Kim Namjoon • TRIVIA:LOVE

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Oneshot por CatarinaGuilhermes

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Oneshot por CatarinaGuilhermes

Anjung Ri, 1 de junho de 2023.

Yoona, espero que não se assuste muito quando abrir essa carta.

Ela usava o mesmo cardigã colorido que você carregava nos braços na última vez que nos vemos. Ontem choveu por aqui e o semáforo de frente para o escritório estava quebrado. Gerou uma confusão imensa. O guarda de trânsito que divide o quarto comigo não parava de apitar para que os carros parassem e uma pedestre irritada bufou alto e, sem querer, afundou as botas em uma poça d'água.Yoona, espero que não se assuste muito quando abrir essa carta.

Faz tempo que penso sobre entrar em contato, mas julguei que seria esquisito aparecer do nada, depois de tantos meses sem dar notícias. Yoongi sempre me disse que meu maior problema era ponderar demais sobre situações que gritavam por atitudes e não por palavras bonitas. Ele esteve sempre certo.

Talvez você não se lembre de mim. Afinal, o universo pode ter se cansado da minha falta de praticidade e me transformado em um borrão na sua memória enquanto impregnava as minhas com as curvas do seu sorriso e as notas amadeiradas do seu perfume. Não seria absurdamente perturbador se de fato ao ler essa carta você arqueie a sobrancelha perguntando-se quem está falando?

Eu não a julgaria se me esquecesse, pois, não ofereci muitas oportunidades para ser lembrado pelos seus olhos.

Na verdade, não gosto tão assim de café gelado. Prefiro café quente, com açúcar e que desce queimando tudo. Odeio expresso e torta de limão, mas continuaria com os mesmos pedidos se isso me permitisse vê-la mais algumas vezes. A cafeteria na esquina de onde estou não tem uma moça bonita no balcão que conversa comigo sobre teorias conspiratórias e deixa meus pés mais próximos do chão.

Acho que você adivinhou de primeira que eu não era corretor nada. Me lançou um olhar tão desconfiado que senti até minha alma pegando fogo de vergonha. Mas você nunca me perguntou nada, nem mesmo quando os ônibus daquela rua passaram a carregar uma foto imensa da minha cara. Não sei se riu das minhas piadas por educação ou se conversava comigo apenas por me considerar maluco. Ainda que fosse tudo loucura da minha cabeça, eu não deveria ter desaparecido sem dizer nada, porque agora minhas entranhas se corroem querendo saber se quando nossos olhares se cruzavam era só eu que sentia a eletricidade subindo do centro da terra e envolvendo nós dois.

Eu deveria ter ligado para o número que você deixou na nota do muffim de blueberry antes de perdê-lo, como o idiota que sou, entre a papelada do meu alistamento. Aconteceu tudo muito rápido. Passei anos tentando ignorar essa obrigação. Então, maio chegou e os fios coloridos do meu cabelo, rapidamente, foram parar no chão. Não queria que tivesse sido assim, queria ter tido mais tempo para processar meus dias sem seu boa noite.

O pior de tudo é saber que eu sou o único culpado pela correria, pelo aperto na boca do estômago e pelo arrependimento que estão me tirando noites de sono agora. O mundo é dos bravos, afinal de contas. Sempre acreditei ser um deles até me perceber com a boca seca e as mãos suadas só de pensar em me encontrar com você.

Aqui no quartel não podemos sair para longas caminhadas ao redor do Rio Han, nem respirar fundo três vezes o ar da madrugada. As semanas de treinamento foram as piores, mas depois que aquele mês passou, o resto ficou mais aceitável. Me escolheram para as forças especiais, porque supõem que eu me daria bem planejando estratégias de ataque. A verdade é que não dou a mínima para nada disso. Só quero cumprir logo os vinte e um meses e descobrir se seus braços me aceitam de volta, por inteiro desta vez. Sem receios juvenis e meio-sorrisos inseguros.

Não quero mais ficar acordado pensando que deveria tê-la chamado para assistir ao filme sobre o qual você comentou durante uma semana inteira. Quero te comprar flores amarelas que combinem com seus casacos coloridos. Quero segurar suas mãos no meio da rua enquanto caminhamos até a próxima livraria. Não posso repor o tempo em que fiquei em silêncio e não te contei sobre o que sentia, mas posso fazer com que o futuro seja repleto de memórias que façam a espera ter valido a pena.

Não me ache muito maluco por aparecer sem avisar depois de todas essas semanas. Não tenho direito algum de pedir que espere por mim ou que me entenda, mas seria um prazer enorme receber uma resposta sua.

Aqui do quartel, dividindo minha rotina com um monte de gente que me conhece, mas que eu desconheço, a vida vai seguindo meio pacata. Sorte que o tempo ajeita tudo e deu uma desentortada nas minhas ideias. Eu e os meninos decidimos continuar o grupo quando sairmos daqui, mas algumas coisas serão diferentes. Quero passar mais tempo me preocupando com meu coração e com as pessoas que habitam nele. O caminho do prédio da Hybe, passando pelo café e terminando na sua casa é cheio de ruas de paralelepípedo, flores nas janelas e você. Quero mais tempo para poder atravessá-lo muitas vezes por dia.

Perdi seu número cinco meses atrás. A minha casa está vazia agora, pedi par Jackson checar se o papel havia caído por lá, mas ele não encontrou nada. Desisti milhões de vezes de te escrever essa carta, porque me parecia um pouco egoísta da minha parte aparecer assim, sem explicações, do mesmo modo como sumi. Não queria que a vida sedimentasse nós dois debaixo de camadas de arrependimentos, por isso, convenci o Jackson a te entregar esse pedido de desculpas. Espero que ele consiga encontrá-la.

Yoona, quero poder fazer parte do seu tempo também. Quando eu sair daqui, te procura e se tiver alguns minutos, te chamo para fazer parte do meu.

Com todo meu amor,

Kim Namjoon 

Com amor, BangtanOnde histórias criam vida. Descubra agora