O Início

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Adhara POV

Você, querido leitor que está lendo sobre minha vida, sabe o que é dormir em paz? Sabe o que é tirar um cochilo revigorante no meio da manhã para repor as energias e acordar revitalizado? Não? Bom... eu também não

-ACORDA CRIATURA- A delicadeza desse ser humano me fez despertar em um pulo, caindo vergonhosamente da carteira e causando risada nos malditos seres humanos ao meu redor

-Porra Arianne, vai gritar lá na puta que pariu-Resmunguei esfregando meu braço dolorido com a queda

-Olha a boca- Repreendeu com cara feia- Se não quer acordar no susto não durma na escola, tu em é sorte que o professor faltou,ou teria sido bem pior.

-Arianne, pensa comigo: Ficar acordada e ouvir as idiotices de Jonas enquanto ele finge que tá dando aula,ou dormir, descansar a mente por duas aulas e relaxar o suficiente pra aturar a aula de violino que minha mãe tá me obrigando a participar. qual a melhor opção?-perguntei sarcasticamente enquanto arrumava minhas coisas na mochila.

-Ela tem um ponto- Opinou Yago

-E você tá concordando porque é outro que dormiu o dia quase todo- Acusou Sabrina

-Shiiiiiu,detalhes -Respondeu o acusado- Cuida Adhara, vamos logo dá o fora desse inferno

Me apressei em sair da sala junto aos meus amigos, a maior parte da turma já tinha vazado ao primeiro sinal de horário livre, mas nós iamos esperar pelo resto do bando pra ir embora

-Até hoje tenho raiva das vacas radioativas terem separado nossa gangue-Reclamei olhando feio para a porta fechada do 8°ano b

- Né isso,coitada das meninas que foram jogadas pras feras - Concordou Brena fazendo um pequeno drama

Nosso grupo consistia em oito pessoas, eu, Sabrina, Sidney, Amanda, Yago, Arianne, Brena e Luiza. Éramos grudados desde o jardim de infância e juntos costumávamos ser o pesadelo de qualquer professor, até que a escola contratou as três songa-mongas que eles chamam de coordenadoras seletivas, que ao contrário da coordenadora principal (que não era lá o maior doce de pessoa, mas pelo menos era justa) eram o ranço coletivo dos alunos de todas as séries. Que escola precisa de QUATRO coordenadoras você deve estar se perguntando? A resposta é : Nenhuma, o diretor invocou essas três desgraçadas direto do fundo dos infernos apenas para tornar a vida -já decadente- dos estudantes um pesadelo de proporções épicas, começando com a separação das "panelinhas" para a melhor integração dos alunos... Não preciso dizer que isso foi uma piada completa certo? Mas infelizmente foi o que aconteceu e o que levou amanda e Luiza para a sala ao lado, o que não preciso dizer, causou absoluto ódio de todos nós pra cima delas.

-Ainda falta quanto tempo pra o sinal tocar?-Perguntei jogando minha mochila no chão e deitando por cima dela

-Uns 15 minutos, nem adianta dormir de novo preguiçosa- Sidney respondeu enquanto jogava o casaco (que pra variar eu tinha esquecido na sala) na minha cara

-Não é preguiça, é cansaço, tenta ter atividades nos três horários todo dia e não ficar morto já na metade da semana- Exclamei me estirando ainda mais no chão

Sim, você leu certo, eu estou completamente na ativa das cinco da manhã até as dez da noite,de domingo a domingo e de janeiro a janeiro. Meus pais tem essa filosofia de vida que diz que corpo e/ou mente ociosa é oficina do diabo, resumindo eles me obrigam a estar sempre fazendo algo "produtivo" para evitar que eu me meta em problemas como esses adolescentes que vivem se drogando. Na teoria isso funciona bem, mas na prática... meu organismo pré adolescente de 13 anos estava pedindo arrego.

- Você atura isso porque quer, sabe muito bem que já passou da hora de dar um basta nos seus pais programando cada minuto da sua vida, algum dia desses você vai cair dura no chão com seu cérebro em piripaque- Reclamou Sabrina, eles estavam sempre comigo, então já tinham visto em primeira mão quando eu surtava pelo excesso de afazeres (geralmente em época de provas finais que sempre batiam com espetáculos de Ballet e concertos de música)

-Sabe muito bem porque eu aturo isso-Resmunguei virando o rosto, sinal de que eu não queria falar sobre o assunto

- Sim, eu sei. E é exatamente por isso que eu te digo que o melhor era dar um basta antes que a coisa piore-Respondeu com um olhar repreensor

Essa conversa bastou para o clima ficar pesado, todos sabiam o quanto aquele assunto era delicado pra mim, não é que meus pais me batessem ou pior, mas eles tendiam a não aceitar que eu não fosse perfeita do jeito que eles queriam, a lembrança da única vez que eu tirei uma nota baixa passou pela minha mente trazendo um arrepio desagradável que me fez encolher involuntariamente. Eu fiquei tão temerosa em mostrar o teste surpresa de matemática do sétimo ano, que tinha praticamente implorado que meus amigos viessem comigo, achando que isso impediria o surto em casa. É claro que eu me enganei, os gritos dizendo o quão inútil eu era duraram boa parte da tarde, cessando apenas quando os vizinhos bateram a porta ameaçando dar queixa, e a tendinite que eu desenvolvi refazendo todas as contas me matemática do ano inteiro duzentas vezes-para nunca mais sair de minha cabeça a resolução certa de cada uma- volta toda vez que estou sobre pressão. Eu nunca ousaria ir contra as ordens deles, porque tinha medo do que poderia acontecer comigo se tentasse. Mas tudo bem, eu sobrevivi assim por quatorze anos, podia sobreviver mais quatro.

Sai dos meus pensamentos com o escandaloso barulho do sinal tocando, avisando que todo o ensino fundamental podia ser liberado de suas prisões diárias

- FINALMENTEEEE, o caralho desse horário parecia que não ia acabar nunca- E esse ser nem um pouco exagerado é Amanda, saindo da aula de sociologia ministrada pela vaca patatá, seguida por Luiza revirando os olhos pelo drama, só esse pequeno ato foi o suficiente para aliviar a tensão no ar enquanto todo mundo saia correndo pra fora de Chernobyl/colégio mais rápido que o flash.

Essa era nossa rotina todo dia, como morávamos perto uns dos outros iamos para o mesmo ponto de ônibus e só nos despedíamos quando cada um subia a rua de sua casa, nos falando de novo de noite e nos encontrando de manhã pra voltar pro presídio.

- Gente, vão indo que eu vou comprar algodão doce- Avisei com os olhos brilhando ao avistar o vendedor de algodão doce em frente ao banco

- Tu e teu açúcar queimado- Yago comentou revirando os olhos

-Respeita o algodão doce-Falamos eu e Luiza ao mesmo tempo, caindo na risada logo em seguida. Eu teria chamado ela pra ir comigo, mas sabia que ela não comia nada perto da hora do almoço pra não perder a fome.

Atravessei a rua dupla e corri pra alcançar o vendedor, já estava voltando quando a gritaria e a comoção começou, uns seis caras de boné e armas na mão sairam correndo do banco sendo seguidos por alguns seguranças e começaram a atirar aleatoriamente em quem estava próximo tentando ganhar tempo e espaço pra fugir

E como o universo me odeia é claro que uma das vítimas fui eu

Você, querido leitor, é uma pessoa sortuda? Não? Bom... Eu menos ainda

To be continue

A Irmã Gêmea de Scott MccallOnde histórias criam vida. Descubra agora