MARIAN MANTEVE a palavra e, apesar da branda resistência de Robin, passou a viver sob as grandes árvores da floresta de Sherwood. Allan Clare, como dissemos, possuía magnífica propriedade no vale de Mansfield, mas não conseguiu convencer sua irmã a ir morar com ele e Christabel, pois a irmã estava firmemente decidida a não se afastar do marido.
Logo após seu casamento, o cavaleiro levou a Henrique II a proposta de lhe vender, por dois terços do valor, suas propriedades em Huntingdonshire, em troca da confirmação, por meio de cartas patentes, da sua união com lady Christabel Fitz-Alwine. Henrique II, que avidamente procurava toda oportunidade de reunir à Coroa as mais ricas áreas da Inglaterra, aceitou a oferta e, por ato especial, oficializou o casamento dos dois jovens. Allan Clare foi tão hábil e rápido nessa iniciativa, e o rei ficou tão satisfeito de poder dar por finda a negociação, que, quando o bispo de Hereford e o barão Fitz-Alwine chegaram à corte, tudo já estava concluído.
É desnecessário lembrar que o prelado e o sr. normando instigaram ao máximo a ira do rei contra Robin Hood. A pedido deles, Henrique II concedeu ao bispo o direito de prender o atrevido fora da lei e lhe infligir sem misericórdia nem outras formalidades a suprema punição.
Enquanto os dois normandos conspiravam contra a felicidade de Robin Hood, ele próprio passava dias tranquilos e despreocupados sob as verdes sombras da floresta de Sherwood.
Will Escarlate, com sua bem-amada Maude, sentia-se o homem mais feliz do mundo. Dotado pelo céu de ardente imaginação, convencera-se de que a felicidade suprema era ter ao lado alguém como Maude e, ingenuamente, atribuía à esposa todos os encantos de um anjo. Ela não desconhecia a extensão daquele afeto e se esforçava para não descer do pedestal em que o amor a colocara. Como Robin Hood e Marian, Will e Maude foram morar na floresta, e viviam todos na mais perfeita harmonia.
Robin Hood apreciava o belo sexo, primeiro por inclinação natural e, depois, em honra da encantadora criatura a quem dera o seu nome. Os companheiros de Robin partilhavam esses mesmos sentimentos de respeito e simpatia que as mulheres inspiram, de forma que moças da vizinhança podiam à vontade atravessar os caminhos da floresta sem correr o risco de um encontro desagradável. Se o acaso levasse um dos homens do bando até alguma bonita transeunte, ela prestamente era convidada para uma pequena refeição e, em seguida, acompanhada na travessia do bosque, sem que nunca nenhuma delas tenha se queixado do comportamento do seu guia. Assim que se tornou conhecido o cavalheirismo dos homens da floresta, cresceu o número de mocinhas de olhos brilhantes e passinhos quase tão leves quanto o coração que se aventuravam pelos vales e bosques de Sherwood.
No dia do casamento de Robin, foi grande então o número de jovens de meigos traços cujos sentimentos se avivaram, assistindo à felicidade do belo casal. Ao mesmo tempo em que dançavam, aquelas louras filhas de Eva lançavam olhares furtivos a seus amáveis cavalheiros, rindo ao se lembrarem do quanto já os haviam temido e imaginando que seria bem agradável viver aquela existência aventurosa com tão bravos companheiros. Na inocência dos seus jovens corações, deixavam transparecer o secreto desejo e os homens de Sherwood logo perceberam que podiam tirar bom partido disso. As belas mocinhas de Nottingham acabaram então se dando conta de que a eloquência dos companheiros de Robin Hood era tão irresistível quanto os seus olhares.
O resultado dessa descoberta foi que o irmão Tuck logo se viu extremamente atarefado, abençoando do nascer ao pôr do sol inúmeros casamentos. O bom frade muito naturalmente quis saber se tantas alianças não se originavam em alguma epidemia de tipo particular e quantas vítimas ainda sucumbiriam a isso, mas a pergunta ficou sem resposta. Tendo alcançado o seu auge, a fúria casamenteira pouco a pouco se abrandou e os casos se tornaram mais raros, mas é curioso observar que os sintomas se mantêm violentos, ainda nos dias de hoje.