Catarse - Sariette

Capítulo 5

Juliette nunca foi uma pessoa de perder tempo. Ela costumava pensar que a vida era só uma percepção pessoal da realidade e por mais que o tempo fosse matematicamente infinito, ele era dividido em pequenas porções de finitude dadas a cada ser vivo existente e Juliette não desperdiçaria de jeito nenhum a porção de finitude concedida à ela.

Quando decidiu ouvir Gil e abordou Sarah pela primeira vez depois que o programa terminou, Juliette sabia que elas não iriam se dar bem de primeira por tudo que as levou até ali, mas estava disposta a continuar tentando. Sarah, por outro lado, não estava, então era uma perda de tempo insistir sozinha, Juliette tinha pressa.

— Se você tivesse que pausar o tempo e reviver uma memória da sua vida para sempre, qual você escolheria? – Juliette perguntou para Sarah, que separava algumas coisas do ex dentro de uma caixa de papelão.

— Não sei, provavelmente algum natal em família quando eu era criança. Meus pais e eu costumávamos passar o dia inteiro assistindo filmes natalinos e à noite abríamos os presentes e brincávamos juntos. – A loira sorriu para si mesma. – E você?

— Acho que eu não gostaria de ficar presa em uma memória, seria terrível viver um dia de novo e de novo pelo resto da vida. – Sarah refletiu uns segundos sobre a resposta da morena e chegou a conclusão de que realmente enjoaria de viver o mesmo momento para sempre, a magia por trás dos momentos nostálgicos estava no fato de eles serem raros.

Juliette estava em São Paulo há seis dias desde o evento do Globoplay. Ela devia ter voltado ao Rio no dia seguinte, mas resolveu passar a tarde com Sarah, o que causou uma confusão na sua agenda, então adiou todos os seus compromissos em São Paulo para compensar o dano.

Apesar da confusão de compromissos, Juliette não tinha se arrependido. Passou a semana se dividindo entre fotografar, conceder entrevista ler e assinar contratos durante o dia e ao final da tarde fazia uma visita à Sarah. Durante esses dias Sarah havia se mostrado mais aberta a conversar com ela, e como a boa observadora que era, Juliette começou a reparar em alguns detalhes do comportamento da loira. A primeira é que Sarah parecia extremamente estressada com a exposição pública, em um nível que parecia beirar o medo. Juliette pensou que podia ser decorrente dos ataques que sofreu por um tempo, então ofereceu que tirassem uma foto juntas mostrando que estava tudo bem entre elas para acalmar os ânimos mas a loira descartou aquela ideia instantaneamente.

A segunda observação foi de que Sarah parecia estar sozinha, no sentido literal da palavra. Desde a viagem de Gil e o término conturbado com Lucas ela não havia feito nada além de trabalhar trancada em casa, parecia se esforçar para não ter nenhuma relação que não fosse estritamente profissional naquela cidade. Juliette achava aquilo preocupante, por isso resolveu se aproveitar da pequena abertura que havia conseguido e passou a visitá-la todos os dias, passava o final da tarde inteira puxando assuntos aleatórios e ia embora quando a noite caia. Sarah deixava claro que achava a paraibana uma intrometida, mas não tentava afastá-la.

— Eu ainda acho que você deveria vender isso tudo aí, imagina o dinheiro que pegaria nesse notebook. – Juliette disse vendo a loira colocar o aparelho dentro da caixa de papelão.

A morena estava jogada no sofá com o cachorrinho peludo deitado em cima de si assistindo Sarah empacotar as coisas de Lucas. Durante a semana o homem marcou de passar na casa para buscar alguns pertences que havia deixado lá, mas Sarah não queria vê-lo, então teve a ideia de colocar tudo dentro de uma caixa e deixar com o porteiro.

— Seria uma boa vingança, mas não quero nada que venha dele mais, eu iria acabar rasgando todo o dinheiro. – Disse pondo a caixa de lado – Terminei por aqui, o que vamos jantar hoje?

Durante aqueles dias, Juliette sempre jantava com Sarah antes de ir embora. Todo dia elas pediam um prato diferente, na noite anterior havia sido comida árabe e na outra pediram um prato coreano, a morena nunca contava para ela o que havia pedido até que a comida chegasse, Sarah desconfiava de que ela não tinha critério nenhum na hora de escolher, tinha certeza de que um dia ela pediria algo de procedência questionável, mas ainda sim gostava da expectativa em descobrir o que teria para o jantar.