer que se eu for passar tanto tempo na sala de prática, eu devo te chamar para ir junto.

Você transforma tudo, Nana, quando me deixa deixar no seu colo e me sussurra um 'descansa'. 

Sei que estou sujo e não devia estar em cima do sofá, mas você me faz carinho mesmo assim.

Sei que sou carente, mas você não levanta mesmo assim.

Sei que sou demais para aguentar, mas você me aguenta mesmo assim.

Sei que é errado, mas deixo um sorriso escapar quando você me dá um beijo na bochecha. Estou deitado e para isso você precisa quase se dobrar no meio, mas você me beija mesmo assim.

E seus lábios são tão macios e suaves, tão cuidadosos e acolhedores, como colocar o pé em um lago escuro e acabar descobrindo que ele não é tão fundo assim. O chão está lá para te segurar antes de cair.