Lá estava Eduardo, sentado à mesa da copa, tremendo e babando de tão fulo que se sentia. Raiva pura. Sabe quando bate o mau humor destampado e não tem jeito de desamarrar a cara? Pois é, igualzinho ao que Eduardo experimentava, imprecando sentado. E as palavras iam de "bastardo" até "diabo".
A mãe do rapaz também estava na mesa.
Ela num canto e ele no outro.
A mulher, que beirava os cinquenta anos, conservara muito de sua beleza juvenil e aprendera a ser paciente também. Pelo menos disso ela poderia tirar vantagem agora, Eduardo parecia estar impossível e ela sabia que se seu filho chegasse em casa desse jeitinho e fosse direto sentar-se na mesa da copa como havia feito, voando feito um furacão, passando, destruindo, arrasando e ignorando tudo pelo caminho, era sinal evidente de que algo não estava bem. Desde pequenino ele tinha esse gênio forte.
E ela, a mãe, teria que escutar horas e horas de lamentação.
Tempestade na certa.
E o garoto bufava agora:
- Foi ele mãe!!! Foi ele!!! Foi aquele cachorro! Maldito! Ai que ódio! Juro que um dia eu ainda me vingo daquele desgraçado! Se eu o pego de jeito... Ah! Ele vai ver só! Torço o pescoço do infeliz e quero ver! – Eduardo tremia de raiva. Tinha o rosto tão vermelho que poderia ser confundido com um veranista descuidado. Seus braços estavam cruzados, como uma criança que faz birras, carantonhas e depois emburra – Ele implica comigo! Arranja sempre um jeito de me arruinar o dia!
- Quem? – Perguntou Sônia, a mãe de Eduardo, lixando as unhas da mão, com a pose muito ereta, sentada do outro lado da mesa, tentando aparentar altivez e um pouco de descaso para amenizar a situação e quem sabe tentar deixar o problema do filho não parecer grande coisa. Armada com um estoque de paciência foi logo indagando – O que aconteceu?
O garoto estava descontrolado, sua cólera era tamanha que não podia nem raciocinar direito. Dona Sônia estava acostumada com as explosões de seu filho e antigamente nem dava tanta importância para os "barracos". Mas Eduardo andava muito estressado por causa do vestibular, então por mais fútil que fosse o motivo da irritação, ela procurava ajudar da melhor maneira possível.
Mas sabia que não havia de ser nada importante.
Provavelmente bobagem e pura ladainha.
Na maioria das vezes era.
Eduardo era um belo rapaz. Tinha a pele lisa e bem branca, pura culpa da falta de sol e excesso de chuva que Curitiba costuma ter. Possuía olhos negros ladeados por pestanas longas e sobrancelhas oblíquas. Seu nariz era do tipo normal, mas seus lábios eram coisas de outro mundo. Naturalmente rubros e úmidos. Sem contar seus dentes que eram perfeitos e muito brancos.
Seus cabelos contrastavam com o branco da cara, pois eram de uma coloração negra reluzente como piche e escorriam pela testa de tão lisos que eram.
Não havia melhor moldura para uma face tão bela.
Seus traços eram delicados, porém marcantes. A barba ainda não começara a crescer e ajudara a manter seu aspecto de menino, apesar de ter dezenove anos.
Eduardo também possuía o porte atlético. Não chegava a ser musculoso, mas era bem forte, tendo as coxas grossas, tórax delgado com os músculos do peito desenvolvidos.
Era orgulho do papai e da mamãe e dos quatro avós.
Garoto prodígio, filho único, tocava violão, se destacava nos esportes, colecionava medalhas e troféus de campeonatos que participara na época de colégio, sem contar que sempre fora um dos melhores alunos da instituição tendo sempre as notas impecáveis. Tirar algo abaixo de noventa era um absurdo e motivo para desconfiar que Eduardo estava doente.
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A Casa do Começo da Rua (romance gay)
RomanceEduardo é aluno de um curso preparatório para o vestibular. O sonho do rapaz é entrar no curso de medicina da Universidade Federal. Eduardo passa grande parte de seu dia estudando, e quando não está com livros e apostilas, passa um pouco de tempo co...