I. Acho que você devia ter um diário

321 32 32
                                    




Crises existenciais sempre foram algo comum na vida de Atsumu. Pelo o que ele lembra, desde o ensino médio elas estavam lá, não era "nada de mais" até ele ficar uns 3 dias sem sair da cama e viver a base de doritos depois que o seu irmão gêmeo disse que iria estudar em uma cidade diferente da dele na faculdade — e convenhamos que fazer ensino médio não faz bem pra cabeça de ninguém também.

Depois disso, o que era frequente agora eram as idas a psicólogos e psiquiatras. Ele não se dava muito bem com as suas terapeutas até finalmente achar a certa depois de umas 4 —sempre muito exigente. Suas férias de verão foram marcadas por isso, pela sua psicóloga chamada Rosa, uma brasileira descendente de japoneses que havia se mudado para Tokyo havia alguns anos.

Rosa, a Deusa, segundo Atsumu, terminou a sua última sessão antes das aulas dele começarem na faculdade com:

- Acho que você devia ter um diário. - Atsumu deu uma risada alta.

- Não é por que eu sou gay que eu deveria ter um diário. - Falou cruzando os braços e as pernas ao mesmo tempo, lançando um olhar de convencido pra sua psicóloga, mas ela estava séria.

E era sério mesmo, segundo ela, escrever o que ele vivia no dia a dia ajudaria ele a deixar os acontecimentos dos dias no passado. Bem, depois disso a ideia não lhe pareceu tão ruim assim. Chegou em casa e caçou uma agenda sem datas definidas que ele havia comprado no primeiro colegial e que ele havia escrito apenas seu nome, sua capa era um vinho escuro costurada em uma imitação de couro. Mal ele sabia que aquele improviso contaria boa parte de sua história.


Seu primeiro dia de aula na faculdade estava chegando e o seu dormitório não parecia tão podre quanto ele achava que seria, bem, ele decidiu ignorar as manchas de origem duvidosa na parede ao lado da cama e na sua pequena escrivaninha. Ele postergou desfazer as suas malas e ficou fazendo testes do buzzfeed para ver que tipo de universitário ele era até ouvir a maçaneta da porta e um menino completamente descabelado e esbaforido entrar no quarto largando o que ele achava que eram ... 5 malas?

- Ufa, essa escada mata ein! - Disse dando uma risadinha. - Eu sou Yamaguchi Tadashi, acho que sou seu novo colega de quarto. - Sorriu humilde.

- Atsumu Miya. - Sorriu de volta alegre, ele estava precisando de gente nova e bom astral em sua vida, Yamaguchi pareceu vir em bom momento. - Eu já escolhi minha cama se não se importa. - Disse se levantando e caminhando até as suas duas malas que estavam bem no meio do quarto.

- Sem problema!

Ele e Yams, como ele preferia ser chamado já que Yamaguchi era um nome extremamente longo, conversavam normalidades e tentavam se conhecer melhor enquanto ambos desfaziam suas malas. Acabaram descobrindo que fariam o mesmo curso e que provavelmente estariam na mesma sala, e nossa, que alívio, um rosto conhecido nessa selva que todos falavam que era a faculdade seria muito conveniente.

Pendurados os cartazes, fotos e malas vazias em uma caixa embaixo da cama, Atsumu e Yamaguchi olhavam o quarto orgulhosos. O lado de Yams tinha várias fotos dele com um menino loiro alto de óculos, o que ele acreditava ser o seu namorado que ele tinha comentado enquanto arrumavam o quarto. Já o de Atsumu era menos sentimental, havia dois posters de filmes do Tarantino e uma foto com o seu irmão, Osamu.

Antes que pudessem sentar em suas camas escutaram batidas frenéticas em sua porta, mais como se fossem diversos socos extremamente fortes. Atsumu abriu a mesma rápido e olhou em volta e viu muitos, mas muitos universitários no corredor. Logo percebeu um menino baixinho com uma prancheta passando e praticamente socando cada uma das portas que tinha naquele corredor.

Escrevi Sobre VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora