Sorte, Azar e uma maldita chuva.

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- Capítulo 01 -

Sakusa se recusava em acreditar em misticismos que beirão entre sorte e azar, mas agora a palavra azar lhe caia muito bem. Quando saiu de casa a meia hora atrás para ir ao mercado próximo a seu apartamento as nuvens passeavam no céu, o vento levava o calor de sua pele de forma gentil, ao longe o sol começava a se pôr, deixando enfim a tarde cair sobre pessoas apressadas e as buzinas dos carros, o clima perfeito. No entanto agora parado em frente a grande porta do mercado, jurava a si mesmo que não havia passado mais que 15 minutos dentro do estabelecimento, mas ali olhando para o estacionamento foi quando viu os primeiros pingos de chuva cairem em sua frente, decidiu prosseguir mesmo assim, afinal estava perto de casa, e seria drama demais esperar a chuva que mal havia começado passar.
Um xingamento baixo deixou seus lábios, a cada passo dado via também a chuva aumentar, por sorte - desta vez - viu ao longe um pequeno telhado, aparentemente era a fachada de uma pequena loja de doces que não se lembrava de ter visto antes.
Enquanto apertava os passos - se recusando a correr de forma patética e estúpida, já que pular sobre a água o faria se molhar duas vezes mais - sentia que aos poucos a água que caia sobre seus cabelos começava a atrapalhava sua visão, assim que seu pé direito tocou embaixo da cobertura deu de cara com outra pessoa - aparentemente tiveram a mesma ideia e necessidade.

Atsumu - Omi-Kun?

Só havia uma pessoa na face de toda terra que tinha esse tom de voz grave ao chamar Sakusa Kiyoomi assim, seus olhos conheciam bem aqueles cabelos cobertos pelo capuz que fora puxado, apesar de agora negros - como os seus.
Atsumu sempre seria uma sombra conhecida em qualquer circunstância.
Quis sair dali no mesmo passo em que entrou, mais precisamente queria fugir, odiava encontrar o outro por acaso ou melhor, despreparado psicologicamente.
Ainda mais depois do termino que achava ter superado - burrice sua - mesmo que já fizessem seis meses, se fechasse os olhos poderia ser levado a aquele dia, como se fosse ontem, ouvir tudo se passando em sua frente por mais uma vez, como um pesadelo.
O baixo tom da voz de Atsumu, era firme, mas não feliz como de costume, permaneceu com a cabeça baixa, não sabia se teria controle ou até mesmo coragem de olhar no fundo dos olhos dele. Ainda não. Se encostou na parede e deixou que sua voz rouca e fraca saísse de seus lábios.

Sakusa - Atsumu.

Disse sentindo o gosto amargo surgir em sua garganta, não conseguia chamar pelo seu apelido. Havia um sentimento crescendo dentro de seu peito, se sentia patético e covarde, diante da pessoa mais corajosa que conhecia. O ex-meio loiro sempre fora o mais corajoso, sempre dera os primeiros passos, afinal.

Atsumu - Você... está só com essa camiseta?

Desta vez ouviu a voz soar meio preocupada na fala do mais alto.

Sakusa - Não achei que ia chover assim.

Ouviu uma breve risada baixa, sentindo tudo que sempre sentiu quando se tratava de Atsumu reacender com facilidade dentro do peito.

Atsu - Você é sempre péssimo.

Sakusa - Você não é muito diferente.

Olhou pela primeira vez em direção do agora moreno, vendo que ele também estava sem guarda-chuva, porém um moletom e jaqueta cobriam os ombros largos. Seus olhos seguiram até trombarem com as orbes amarelas, os olhos de Atsumu sempre foram uma das partes favoritas para Sakusa, eles combinavam lindamente com o tom amarelo dos cabelos - pelo menos depois que o ex-meio loiro decidiu deixar que Kyomi o ajudasse com os produtos, já que se recusava a ir até um salão.
O silêncio prevalecia no pequeno espaço que ocupavam, enquanto o sentimento transbordava pelos olhos. Mentiria se dissesse que poderia esquecer Atsumu.

Atsu - Omi, olha, eu...

Suna - Ei, vocês.

Uma segunda voz fora ouvida, assim que o vidro negro de um carro baixou, os dois olharam na direção daquela voz.

Osamu - Tsu? Omi? O que vocês...

O agora moreno também, fora interrompido pelo acastanhado ao seu lado no banco do passageiro.

Suna - Saiam da chuva, a gente da uma carona pra vocês.

Sakusa tentou protestar, mas não fora ouvido, não era uma opção deixá-lo ir embora na chuva, mesmo estando a poucos minutos de seu apartamento, e jurando que não pegaria uma gripe. Jogando todo seu auto-cuidado no lixo, mas o não e três pessoas dizendo que se não entrasse no carro iriam andando com ele fez com cedesse. Sem mais opções, se sentou ao lado de Atsumu no banco de trás, ouvindo sua voz soar animada pelo carro e se msiturar a do irmão segundos mais velho, enquanto Suna e o moreno apenas observavam em silêncio.

Suna - A gente precisa combinar um dia pra sair, sério, precisamos de um tempo.

Disse o acastanhado, depois que os gêmeos se calaram, recostando a caabeça sobre o banco, enquanto fechava os olhos.
O sinal vermelho brilhava fortemente pelo vidro meio embaçado, enquanto as gotas de água desciam lentamente pela janela.

Atsumu - Vou estar livre depois da semana que vem.

O ouviu dizer, permanecendo em silêncio.

Suna - Sakusaaaaa - ouviu seu nome ser chamado de forma preguiçosa. - Não fica aí me ignorando seu chato.

Sakusa - Você continua irritante.

Suna - E você continua um babaca.

Osamu - Não comecem. Omi, quando vai ter um tempo livre?

Ouviu o bufar de Suna ao fundo.

Sakusa - Talvez esteja livre na semana que vem.

Respondeu de forma simples. Já estava livre a pouco mais de uma semana, mas não sabia se queria de fato ir a um encontro onde Atsumu estivesse e correr o risco de vê-lo com outra pessoa seria torturante demais.
Por hora estava evitando morrer aos poucos.

Osamu - Você não tem saído muito, né? Estou preocupado.

Sakusa - Não precisa se preocupar - disse baixo - apenas não sei quando estarei livre...

Atsumu - Pode só dizer que não quer ir.

Suna abriu os olhos minimamente, encontrando os do namorado, Sakusa virou a cabeça em direção ao moreno, que já olhava para si.

Sakusa - E quem disse que eu não quero?

Atsumu - Você sempre vai agir como se eu não te conhecesse?

Sakusa - Não quero discutir com você.

Atsumu - Tudo normal então?

Osamu - Tsu...

Tsu - Tá tudo bem, Samu.

Atsumu respondeu pela última vez, antes que ficasse em silêncio, assim como todos dentro do carro. O clima ficava pesado a cada segundo, Sakusa se amaldiçoou por não ter escolhido ligar e pedir entrega de comida naquela tarde, sentia sua pele gelada, os olhos vagando pela janela, enquanto o som dos carros lutava com a voz em sua cabeça, conseguia sentir o calor emanar do corpo de Atsumu, estavam tão próximos e não poder tocá-lo como antes era insuportável, quis fugir, gritar, chorar, todo sentimento por Atsumu havia se tornado um turbilhão de coisas que não entendia.
Assim que o carro estacionou, plou para fora dele, agradecendo e se despedindo de forma breve do casal, sem direcionar uma palavra a Miya, andou para dentro do prédio, sumindo na escuridão.
Seis longos meses só serviram para provar que o amava ainda mais.

Continua?

cheeky blondeOnde histórias criam vida. Descubra agora