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– BEM QUE EU GOSTARIA de saber como está o bispo de Hereford hoje — dizia Will Escarlate a seu primo João Pequeno, que, seguido por Much, o acompanhava a Barnsdale.

— A cabeça do pobre prelado deve estar um tanto pesada — respondeu Much. — Mesmo que Sua Senhoria esteja habituada ao abuso do vinho, ao que tudo indica.

— Muito justa a observação, meu amigo — concordou João. — Monsenhor de Hereford tem a faculdade de beber consideravelmente, sem perder o fio das coisas.

— Robin tratou-o muito cortesmente — disse Much —; ele é sempre assim com todos os eclesiásticos que encontra?

— É, sobretudo com aqueles que, como o bispo de Hereford, abusam do poder espiritual que detêm para espoliar o povo saxão. Já aconteceu inclusive de Robin não se limitar a esperar a vinda desses religiosos viajantes, mas tomar a iniciativa de ir buscá-los.

— O que quer dizer com "ir buscá-los"? — quis saber Much.

— Uma história que posso contar enquanto caminhamos vai esclarecer: Certa manhã, ele soube que dois beneditinos, carregando uma forte soma de dinheiro para a abadia, deviam atravessar um trecho da floresta de Sherwood. Gostou muito da notícia, pois nossos fundos estavam baixos e aquele dinheiro vinha mesmo a calhar. Sem nada nos dizer, pois os dois monges não dariam tanto trabalho, ele vestiu um comprido hábito de peregrino e foi esperar no caminho que deviam seguir os irmãos.

"Em pouco tempo os monges apareceram: dois sujeitos de boa envergadura, bem à vontade nos seus cavalos.

"Robin foi até eles, cumprimentou-os curvando-se até o chão. Ao levantar pegou as rédeas dos animais, que marchavam lado a lado, e lamuriou-se:

"— Benditos sejam, santos irmãos, e permitam que diga o quanto fico feliz com esse encontro. É uma grande satisfação e humildemente agradeço aos céus.

"— Mas que dilúvio de palavras! — reclamou um dos frades.

"— É como se exprime minha alegria, padre. Os senhores são representantes do Senhor, do Deus de bondade, são a imagem da misericórdia divina. Estou necessitado de socorro, sou um pobre coitado faminto. Estou morrendo de fome, irmãos, ajudem-me com algumas provisões.

"— Não temos provisões conosco — respondeu o monge que já havia falado antes. — Não insista, então, e deixe-nos seguir em paz nosso caminho.

"Segurando ainda as rédeas dos cavalos, Robin Hood impedia que os frades tentassem fugir.

"— Irmãos — voltou a pedir com voz ainda mais chorosa e fraca —, tenham piedade de minha miséria e, já que não têm pão, deem-me uma moedinha qualquer. Perambulo nesse bosque desde a manhã de ontem e nada comi nem bebi. Caros irmãos, em nome da divina mãe de Cristo, façam, imploro, esse ato de caridade.

"— Imbecil, pare de falar tanto e largue as rédeas dos nossos cavalos! Não podemos perder tempo com idiotas da sua espécie.

"— Exatamente — acrescentou o outro monge, repetindo literalmente o que havia dito o colega —, não podemos perder tempo com idiotas da sua espécie.

"— Piedade, bons irmãos, algumas moedinhas para que eu não morra de fome!

"— Mesmo que eu quisesse lhe dar uma esmola, mendigo teimoso, não teria como, não temos dinheiro algum.

"— No entanto, irmãos, não parecem pessoas sem recursos, têm bons cavalos, bons acessórios e aparência geral de pessoas satisfeitas.

"— Tínhamos dinheiro até poucas horas atrás, mas ladrões nos roubaram tudo.

Robin Hood, o proscrito (1873)Onde histórias criam vida. Descubra agora