Eu só quero meu dia de folga.

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Estar ao lado de Sakusa depois de tanto tempo parecia uma piada de mal gosto do destino, deveria ter recusado a carona, dado uma desculpa qualquer, mas não o fez, talvez por querer estar perto dele novamente, mesmo sabendo que não eram nada mais. Lutava contra si para manter os olhos na janela acinzentada, ao invés de olhar para o único naquele carro que lhe interessava, o coração palpitando rápido e dolorido a cada batida, sentia o amargo do amor que acabou, ou melhor, amor que não havia diminuído um milímetro sequer, mesmo depois de tanto tempo. Suspirou aliviado quando o moreno bateu a porta do carro, entrando pelo portão do apartamento e sumindo na escuridão. Mas também sentiu tudo doer no peito quando nenhuma palavra fora direcionada a si. Era tão simples para Sakusa fingir que ele não existia? Ignorar tudo? Era tão fácil para ele seguir em frente?

Assim que o moreno desapareceu em meio a escuridão, Osamu foi o primeiro a suspirar, antes de se virar no banco do motorista para fitar o irmão, tendo o olhar atento de Suna consigo.

Osamu - Você ainda gosta dele.

Não era uma pergunta e Atsumu sabia disso, então permaneceu em silêncio esperando que ele continuasse.

Osamu - Se não fizer nada, nunca vão se resolver.

A risada irônica ecoou com certa dose de amargura pelo carro. Osamu não se lembrava de tudo que ele já havia feito? Todas as noites que passou em silêncio e preocupado?

Atsumu - Se eu não fizer? Eu já fiz tudo, Osamu, fiz muito mais do que deveria.

Suna - Olha, Tsu - se intrometeu o castanho se virando ao fitar o lhar preocupado e pedinte do namorado -
Sei que parece que o Omi não liga, mas vocês passaram por muitas coisas e além do mais... foi você quem sumiu sem dizer nada. Já pensou em como a cabeça dele ficou?

Atsumu - Você esperava que eu ficasse lá? Pra levar um pé na bunda?

Suna - Eu não. Mas tenho certeza que o Omi sim, pelo menos pra saber que vocês terminaram. Ele teve que deduzir sozinho que tudo tinha acabado, depois de te ligar e você ignorar. Eu teria te dado uns bons socos se fosse ele.

Osamu - O Rin tem razão, no lugar do Omi... eu não teria nem cabeça pra lidar com tudo.

Atsumu suspirou derrotado, vendo os dois se virarem pra frente, e ouvindo o carro dar partida.
O fim deles havia sido certo para Atsumu, depois de ver Sakusa agarrado com um outro cara qualquer - mesmo que agora soubesse que nunca houveram segundas intenções.
Atsumu não podia sequer beijá-lo sem permissão, e vê-lo tão perto de outra pessoa, mexeu com algo dentro de si. Aquilo havia doído mais do que conseguia imaginar. Depois de ver a cena, no mesmo momento se virou, voltando para o apartamento que praticamente dívida com o moreno, pegou tudo que era seu e saiu. Sem deixar nenhuma palavra de despedida ou explicação.
A raiva no início havia tomado conta de si, fora imaturo e infantil saindo assim, mas com o passar dos dias e uma última mensagem de Sakusa dizendo que não mandaria mais nada, apenas observou seu contato ser bloqueado.
Enquanto o ódio dava lugar a vergonha, se sentia patético, idiota, era o mais velho dos dois, mas havia agido como um adolescente
inconsequente e mimado. Depois que terminou o colégio entrou para um time oficial e ainda dava aulas no clube de vôlei da cidade para crianças - sempre gostou delas e segundo Osamu, era o lugar perfeito para bagunça - outra coisa que amava.
Faziam seis longos meses e apenas hoje depois de muito esforço conseguiu chamar por Sakusa sem gaguejar.

Seu irmão e cunhado tinham razão e ele sabia. Sempre viviam dizendo que uma hora ou outra os dois teriam que falar sobre o que aconteceu e colocar os pingos nos "i's". Até mesmo diziam que tinham certeza que voltariam a namorar.
Esse pensamento continuou na mente do ex-meio loiro, assim que entrou em seu apartamento e fechou a porta, deixando as chaves sobre a mesinha de entrada, tirou os sapatos, os casacos e sentiu a solidão lhe assolar. Suspirou seguindo para o banheiro, na clara intenção de tomar um banho, torcendo para que a água levasse todo sentimento embora.

Atsumu - Droga! Sakusa continua sendo o mesmo?

O dia amanheceu e Atsumu acordou com a mente a milhão, não sabia se estava ficando louco, mas torcia para que não. Passou o dia tentando se concentrar nas últimas tarefas que tinha de cumprir, antes que pudesse pegar suas tão esperadas férias.
Porém, o dia fora longo e cada coisa que fazia parecia pesar duas toneladas, sua mente a todo momento se lembrando da única pessoa que não queria. Fez tudo no modo automático, mas, assim que a tarde começou a cair, já conseguia sentir seus músculos relaxando, soltou um longo suspiro, enfim suas férias poderiam acontecer, mas se continuasse com os pensametos invasores, só tinha uma certeza, não teria paz para curtir.

Atsumu ‐ Merda, Samu. Merda, Sunarin.

Sussurrou para o nada, voltando para casa, tomou um banho demorado, e agora estava parado de pé, olhando para cima, de frente para o prédio de Sakusa. Suspirou algumas vezes e cogitou desistir por algumas também, mas não era de seu feitio, deu um passo a frente vendo o porteiro tão conhecido lhe cumprimentar, notou que ele não havia tocado no interfone que se encontrava a seu lado, deduziu que não havia avisado ao moreno que estava ali. O que lhe deu um pouco mais de confiança. Saber que ele não o esperaria dava um pouco mais de calma para sua mente, assim seria mais fácil - pelo menos era pelo que torcia.
Assim que bateu a porta ouviu a voz confusa e apressada do outro lado, deu um passo para trás, sentindo o coração gelar, assim que ela fora aberta.

Sakusa - Atsumu?

Questionou o moreno totalmente confuso. Atsumu se forçou a dizer.

Atsumu - Posso entrar? O porteiro não interfonou.

Foi direto ao ponto, informando o óbvio.

Sakusa - Eu não avisei que tínhamos... enfim, entra.

Abriu mais a porta, dando passagem ao moreno que adentrou tirando os sapatos e notando que algumas coisas ali se encontravam diferentes ou novas. Alguns quadros, plantas e brinquedos de cachorro? Se questionou em silêncio.

Sakusa - Você quer alguma coisa? Água, chá...

Atsumu - Não tudo bem, obrigado.

Sakusa - Então, se senta.

Retrucou, se sentando no sofá da sala, deixando uma distância considerável entre os dois. Atsumu se sentou, o clima não era dos melhores, olhava para um quadro sobre a estante quase vazia, onde haviam todos do antigo time, sentia falta daquela época. Seria engraçado se não fosse trágico, ver que seu futuro era um tanto quanto decepcionante, balançou a cabeça dispersando os pensamentos invasores e suspirou, olhando de soslaio o de cachos, tinha que resolver toda essa merda.
Sakusa transparência calma e tranquilidade, por fora. Estava se controlando para não ser rude, mesmo com sua mente se contorcendo em pensamentos maldosos. Queria saber logo porquê o ex-meio loiro estar ali, em sua sala, sem aviso previo, depois de uma breve farpada no carro do amigo... Olhava para baixo, enquanto o som baixo da tv ecoava pela sala, aquela partida de vôlei que esperou ansioso para assistir havia perdido toda magia assim que porta fora aberta, não havia notado, mas sua perna balançava incessantemente para cima e para baixo. Ouviu o suspiro alto de Atsumu, algumas vezes, antes que começasse a falar.
Fez uma nota mental, deveriam resolver toda aquela merda.

Continua?

cheeky blondeOnde histórias criam vida. Descubra agora