─ PARTE DOIS: SUBITAMENTE PATERNO ─

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⎯ Aconteceu alguma coisa, Laysson? ⎯ A voz de Bárbara surgiu atrás de Peter, o fazendo voltar a realidade. A senhora ainda recebia os convidados na sala de jantar, mas não deixou de ficar curiosa quando a voz do filho simplesmente sumiu durante o telefonema.

Teresa, do outro lado da linha, também esperava por alguma resposta do homem, que simplesmente congelara depois de ouvir a notícia.

Muitas coisas sobrevoaram pela mente de Peter após saber sobre sua possível paternidade, mas nada que pudesse ajudá-lo naquele momento. Ele se virou bruscamente, conferindo se a mãe estava por perto, depois, voltou-se para o telefone.

⎯ Escute, Teresa, ⎯ sussurrou ⎯ estarei chegando assim que puder, não ligue de novo... Certo, até breve. ⎯ Pôs o telefone no gancho.

Aproveitou alguns poucos segundos de silêncio para apoiar as mãos em uma cômoda grande e organizar as ideias: coisas cheias de lapsos que zuniam no seu ouvido.

Ao ouvir a conversa que acontecia na sala ao lado Peter percebeu que não poderia se dar ao luxo de gerar suspeitas, por mais preocupante que a notícia fosse. Limpou o suor da testa, concertou o rosto e, pondo um falso sorriso despreocupado, andou até a sala de jantar ─ o coração silenciosamente colapsando no seu peito.

⎯ Aconteceu alguma coisa? ⎯ Barbará perguntou mais uma vez.

⎯ Não precisa se preocupar, mãe, não era nada importante. ⎯ Mentiu.

A ideia de matrimônio nunca me pareceu algo ruim, na verdade, sempre foi uma realidade que me instigava, inspirava, soe isso piegas ou não

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A ideia de matrimônio nunca me pareceu algo ruim, na verdade, sempre foi uma realidade que me instigava, inspirava, soe isso piegas ou não. Mas ser pai, obviamente, nunca esteve nos meus planos, por vários motivos. Curiosamente, as coisas continuavam a se bagunçar cada vez mais, e as alianças que comprei para Daphne acumulavam poeira no meu armário, enquanto eu esperava por uma criança no ventre de uma mulher pela qual sequer nutria algum sentimento.

Olhei milhares de vezes para Teresa, procurando algo que revelasse uma mentira, inutilmente, já que no fundo eu sabia que o filho era meu, de alguma maneira... naturalmente.

Posso reduzir meu relato aqui, pois os próximos meses foram marcados e divididos pela ansiedade da gravidez e os assuntos particulares do Casarão, e graças a isso os nove meses passaram voando. Quando a gravidez começou a gerar dificuldades, recorri à Senhora Morley (a proprietária da casa onde Teresa morava de aluguel) para acompanhá-la quando eu não pudesse estar lá.

Entretanto, tudo o que disse até aqui irá parecer enrolação, porque apenas agora vou narrar o momento mais importante de toda a minha vida, e ele não poderia ter chegado em hora mais inesperada...

13 DE MAIO DE 1934

Em uma tarde após o almoço o telefone tocou, e por sorte minha mãe não estava em casa na hora. Era a Senhora Morley quem havia telefonado, e explicou a situação rapidamente:

CORVO BASTARDO ⎯ outonos passadosOnde histórias criam vida. Descubra agora