POV ADHARA
Depois de levar o tiro não consegui processar muito do que acontecia ao meu redor, eu sabia que alguém tinha chamado a ambulância pois conseguia ouvir a sirene a distância se aproximando, senti alguém delicadamente tirar minha mochila das minhas costas (o que não era nem um pouco indicado pelos primeiros socorros) e pensei que devia ser algum dos meus amigos pra pegar minha carteira de identidade e do plano de saúde (andem sempre com documentos galerinha, nunca se sabe o que pode acontecer), depois disso eu apaguei, só acordando horas depois já no quarto do hospital.
Abri os olhos desorientada com a claridade excessiva enquanto tentava lembrar o que tinha acontecido. Não precisei me esforçar muito, bastou que eu tentasse me mexer para sentir a dor lacinante no peito me fazendo soltar algo entre um arquejo de surpresa e um gemido de dor
-Hey unicórnio, como você tá se sentindo?- Luiza perguntou me oferecendo um copo d'água que aceitei agradecida, minha garganta tava me matando
-Eu não sou um unicórnio umpalumpa- Respondi revirando os olhos
- Ela tá bem-Assegurou a morena com um sorriso
Olhei ao redor e vi que o quarto estava lotado com minhas pessoinhas preferidas no mundo todo (N/A puxa saco, não?), o que não me surpreendeu nem um pouco, a mesma coisa tinha acontecido quando Brena tinha tido que fazer uma cirurgia de apendicite as pressas, ninguém ficava pra trás.
-Vou chamar a médica-Avisou Sidney levantando da cadeira
-Beleza, a quanto tempo eu tô aqui?- Perguntei segurando a vontade de sentar direito. Eles se entreolharam e eu sabia que não ia gostar da resposta
- Quatro dias, você teve que passar por uma cirurgia delicada, a bala se alojou muito perto do pulmão, além disso teve muita dificuldade pra encontrar sangue compatível com o seu para a transfusão- Contou Yago
- Impossível, meu sangue é O+, pode não ser o receptor universal, mas eu posso receber de qualquer doador O, e mesmo que não tivessem em estoque um dos meus familiares teriam que ser compatíveis- Retruquei, eu lembrava muito bem dos meus estudos de célula sanguínea, obrigada- Não tem o menor sentido eu ter passado quatro dias aqui, cirurgias de bala duram em torno de três horas
- Não reclame com o mensageiro mini-gênio, só estou repassando o que disseram pra mãe de Amanda quando ela perguntou-Respondeu o garoto levantando as mãos em sinal de rendição, revirei os olhos sorrindo pela gracinha
- Alguém guardou meu algodão doce?- Questionei inocentemente
Arianne, Yago e Brena me olharam desacreditados, enquanto Luiza,Amanda e Sabrina cairam instantaneamente na gargalhada, rindo até perderem as forças, eu por outro lado apenas sorri em respeito ao meu machucado que doía com meus movimentos
- Você não tem um pingo de juízo - Acusou Ari antes de sorri também.
Fiquei satisfeita ao ver que a tensão deles tinha sido espantada, afinal, se eu estava fazendo gracinhas era porque iria sobreviver para encher o saco de todo mundo alí por mais algum tempo. Como se esperando por esse timing a médica entrou no quarto seguida por uma enfermeira
- Olá Adhara, eu sou a Dra Nathalia, poderia por favor pedir ao seus amigos para se retirarem para que eu possa verificar seus pontos?-Pediu gentilmente
-Yago, você e Sidney poderiam encontrar minha mãe por favor?- Pedi, eles assentiram e sairam do quarto. Entendam bem, nenhum de nós mandava nos outros, mas por aquele pedido eu pude perceber que os médicos provavelmente tentavam tirar todos eles daquele quarto desde que eu entrara nele e se eles queriam garantir que eu não estivesse só eu que não iria me impor contra
- Desculpe querida, eu quis dizer todos os seus amigos- Falou olhando para as meninas que continuavam sentadas com aquela famosa expressão " daqui não saio, daqui ninguém me tira"
- Eu não acho que elas estejam considerando sair doutora e depois desses quatro dias você já deve ter percebido o tamanho da teimosia do nosso grupo, por que acha que eu conseguiria dissuadi-las?- Perguntei ironicamente
Ela, não insistiu mais, verificou os pontos, trocou os ferimentos e prescreveu algo no meu quadro geral antes de sair, dando entrada pros meninos
-Não sei porque a gente teve que sair- Reclamou Yago fazendo bico, olhei pra ele como se perguntasse "é sério?"- Enfim, disseram na recepção que a polícia levou seus pais a delegacia
achei estranho, mas imaginei que deveria ser algo sobre o atirador e não dei muita bola, conversei mais um pouco com a galera até que escutamos batidas na porta, gritei que podia entrar , liberando presença de uma mulher com uma pasta e um homem cujo a postura lembrava um policial ou um segurança, embora usasse um terno preto
-Adhara Vasconcelos, correto?- Perguntou a mulher, assenti positivamente- Será que podemos conversar em particular?
-Não- Respondi simplesmente, ela arqueou a sobrancelha em questionamento- Tudo o que for falar pode falar com eles aqui, me poupa de ter que repetir palavra por palavra depois-Completei irredutível
- Muito bem, se é assim que você quer proceder... Vi na sua ficha pessoal que tem altas habilidades em praticamente todas as áreas, imagino que sendo tão inteligente já tenha se perguntado o que ainda esta fazendo aqui após quatro dias?
-Sim, levando em conta que ainda sinto dor mesmo com movimentos rasos e lentos suponho que a cirurgia tenha ocorrido nas últimas 24 horas, o que não explica o que diabos a equipe médica fez todos esses dias-Respondi na lata
- Bem, a demora se deu pela dificuldade em encontrar sangue compatível com o seu...
-Isso não faz sentido. Eu sou O+, O é um dos tipos sanguíneos mais comuns no Brasil, cerca de 87%, mesmo que a doação de sangue esteja em baixa é cientificamente impossível não haver nenhuma bolsa O no banco de sangue do hospital- Afirmei, ela me olhou antônita por alguns segundos antes de continuar
-Você provavelmente está correta quanto a pesquisa, mas seu sangue não é O+, você é AB nulo- Respondeu conferindo um arquivo em sua pasta
-Impossível- Afirmei- Tá na minha certidão de nascimento, além disso RH nulo é tão raro que desde 1961 quando foi descoberto só foram registrados 43 casos, nem ao menos é possível calcular a porcentagem de tão poucos casos-Expliquei vendo que meus amigos estavam sem entender
- Não duvido que esteja, mas quando você chegou no hospital fizeram o exame de compatibilidade, já que nenhum dos seus amigos soube dizer seu tipo e seus pais não atenderam celular. Refizeram duas vezes, como pode ver o resultado não mudou- Explicou me mostrando os resultados, eu podia até não acreditar nela, mas como uma futura bióloga eu não iria discutir contra fatos comprovados pela ciência
- Isso quer dizer que eu sou adotada certo? Digo RH nulo é um fator duplamente hereditário, se nem meu pai nem minha mãe puderam doar significa que eu não sou filha biológica deles -Perguntei mesmo já sabendo a resposta
- Sim e não- Respondeu, dessa vez o homem de terno- Você não é filha biológica deles, mas também não foi adotada, quando entraram com seu sangue no banco de dados atrás de compatibilidade só haviam mais duas pessoas com essa anomalia,ambas da mesma familia, mãe e filho, família que teve uma filha dada como morta no nascimento, treze anos atrás
-Por que algo me diz que ela não esta morta?-Perguntei ironicamente
- Porque, como já deve ter percebido essa garota "morta" foi roubada e criada em outro país, ninguém nunca teria descoberto se não tivesse precisado dessa transfusão - Respondeu
-Ótimo, agora tenho que agradecer ao homem que atirou em mim por me fazer descobrir que minha vida é uma mentira. É mole isso?- Perguntei sarcasticamente a ninguém especifico.
Minha semana só ficava melhor....
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A Irmã Gêmea de Scott Mccall
FanfictionO que você faria quando sua vida inteira Virasse de ponta cabeça? Se de repente fosse deportada e obrigada a começar uma vida completamente nova?