─ O CASO DE THEODORE FENNEC ─

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Longe da segurança de casarões e afastando-se da familiaridade dos corvos, em algum lugar da cidade de Falland, estava Theodore Fennec, antes de ser encontrado perto do Crystal Falls, como uma história dentro da história.

uma história por trás da história.

Theodore se encontrava encolhido em um colchão surrado que fora jogado de qualquer forma em um quarto minúsculo, ansiava pelo filete de luz que se enfiava por baixo de uma porta de ferro robusta para ser iluminado.

"Aguente firme Theo."

O sussurro longínquo de sua mente alcançou seus ouvidos, podia ser um dos sintomas de estar em cativeiro, mas Theo não se importava mais com isso, afinal, era sua única fonte de consolo. Ele buscava um pouco de calor nas roupas que usava, estavam largas, sujas, e por sinal, nem eram dele, quase todos os dias consistiam em uma espera ansiosa por uma salvação.

Ele era constantemente vigiado por duas figuras que usavam macacões e máscaras, o viam através de uma janelinha na porta de ferro, que raramente era aberta.

Uma vez por semana ele era levado pelas duas figuras para tomar banho em um banheirinho coberto por azulejos brancos, a água estava sempre gelada, e ele tinha que se encolher para salvar um pouco de calor.

Tinha a comida levada uma vez por dia, um dos macacões ambulantes ㅡ Theo aprendera a diferenciá-los, embora não soubesse se isso ajudaria de alguma forma ㅡ levava para ele um prato com o que seria seu alimento para um dia todo. Mas o pior de tudo com toda certeza era o "Dia dos Remédios", que acontecia algumas vezes por semana. Nesse dia Theodore era visitado por um dos macacões, na maioria das vezes o mais calmo, que se postava com indiferença, de forma que Theo começou a pensar que talvez ele fosse apenas um macacão vazio, sem ninguém dentro, ele aparecia com seringas ou pílulas e o fazia tomá-los, depois esperava os sintomas começarem para poder anotar algo na prancheta, antes de poder lhe dar um antídoto. A consequência disso, por vezes, eram noites passando mal, seja lá o que houvesse naquilo, com certeza não servia para tratar pessoas.

Mas, apesar disso, era preferível ser medicado pelo macacão vazio do que pelo cheio, pois ele sim parecia esconder alguém, na visão de Theo, escondia alguém com a cara amassada por constante cólera.

A coisa toda piorou devido a um dia em que Theo se recusara a tomar os remédios.

Foi o macacão cheio quem foi medicá-lo, Theo já havia tomado comprimidos no dia anterior e estava passando mal, mal conseguia raciocinar. Mesmo assim, queriam que tomassem outro.

⎯ Levanta! ⎯ Ordenou com uma voz impaciente, Theo estava deitado no colchão, sem ter forças para se levantar, por mais que devesse. ⎯ Ande pirralho, eu não tenho o dia todo.

Mas ele não conseguia.

⎯ Acha que eu estou de brincadeira? ⎯ Com um puxar abrupto ele trouxe Theo para perto de si, fazendo o menino cambalear. Theo ainda se recusava a tomar os remédios.

Theodore não prestava atenção no que o homem dizia, se concentrava em impedir que o que ele pensava que ia acontecer, não acontecesse. Mas veio a ânsia mixórdia no estômago, e ele não conseguiu se conter, teve que vomitar aos pés do macacão. E o homem enfezado com a situação deu-lhe um tapa.

⎯ Seu filho da mãe! ⎯ Esbravejou.

Mesmo com as mãos de luvas de borracha, aquele tapa doeu em Theo como se pegasse fogo.

CORVO BASTARDO ⎯ outonos passadosOnde histórias criam vida. Descubra agora