Quebrando regras

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— Capítulo 04 —

Atsumu não o havia visto na entrada, e começou a se sentir ansioso, com uma preocupação ganhando espaço em seu peito. Será que realmente havia afugentado o garoto de cabelos negros? Saiu de seu transe assim que uma apostila antigiu sua cabeça, olhou para trás com os olhos em chamas, apenas para encontrar o irmão que sinalizou com a cabeça para frente.
Assim que olhou para aquela direção, notou que parte da sala e a professora o olhavam, se sentou melhor na cadeira, engolindo a seco e recebeu uma bela bronca por não estar prestando atenção na aula, suspirou cansado, decidindo focar o resto de suas energias e neurônio no fim da aula.

Osamu - O que você tem?

Atsumu - Nada, por que?

Osamu - Por que? Eu tenho cara de trouxa, Tsu? Eu te conheco idiota.

Atsumu - Tsk. Eu só... - Começou para em seguida parar e suspirar - Você viu o garoto novo?

Osamu - Oh... você tá realmente preocupado? - riu da cara do irmão, levando um soco em seguida - Ok - respondeu passando a mão pelo local -  vou levar isso como o troco pela "apostilada"... Aí... Hun, não vi.

Atsumu - Será que eu fui muito inconveniente?

Suna - Sempre!

O castanho se intromeu na conversa. Porém foi totalmente ignorado.

Osamu - Não sei. Você foi?

Atsumu - Fui?

Osamu - Foi?

Atsumu - Não sei, fui?

Sakusa - O que vocês estão fazendo?

Suna - Ás vezes, ele bugam, eu chamo assim.

Sakusa apenas concordou com a cabeça, observando que os três tapavam as portas de entrada da quadra. Não queria parecer rude e mandar eles vazarem da frente dela, então permaneceu parado.

Sakusa - Bom dia, Rin, Samu e Peste.

Suna riu, Osamu respondeu o bom dia e Atsumu ficou com cara de tacho, querendo iniciar uma discussão que foi interrompida assim que Sakusa tocou seu braço para empurrá-lo da frente da porta e assim o meio-loiro notou que ele usava luvas.
O treino ocorreu como em todos os outros dias, muitos erros, gritos, entre pedidos de desculpa. Kita sempre buscava acalmar ambas as partes, em sua maioria o maior reclamão era Atsumu o melhor levantador da face do universo, o ban, ban, ban da parada o melhor... Bem, vocês entenderam. O capitão afirmava que todos estavam dando seu melhor e que ninguém muda de uma hora pra outra e ele deveria sossegar o facho. Depois de meia hora de farpas, decidiram dar uma pausa.
Sakusa se sentou no mesmo lugar de sempre, dessa vez com a garrafa de água em mãos e a pequena toalha gelada sobre a cabeça. Ouviu o piso chiar informando que alguém se aproximava, levantou o olhar para o dono dos sons, se deparando com olhos dourados de Atsumu, ele possuía um olhar penetrante, então virou o rosto, tentando fugir deles e notou que ele se sentaria a seu lado.

Atsumu - Eai.

Sakusa - Eai.

Atsumu se sentou em silêncio, o que por si só já havia sido estranho, passou a dividir seu olhar entre o moreno e a quadra, tentando disfarçar e falhando miseravelmente. Sakusa bufou.

Sakusa - O que você quer?

Atsumu - Hun. Desculpa perguntar, mas, por que você tava com luvas na entrada?

Sakusa - Germes.

Respondeu simplista, não acompanhou, mas o olhar do meio-loiro se manteve fixo em si. Atsumu tentou, tentou e tentou com seus dois neurônios traduzir o que ele havia dito.

Sakusa - Eu não gosto de sujeira de nenhuma forma, seila quantas pessoas tocaram nos lugares onde coloco minhas mãos. - acrescentou, bebendo mais um gole da água.

Atsumu - Ah, você é tipo um maluco da limpeza! - assim que a frase foi solta, se arrependeu, recebendo o olhar negro e as sobrancelhas unidas pra si. - Quer... quer dizer...

Sakusa - Eu entendi o que quis dizer.

Atsumu - Não era bem isso que eu queria dizer.

Sakusa - Não deixa de ser verdade. - deu os ombros, o outro se sentiu culpado, não queria ter soado rude. Suspirou.

Atsumu - Meu pai sempre dizia que eu deveria ser mais cuidadoso. - Disse tentando amenizar tudo. Sakusa virou o olhar para si novamente, a mente o levando para o dia que encontrou Atsumu, sem camisa e descalço no chão imundo do vestiário.

Sakusa - Ele tem razão, você tava descalço no vestiário.

Sua cara de nojo fez o meio loiro sorrir.

Atsumu - Ok. ok. você só me viu em um dia ruim... Quais são suas regras? Eu não quero quebrar elas.

Sakusa sorriu pequeno, se sentindo confortável pela primeira vez em muito tempo. Ninguém costumava se importar em perguntar qualquer coisa a ele, ainda mais se tratando dessa "mania maluca" como haviam apelidado em sua antiga escola. Sua família era outro exemplo, na primeira fala do loiro dizendo que queria um emprego para morar sozinho, seu pai se dispôs a pagar seus gastos e o chutou de casa - não queria parecer ingrato, claro, que não trabalhar lhe dava mais tempo para se dedicar a tudo que gostava e agradecia por tudo isso.
Mas em todos os lugares que aparecia de máscara ou luvas só haviam duas reações, e confie não era curiosidade e gentileza. Estavam mais pra medo de que ele tivesse uma doença contagiosa, ou que ele era "frescurento" demais. A pouco tempo havia começado um tratamento, sentiu que precisava a uma semana atrás, na noite que chegou em casa e tirou toda sua roupa, colocou para lavar, tomou banho e desifetou o apartamento... corredor e elevador do prédio.
Segundo sua terapeuta era bom falar sobre si mesmo, conhecer seus limites, e o que os outros poderiam ultrapassar, assim nunca estaria confuso ou inseguro consigo mesmo e sua condição - corrigiu ela, quando usou o termo doença.
Estava aliviado, ter alguém que lhe ouvisse era bem mais do que tinha em casa, as vezes, sentia um vazio em saber que ninguém de sua família de fato se importava consigo e suas coisas, mas não estava focando nisso no momento.
Sorriu para Atsumu, antes de se recompor e balançar a cabeça, expulsando memórias tristes e chatas
Começou a falar, notando que Atsumu prestava muita atenção em sua fala, pelo pouco tempo que conhecia o loiro, sabia que ele provavelmente não se lembraria delas, e teriam muitas brigas derivadas disso, eram bem diferentes...
Mas também mal sabia Sakusa que ele o faria quebrar todas suas próprias regras.

– Continua? –

cheeky blondeOnde histórias criam vida. Descubra agora