O XERIFE DE NOTTINGHAM (trata-se de lorde Fitz-Alwine, de feliz memória), ao saber que Robin Hood e uma parte do bando se encontravam em Yorkshire, achou ser possível, com a ajuda de forte tropa de valorosos soldados, livrar a floresta de Sherwood dos bandidos que, longe do chefe, se veriam em dificuldade para se defender. Planejando a certeira expedição, lorde Fitz-Alwine pensou também em vigiar as proximidades do velho bosque, com o intuito de prender Robin quando regressasse. Mas como sabemos, os heróis do barão não eram tão heroicos, e ele fez vir de Londres, então, uma tropa de bravos, instruindo-os pessoalmente sobre o tipo de caçada que empreenderiam contra os proscritos.
Os alegres homens da floresta, entretanto, conheciam muitas pessoas em Nottingham e foram avisados do que lhes preparava a generosidade do barão, antes mesmo de este último ter fixado o dia em que se travaria a sangrenta batalha.
Esse lapso de tempo deixou aos mateiros a possibilidade de se pôr na defensiva, com preparativos para receber as tropas do grande xerife.
Entusiasmados com a boa recompensa prometida, os homens do barão marcharam ao ataque com ares de indomável bravura. Assim que entraram no bosque, porém, receberam uma revoada de flechas tão violenta que metade das suas fileiras caiu morta no chão.
À primeira revoada sucedeu uma segunda, mais forte, mais rápida, mais mortal. Cada flecha atingia seu alvo e os arqueiros permaneciam invisíveis.
Depois de deixar em pânico a expedição inimiga, os fora da lei abandonaram seus esconderijos e partiram em gritaria, liquidando os que tentavam resistir.
Uma algazarra medonha dispersou a tropa que, com indescritível desordem, regressou ao castelo de Nottingham.
Nenhum dos alegres homens da floresta se feriu naquele estranho combate e no final da tarde, recuperados do cansaço, bem-dispostos como estavam antes do ataque, eles empilharam em macas os corpos dos soldados mortos e foram deixá-los à frente dos portões externos do castelo de lorde Fitz-Alwine.
Furioso e desesperado, o barão passou a noite a se lamentar da desgraça acontecida: acusou seus homens, inventou ter sido abandonado por seu santo padroeiro, culpou a tudo e a todos pelo insucesso da aventura, proclamando-se valoroso chefe, vítima da má vontade dos seus subordinados.
Já no dia seguinte àquele triste episódio, lorde Fitz-Alwine recebeu a visita de um amigo normando, que veio acompanhado de cerca de cinquenta homens. O barão contou a lamentável ocorrência, acrescentando, provavelmente para justificar suas eternas derrotas, que o bando de Robin Hood era invisível.
— Querido barão — respondeu tranquilamente sir Guy de Gisborne (era o nome do visitante) —, Robin Hood poderia ser o diabo em pessoa que eu lhe arrancaria os chifres, se assim quisesse.
— Falar é fácil, meu amigo — respondeu amargamente o velho senhor. — É muito fácil dizer: se quisesse faria isso, faria aquilo. Desafio-o então a prender Robin Hood.
— Se fosse essa a minha intenção — respondeu indolentemente o normando —, não precisaria que me desafiasse. Sou forte o bastante para domar um leão e, afinal de contas, esse seu Robin Hood é apenas um homem. Inteligente, é verdade, mas de forma alguma um personagem diabólico e invulnerável.
— Diga o que quiser, sir Guy — acrescentou o barão querendo levar o normando a se interessar por Robin Hood —, mas não existe na Inglaterra quem seja capaz, incluo nisso camponeses, soldados e grandes senhores, de fazer curvar-se à sua frente esse valente fora da lei. Ele desconhece o temor, nada o assusta. Não se intimidaria diante de um exército inteiro.
Sir Guy de Gisborne sorriu desdenhoso.
— Não tenho a menor dúvida — disse — quanto à valentia desse bravo proscrito, mas admita, barão, que até o momento Robin Hood teve que combater apenas fantasmas.
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