O sinal para o intervalo acabara de tocar e toda a turma do cursinho levantou-se afoita, acotovelando-se rumo às escadarias que levavam ao pátio. Fábio esperou Eduardo sair:
- Me conta o que aconteceu! Aquele dia no telefone fiquei super curioso. Queria saber mais, mas achei melhor esperar um telefonema seu, já que você tava acompanhado e eu não queria atrapalhar...
- Ah, deixe de besteira. Ele foi embora logo depois. Mas o que aconteceu foi que eu chutei o balde em casa.
- Oras, mas disso eu já sabia. Muito me faria gosto se você contasse detalhes, seu mané! Como foi que aconteceu?
- Pensei que Rodrigo já tinha te contado...
- Contou, mas foi só por cima...
- Certo... Bem, primeiro a gente tava falando no telefone, eu e o Rodrigo. Eu tinha sentido uma atração por ele desde o primeiro momento em que o tinha visto e gostava de conversar com ele, gostava da presença dele, por mais perturbadora que fosse. E então, a cada visita ou telefonema, íamos ficando cada vez mais íntimos, e nessa conversa surgiu um clima tão grande, que quando me dei conta a gente tava se beijando!
- Affe! Mas como?
- Sei lá! Ele desligou o telefone na minha cara e veio correndo rua abaixo. Alguma coisa me fez fazer o mesmo.
- Você fez o mesmo? Parece coisa de cinema! E o beijo?
- No meio da rua! Luz do sol e tudo mais!!!
- Caraca... Sério?
- Sério, e minha mãe viu tudo!
Fábio estava pasmo:
- Imagino a cara dela!
- É, a coitada empacotou. Sei que depois, lá estava eu, Rodrigo e a mãe dele ajudando a acordar minha mãe no chão. Jogamos água nela, e a levamos para a cozinha. Ela tremia tanto que parecia ser feita de Maria Mole. Tive que dar água com açúcar... e ela só conseguia falar: ai de você quando seu pai souber disso! Ai de você, coitado do seu couro!
- Que engraçado!
- É né? Agora é engraçado, mas na hora eu senti um peso na consciência... Tava com a maior pena dela. Mas também eu não estava arrependido. Se pensar bem, foi até legal!
- Sim, sair do armário pode ser legal...
- Eu sei. Um alívio!
- É, mas pode ser traumático também. Cara, você teve muita sorte que seus pais não tenham te rejeitado. Acontece bastante e você ia passar a maior barra.
- Você acha mesmo? Acha que meus pais iam me jogar na rua?
- Bem... Acontece, né?
- Puxa! Ainda bem que não foi o meu caso, cheguei até a agradecer aos céus por isso, mas e você?
- Que tem eu?
- Seu pai... Ele sabe de você?
- Sabe, mas finge que não sabe. Eu não contei, mas também não escondo. Eu deixo revistas espalhadas, cartas, bilhetes que ganho de paqueras... E quando o telefone toca para mim, só tem macho do outro lado da linha. Bobo meu pai não é, mas acho que prefere não ter certeza absoluta... Mas se um dia ele perguntar, eu falo mesmo.
- Eu acho que ele ia levar numa boa.
- Eu também. Se duvidar ele é do babado também.
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A Casa do Começo da Rua (romance gay)
RomanceEduardo é aluno de um curso preparatório para o vestibular. O sonho do rapaz é entrar no curso de medicina da Universidade Federal. Eduardo passa grande parte de seu dia estudando, e quando não está com livros e apostilas, passa um pouco de tempo co...